quarta-feira, 5 de junho de 2013

BANDO DE FOFOQUEIROS!


Sobre um comentário feito pelo meu amigo César Brandão na matéria sobre a Rua do Sapo, surgiu essa reflexão sobre um hábito que vem se transformando e adquirindo proporções gigantescas: a FOFOCA.

A fofoca hoje saiu daquele âmbito cochichado das comadres das pequenas cidades e está em todo, mas TODO lugar mesmo, do Facebook às notícias policiais, das artes à política, das igrejas aos esportes e até na arqueologia, buscando fazer fofoca... do passado.

A coisa funciona assim: a pessoa está à toa na vida (lembram da Banda do Chico Buarque?) quando, de repente, passa um casal feliz, sorrindo, indo em direção ao trevo de São João Nepomuceno.  A pessoa, sozinha, percebe que eles estão felizes – e ela NÃO – e que estão compartilhando bons momentos – e ela NÃO.  Então a pessoa à toa chega a uma CONCLUSÃO espantosa, que surge como uma certeza absoluta: ELES SÓ PODEM ESTAR INDO FAZER ALGUMA COISA ERRADA!

Bom, mas se perguntamos: que coisa errada?, o fofoqueiro, pois aquela frase ali em cima É a fofoca, assume um ar de desentendido e, geralmente, fala:
- Não sei né, o que que você acha?  - insinuando tratar-se de alguma coisa imoral, ilegal ou que engorda, o que, nos dias de hoje, é imoral (também devido às fofocas).

Então, a dinâmica da fofoca funciona assim: TODO MUNDO TEM QUE FICAR IMUTÁVEL e, de preferência, imóvel, porque a mudança do Outro me incomoda terrivelmente.  E, se me incomoda, eu vou falar pra todo mundo que aquela pessoa em movimento não presta.

Agora, imaginem um Facebook, no qual pessoas às vezes passam oito, dez horas em frente ao computador, tendo o poder da palavra multiplicado para 500, 1.000 amigos?

O Neymar foi para o Barcelona, embolsou 40 milhões de euros, é um dos melhores jogadores de futebol do planeta.  Eu, que também já fui um craque no Pitomba, mas que, atualmente não ando jogando lá essas coisas, vou para o Face e... fofoco: olha, gente, o Neymar tem um primo lá em Mogi das Cruzes que está doente e vai para a fila do SUS.  Pronto, que absurdo, o cara é milionário e nem ajuda os parentes.  E o pior é que a pessoa que fofoca, também não está nem aí para os parentes.  E fica até parecendo que todo mundo tem que ser responsável pelo bem-estar dos parentes.

Mas a coisa é mais grave.  Um candidato a Prefeito vai para o horário político e fala: ih, gente, não votem na minha oponente não, porque tem um bando de gente do partido dela sendo julgados pelo STF.  Olha, não votem no outro oponente também não, porque ele fez umas obras ridículas na avenida principal da cidade.  E sabem o que acontece com esse fofoqueiro: é eleito!  O bom é que, agora, a gente pode fazer fofoca dele também.  

Fofoca é assim.  Venenosa.  Tu fazes, eles fazem, eu não!

Crônica: Jorge Marin
Foto: Misantropia, disponível em http://browse.deviantart.com/art/Gossip-137000920

4 comentários:

  1. Lembro-me de um amigo da adolescência, poeta cachaceiro (a ordem se invertia com frequência), que sempre que possível fazia questão de parar na rua com as pessoas que ele sabia ter falado mal dele pelas costas (às vezes pelos lados e até na frente) e repetia o ritual de parar a mais ou menos um passo de distância, inclinar o corpo para frente até sua cabeça chegar a aproximadamente um palmo de distância do rosto de fofoqueiro e, olhando bem no fundo dos olhos da pessoa, repetia sempre a mesma frase curta e grossa:
    "Neste mundo nunca vi coisa mais feia,
    Do que tanto vagabundo falando da vida alheia!"
    Virava então as costas num gesto meio teatral e estudado, sem falar ou ouvir mais nada e ia comemorar seu desagravo, lavando a alma com uma dose de pinga em algum boteco próximo.

