Dias atrás,
ao ler o importante ALERTA feito por um amigo, sobre o perigo que estaria trazendo
às nossas crianças, o ponteiro do RELÓGIO SOLAR que há quase QUARENTA ANOS se
encontra localizado ali na Praça da Bandeira, lembrei-me de um episódio
familiar que aconteceu comigo ainda no século passado. Mas, como diz aquele burlesco ditado popular,
começarei do começo, ou seja, bem do princípio.
Era uma
tarde de sábado do mês de maio de 1996, quando fui com a família, gastar alguns
dindins na exposição. Lembro-me com certa precisão dessas datas pelo fato de
que alguns meses antes, em dezembro de 95, o Botafogo havia sido campeão
brasileiro e todos nós estávamos vestidos com a camisa oficial do clube.
Dessa
forma, subimos euforicamente o morro da Matriz pegando aquela carona básica em
nossa própria viação canela. As crianças,
mais ou menos com seus três e sete anos respectivamente, iam a nossa frente
brincando e nos dando aquela canseira tão típica da infância. Por sinal, nesta
época, eram da “PÁ VIRADA”.
A
expectativa para se chegar ao recinto da exposição era enorme, pois havia naquele
ano uma enorme Roda Gigante, os famosos Carrinhos de Batida, o Minhocão e outras
coisas mais.
Ao
passarmos na Praça da Bandeira, paramos pra descansar e, como havia muitas
crianças brincando no local, resolvemos deixar que as nossas interagissem e ficassem
também ali se divertindo por instantes. Momentos depois, começamos a observar
que algo no jardim estava causando certo impacto e deslumbramento na galerinha.
Era uma rodinha de cinco ou seis crianças que ali, um tanto curiosas, ficavam apenas
observando, até com certo respeito, a tal coisa. Interessante é que somente, admiravam. Nenhuma delas se aproximava totalmente, talvez
pelo simples fato da presença dos pais que ali estavam e, mesmo ao longe, tudo atentamente
acompanhavam.
Foi
quando minha filha, com seus sete aninhos, me chamou. Queria que eu explicasse a
ela e aos demais coleguinhas que coisa mais esquisita era aquilo sobre o
gramado. Confesso que fiquei meio confuso, pois, ao perceber que se tratava
daquele RELÓGIO SOLAR, sabia de antemão que não era muito entendido desses
assuntos. Como faria então para explicar para aquelas crianças, de maneira
prática, que aquilo seria apenas um método simples para medir o tempo e que as
horas seriam visualizadas dependendo de como a luz solar estivesse incidindo sobre
aquele ponteiro? Só sei que não poderia
deixar minha peteca cair e muito menos desapontar a curiosidade de minha
filhota. Dessa forma comecei a dar algumas tímidas explicações.
Numa
linguagem infantil, assim como era meu conhecimento do assunto, iniciei falando
de sua construção e um pouco de seus construtores. De que ali ao lado (apontei qual casa seria)
existia um lugar chamado OBSERVATÓRIO de nome COPÉRNICO e que, naquele local,
havia instrumentos chamados de LUNETAS que nos permitiam ver a LUA e as
ESTRELAS bem de pertinho, inclusive aqueles buraquinhos da lua e um lindo anel colorido
que existe em volta de um lugar chamado Saturno.
Até
sobre um COMETA, de nome difícil, chamado Kohoutek, que teria sido fotografado do
observatório em 1974 e saído em muitos jornais do Brasil, eu cheguei a
comentar. Segundo consta, foi talvez o único observatório a conseguir uma boa foto, pois,
ao contrário do restante do país, que ficou inteiramente nublado, aqui o céu permaneceu
aberto durante um bom tempo. Hoje fico pensando quantos de nossos jovens
nem ao menos chegaram a saber que um dia existiu tão significativo e bem
estruturado OBSERVATÓRIO em São João. Dizem
até que era um dos melhores do Brasil. Bem... Mas isso é outro assunto e
voltemos então àquela minha pequena aula a CÉU ABERTO.
Comecei
a observar que, a cada explicação, aqueles olhinhos arregalados e fascinados da
galerinha que ali estava, brilhavam cada vez mais e que a imaginação, tão típica
desta idade, ia dando lugar a uma incrível e lúdica viagem no espaço. Foi
quando pude sentir o quão importante e prazeroso é poder estimular o imaginário
de uma criança. Neste meio tempo,
algumas perguntas embaraçosas e divertidas começaram a surgir e entre elas:
COMO FARIA PRA CONSERTÁ-LO, EM CASO DE ESTRAGAR? NÃO HAVENDO SOL, COMO ELE IRIA FUNCIONAR?
E ali
ficamos por uns quarenta minutos, aprendendo, ensinando e interagindo. Interessante que, por nenhum momento, houve
uma maior aproximação por parte delas, ou seja, não subiram no ponteiro, muito
menos na base de concreto dos marcadores de hora e quase nada sobre a grama. A seguir, dirigimo-nos para a exposição e, na
euforia de se brincar em tantos brinquedos, por lá ficamos até quase anoitecer.
Quando
chegamos em casa, já bastante cansados, perguntei aos meninos de que mais
haviam gostado, pois, quem sabe, poderíamos voltar também no domingo. Imaginei que seria a Roda Gigante, o Carrinho
de Batida, poder colocar as mãos na cabeça das vaquinhas leiterias ou mesmo
degustar as maçãs do amor, churros, pipocas e tudo mais. Para minha surpresa, tive como resposta imediata
o pedido de poder novamente OLHAR O RELÓGIO DO SOL e voltar a ESCUTAR AQUELAS
HISTORIAS.
