Tá
legal: Deus morreu! – disse o Nietzsche.
Mas, e aí?
No momento
em que alguém diz que o Cara, o Todo-poderoso, o Criador do Universo já era e
(o que torna o fato relevante) a partir do momento em que muita gente acredita
nessa morte, podemos entender que NADA, mas nada mesmo, é sagrado a partir
daí...
Lembro-me
do meu pai, pessoa extremamente simples, que, provocado por um pretenso teólogo
que insistia em tentar convencê-lo de que o Inferno era aqui mesmo na Terra,
despedia-se sempre do interlocutor, dizendo:
- Dê um
abraço na Dona Capeta, sua esposa, e nos capetinhas do seus filhos!
Pegando
uma carona metafísica na lógica do sr. Irenio, podemos perceber que um mundo
sem a dimensão do sagrado é absolutamente LEVE, tão leve que se instaura no
mundo uma falta TOTAL de gravidade.
Dessa
forma, usando a raiz da palavra, é possível afirmar que nada mais é GRAVE. A filha engravida? Tudo bem: gravidez não é grave; o vovô e a
vovó vão cuidar do netinho. O filho está
usando drogas? Tudo bem: vamos invocar o Artigo 28 (da lei 11.343) e tá limpo!
E
assim, entre tapinhas e beijinhos, os atos das pessoas vão deixando de ter
CONSEQUÊNCIAS. É muito comum, nas
escolas, as mães se revoltarem nas reuniões de pais e mestres afirmando que “este
colégio é muito rígido, pois meu filho (vejam só!), para tirar boas notas, tem
que se matar de estudar!”. Ou seja, as
mães reclamam que a escola está obrigando os filhos a estudarem. Mas elas queriam o quê? Que se adaptasse um videogame em cada carteira
e fosse distribuído, a cada um, um McLanche Feliz com uma Coca de 500 ml?
Se você
quer cometer algum tipo de crime, o que, antigamente era PECADO e ILEGAL,
basta, atualmente, contratar um menor de 18 anos que fará o serviço e sairá
livre, não apenas SEM CULPA como também SEM PENA.
Então,
minha gente, se vocês têm saudades do Velho Deus, chamem os seus filhos e
netos, vão para a Internet e abram o site da organização Médicos sem
Fronteiras. O sagrado vai estar lá! No olhar perdido de centenas de milhares de
crianças severamente desnutridas pelo mundo afora.
Vão com
os seus entes queridos para a fila do SUS de suas cidades e surpreendam-se com
o sagrado desamparo dos velhos desesperados e sem perspectiva de vida digna.
Quem
sabe um choque de realidade não reative a nossa FÉ ou mesmo a certeza, como
dizia o Cazuza, de que “não me convidaram pra esta festa pobre que os homens
armaram...”
Crônica:
Jorge Marin
Desde quando crianças, amigo Jorge, víamos na imprensa fotos de crianças absurdamente desnutridas em países de pobreza extrema. E parece que, humanos, nada se fez para mudar isso. E Sr Irênio estava certo. E lembrando outra música: "troque seu cachorro por uma criança pobre". Ou acredite que "nada (...)é sagrado a partir daí..." como bem diz seu ótimo texto. Parabéns. César Brandão
ResponderExcluirAmigo, às vezes me assusta um pouco essa dessacralização de tudo, e, quando vejo essas crianças e esses velhos à mercê de uma sociedade que só deseja o próprio desejo, procuro, e consigo distinguir ele - o SAGRADO - que nada mais é do que a VIDA, ali desperdiçada naquele desespero.
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