    Momento Pitomba Cultural:
    Para complementar esse Tratado sobre a Fofoca, que na onda do politicamente correto também poderia se chamar Tratado sobre os Monitores da Vida Alheia, jogo mais lenha na fogueira (atitude típica de um fofoqueiro) e transcrevo trechos da Wikipédia sobre o conceito de fofoca:
    "A fofoca consiste no ato de fazer afirmações não baseadas em fatos concretos, especulando em relação à vida alheia.
    Embora associado a um hábito feminino, estatisticamente os homens são mais fofoqueiros. A Social Issues Research Centre, um centro de pesquisas independente de Londres, entrevistou 1.000 donos de telefones celulares com o intuito de saber qual era o teor das conversas. Destes, 33% dos homens eram fofoqueiros habituais, contra apenas 26% das mulheres.
    Em termos de conteúdo, pesquisa recente revelou apenas uma diferença significativa entre a fofoca masculina e feminina: os homens gastam muito mais tempo falando de si mesmos. Do tempo total dedicado à conversa sobre as relações sociais, os homens gastam dois terços falando sobre suas próprias relações, enquanto as mulheres só falam de si mesmos de um terço do tempo.
    Muitos dos participantes do sexo masculino desta pesquisa inicialmente alegaram que não fofocavam, enquanto quase a totalidade das mulheres prontamente admitiam fazer fofoca."

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    1. É isso mesmo, Sylvio, e mais: a fofoca não é apenas uma coisa feia, é uma forma velada de ódio. Não sei se você se lembra, mas, quando estudamos Reich, ele chamava a fofoca de PESTE EMOCIONAL. E ele era um visionário pois, atualmente, o próprio sistema capitalista se perpetua, e se autentica, à custa de muita fofoca.

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  2. Amigo Jorge Marin,

    Gostei bastante de seu texto sobre fofoca. Muito obrigado. Ao sair de bar hoje, falei com amigos que, agorinha mesmo, ao amanhecer, em baixo da janela de meu quarto, as três (des)graças de fofoqueiras da rua estarão criticando nosso prazer em conversar, temas sérios, sexta-feira à noite.

    Somos vagabundos, e eu que sou artista plástico, não passo de maluco que deve ser rico e mora em casa grande, cheia de coisas estranhas que chamam de arte... Isso é o que sempre ouço das fogueiras, quando acordo com o barulho que fazem!...

    A fofoca é arma de destruição, é a cobra oferecendo a maçã, para Eva e Adão serem expulsos do Paraíso, e a víbora fofoqueira habitar com as companheiras o lugar, e construírem o inferno.

    É o ciúme da vitória do outro, do sucesso do outro, da alegria do outro na vida... Enquanto outras vidas são o vazio.

    Que pena. A vida é tão curta. E, viciado na utopia, penso que seria tão bom se vivêssemos em comunhão absoluta esse presente que é a vida, nesse curto momento em lindo planeta chamado terra, dentro desse infinito universo maravilhoso e repleto de planetas...

    Mas sou apenas um maluco que se dedica às artes plásticas (na definição das fofoqueiras).

    E talvez elas estejam certas mesmo, pois sou um idealista incurável.

    Meu abraço,

    César Brandão
    www.cesarbrandao.com

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    1. Amigo Brandão,
      O escritor e médico Roberto Curi Hallal explica a fofoca dizendo que "as pessoas bem sucedidas em seus investimentos mobilizam angústia naqueles que estão endividados com o próprio desejo".
      E certamente essas fofocas que você escuta por se dedicar, com excepcional talento às artes plásticas, já foram ouvidas por Monet, Manet e Degas quando saíam pelos campos com suas telas debaixo do braço (hoje estão no Museu D'Orsay e custam milhões de euros). Abração.

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