Hoje vamos contar o ÚLTIMO episódio da história do nosso querido Vô Cavalheiro.
É certo que muitas outras façanhas do velho existem, mas esta em
particular nos encantava pois fala da CORAGEM, e de uma forma absolutamente
oposta a tudo aquilo a que estamos acostumados nos relatos e romances. A vó Pina nos contou o presente episódio,
posteriormente confirmado por uma testemunha do ocorrido...
Certo dia, o Vô voltava a cavalo para o curtume, que ele e o tio
Valentim haviam comprado após a desastrada venda da fazenda. Este curtume
ficava onde é hoje a terra dos herdeiros do Hildebrando. Era um sábado e no meio da estrada havia uma
vendinha onde os colonos faziam suas compras e aproveitavam para tomar cachaça.
Geralmente, ficavam todos bêbados.
Ao aproximar-se da vendinha, o vô observou uma movimentação estranha.
Aproximando-se, viu uma roda de pessoas circundando dois valentões conhecidos,
ambos bêbados e com facões nas mãos. Ninguém tinha coragem de meter-se na briga
e certamente alguém sairia morto ou muito ferido.
Para surpresa de todos, vô desceu do cavalo e foi em direção aos
brigões. O silêncio foi total, todos temendo o pior. Nosso avô, calmamente,
ficou entre os dois, abriu os braços, com as mãos espalmadas para cima. Por
longos minutos ninguém se mexeu: apenas silêncio e surpresa... Inesperadamente, os dois caminharam em
direção ao nosso avô e entregaram-lhe os facões. Foi um alívio geral e
uma salva de palmas ecoou!
Segundo o informante, que testemunhou o fato, o nosso avô até conseguiu
que os caras fizessem as pazes. Embora
faça parte daqueles causos de família que vão sendo oralmente transmitidos
através dos tempos, não temos motivo algum para duvidar da presente história,
pois, além de corajoso e pacífico, o velho possuía uma autoridade natural, sem
qualquer autoritarismo. Aliás, pudemos constatar isto no convívio que ele tinha
com os colonos ou qualquer pessoa. Na verdade, era uma pessoa altamente
respeitada, e até mesmo idolatrada, um líder nato, apesar da voz mansa.
Nosso avô tinha um espírito ZEN. Teria sido um grande budista. E outra coisa que impressiona é que, sem ter
sequer o primário completo, lia e escrevia bem. O jornal era sempre lido de
ponta a ponta. Conversava sobre qualquer assunto, inclusive política. Tivesse estudado um curso superior, é certo
que teríamos um excepcional profissional, talvez um engenheiro, ou um
cientista.
O fato da rua em frente à nossa casa ter recebido o nome de Cavalheiro
Verardo é mais do que um orgulho pra todos nós (a tia Dalva que o diga): é
também o reconhecimento do valor de um cidadão que não precisou se esforçar,
nem se vender, nem fingir nada. A
simples existência, o reto viver e a ação útil elevaram-no à condição de herói
e exemplo de vida.
Pesquisa: Serjão, com a colaboração de Antônio Dárcio e Kiko Missiaggia
Foto: Erce Tumerk, disponível em http://www.deviantart.com/art/Old-Farmer-II-102272697
Serjão, todos os capítulos revelaram bonita história de seu avô Cavalheiro Verardo; e essa última dele em frente aos facões, de braços estendidos e mãos espalmadas à espera das armas, é linda. Parabéns.
ResponderExcluirMeu abraço,
César
www.cesarbrandao.com
Obrigado Cezar! Confesso a você, que também, viajei bastante neste pequeno histórico sobre meu Vô Cavalheiro, aja vista, que ao contrario de meus irmãos, não tive a felicidade de conviver.
ResponderExcluirForte abraço
Serjão, as histórias do Vô Cavalheiro (se me permite assim dizer), carecia mesmo de registro. Conhecia-o através de Seu Tuninho, seu pai, que relatava com muito orgulho o fato de ter vivido, convivido e aprendido com ele.
ResponderExcluirAbraço!
Hélcio Velasco