E assim,
dessa forma, ainda aconteceu por mais algumas vezes. até que o tempo passou, os
meninos cresceram e o misterioso relógio, mesmo sem atrasar um segundo sequer,
no tempo parou.
Pra
terminar, diria que, realmente, os momentos são outros. As crianças mudaram, os
pais mudaram, a educação mudou e nada mais é como antes. É melhor ou pior assim?
Não me caberia julgar e nem se quisesse
saberia dizer. Mas, de uma forma ou de outra, infelizmente, somos obrigados a
reconhecer que, também em circunstância de tudo isso, o RELÓGIO SOLAR tornou-se
um grande vilão. RATIFICAMOS nossa
opinião de que uma pequenina intervenção de segurança no PONTEIRO de chapa de
aço, ou mesmo a construção de algum tipo de OBSTÁCULO DE APROXIMAÇÃO, poderia
ser uma solução e que, dessa forma, entre umas e outras coisas, não houvesse
necessidade de simplesmente ter que apagá-lo do LOCAL e, principalmente, da nossa
HISTÓRIA.
Crônica
e foto: Serjão Missiaggia
Informações
sobre o cometa: Renatinho Spindola
Parabéns,Serjão,por mais este excelente texto com que nos brinda!
ResponderExcluirFALANDO NISSO SERIA UMA BOA SE MANDASSEM REFORMAR ESTE PATRIMÔNIO DA CIDADE AJA VISTO QUE ALGUNS PONTEIROS SE DESPRENDEU OU FOI ARRANCADO.
ResponderExcluirNunca tinha visto um relógio solar com este formato!
ResponderExcluirOlha só as modernidades estilosas de São João Nepomuceno...
Que praça é esta? Quando voltar à cidade quero conferir de perto esta obra de arte e utilidade.
Em tempos de politicamente correto e neuroticamente incerto, motoristas imprudentes e seus veículos são um perigo muito maior para as crianças do que o estático e pacato relógio solar.
Se há receio de incidentes, que a população sugira uma reforma no local. Além da manutenção no relógio, uma pequena e simpática cerca com pouco mais de um palmo de altura e distância da base de concreto já transmite o recado de que ali não é lugar para se transitar, preservando as crianças e o relógio.
De resto, é a atenção e acompanhamento dos pais que evita acidentes com crianças, não a retirada de patrimônio público ou grandes e feias grades.
Fiquei emocionada com seu texto. A cena passou em minha mente como se naquele dia estivesse presente. Sei que teria gostado de ouvir suas explicações.
ResponderExcluirAcredita que eu também nunca soube da existência deste relógio em São João? Quando aí voltar, quero conhecê-lo.
Caro Serjão.
ResponderExcluirMil desculpas; mas discordo. Como artista plástico, é uma micro escultura muito perigosa: e se alguém escorregar e bater com a cabeça na ponta do aço?...
Acho que as bregas cercas são bobagens, e que não resolveriam o grave problema que, felizmente, esse relógio de sol, ainda não provocou.
Cerca pequena, como Sylvio Bazote propõe acima (também peço desculpas a ele, por discordar), seria mais uma armadilha: alguém poderia tropeçar num simples cabo de aço esticado ao redor, e cair de cabeça naquela coisa, perigosíssima.
Minha proposta, também como artista, é diferente. Seria de outro relógio de sol no lugar, porém ampliado, e aquela parte pontuda de aço teria uns dois metros de altura, e os marcadores de sombra e hora, logicamente, ganhariam espaço grande, círculo maior ao redor, com a função dos marcadores aceitarem em sincronia a projeção da sombra a marcar as horas, em novo cálculo matemático, conforme altura da peça de aço.
Seria uma linda e grande escultura; e vcs aí em São João Nepomuceno, possuem dois grandes artistas que são da cidade, Flávio Vitói e Flávio Ferraz; e os dois poderiam achar solução para esse relógio de sol, que é extremamente perigoso.
Que o Sr.Prefeito da cidade e autoridades resolvam esse problema grave. São pagos para isso com o dinheiro de toda a população, e mais o dinheiro que chega dos Governos Federais e Estaduais.
Pode ser bonito (?), mas é relógio de sol propício a graves acidentes.
meu abraço, e nova desculpas.
César Brandão
wwww.cesarbrandao.com
A ideia de um relógio de sol maior é muito boa! Resolve o problema da segurança e não diminui a lúdica opção de ver a passagem do tempo, acrescentando uma opção turística à cidade.
ExcluirMandou bem, César!
Agradecemos a todos pelas manifestações, que foram da emoção às sugestões para a convivência harmoniosa entre arte e pessoas, história e atualidade, ameaças e possibilidades.
ResponderExcluirConcordo com o grau de "periculosidade" desse relógio. Mas estava eu lá tomando uma cerveja e observando as crianças brincando nesse enquanto seus pais também tomavam uma gelada sem sequer se preocupar com o que seus filhos estavam fazendo!
ResponderExcluirOlá! Sou Cláudio administrador do facebook https://www.facebook.com/felix.carbajal2011. Alguém sabe me informar quem construiu esse Relógio Solar?
ResponderExcluirDesde já, grato.
Prezado Cláudio,
ExcluirEnviamos as informações de que dispomos diretamente para a página Felix Carbajal in Memoriam.