sexta-feira, 28 de junho de 2013

UMA COPA INESQUECÍVEL


Seria uma baita injustiça de minha parte se, ao descer desta minha missão fotográfica no hospital e passar ao lado dessa incrível casa, não fizesse uma reverência e um breve comentário sobre ela.

Infinitas histórias eu teria pra contar, sendo que outras tantas já foram aqui mesmo no Blog narradas em postagem anterior (A Casa da Tia Irinéia).

Mas, aproveitando a interessante coincidência de que estávamos nessa mesma época do ano, ou seja, há 31 anos atrás (hoje estamos em plena Copa das Confederações) vivendo, eufórica e intensamente, aquela inesquecível Copa de 1982 na Espanha, é que irei focar meu comentário.  E, pra variar, não haveria melhor lugar para nos reunirmos e assistir aos jogos, que não fosse o famoso terraço da Tia Irinéia.

De maneira absolutamente apaixonante e até mesmo um tanto doentia (talvez em circunstância daquele fantástico time de Zico e companhia), subíamos para o terraço, tomados por uma forte emoção de patriotismo. Vivíamos numa época em que a situação política do país era bastante análoga com a que estamos vendo hoje, sendo que, talvez, em razão da COPA estar sendo disputada do outro lado do Atlântico, certa alienação da juventude realmente existia. Ao contrário do que estamos vivendo nos dias atuais, centenas de quilômetros ficavam a nos separar daquela COPA e a desviar nossa atenção da realidade. (CORRUPÇÃO, GASTOS EXORBITANTES DO DINHEIRO PUBLICO, ETC).

Mas, voltando ao terraço da Tia Irinéia, parecia mesmo que estávamos indo para uma verdadeira guerra, tal era o poderio de nossa pesada artilharia de fogos e foguetes. Muitas bandeiras, instrumentos musicais, velas, filtro solar e muita adrenalina faziam daquela laje uma verdadeira arquibancada, pra não dizer, campo de batalha.

Sinceramente, não saberia dizer o que mais VIBRAVA, principalmente na hora do gol. Confesso ainda suspeitar se realmente seríamos nós ou a velha laje da Tia Irinéia.  Mas... Que o lugar tremia pra caramba, não tenho a menor dúvida.
Hoje, diante de tamanha tecnologia a nos trazer imagens fantásticas recheadas de detalhes (já cheguei a ver um pequeno inseto na bola), fico a recordar de nossa megatelevisão de 14 polegadas em preto e branco, que permanecia em pleno sol, com uma imensa bucha de palha de aço na antena no intuito de se tentar melhorar um pouco mais a imagem. Isso para não dizer que era expressamente proibido passar próximo a ela devido às famosas interferências.

Na verdade, não estávamos nem aí pra essas dificuldades e tudo isso servia apenas para apimentar ainda mais aqueles encontros e nossa contagiante alegria. Pulos em cima, promessas em baixo.

E assim, a cada jogo, embalados pelo compasso daquele timaço, fomos atropelando cada adversário. Até que o fatídico dia chegaria e com ele aqueles três gols de Paolo Rossi. Era o Brasil caindo em campo e nós rolando escada abaixo. E lá se foi nosso belo carnaval dando lugar a um inesquecível silêncio sepulcral.

Lágrimas nos olhos, bandeiras enroladas e sonhos interrompidos. Descemos o morro e, ao sentarmos na praça do coronel pra que a ficha pudesse acabar de cair, ainda como se não bastasse, encontraríamos com nosso saudoso amigo Dolfo. Vindo em nossa direção com aquele “positivismo” tão peculiar dos Botafoguenses, dizia que a esperança seria a última a morrer e que estaria indo pra casa esperar o resultado do exame antidoping do adversário, pois somente assim se daria por vencido, concluiu ele.

E com ele, nossa ultima esperança também se foi! 

Crônica e foto: Serjão Missiaggia - junho 2013

2 comentários:

  1. Oi Serjão.
    Vejo que você resistiu aos blogs da vida e à Internet, mas não resistiu em publicar diretamente seu textos.
    Que bom! Agora temos dois ótimos cronistas pitombenses!

    Só os brasileiros que viveram na época da fatídica Copa de 1982 entendem a enorme frustração que ela significa. Foi a única vez que chorei por uma derrota da seleção brasileira, e fui acompanhado por muitos em suas casas e ruas. Assisti o jogo reunido com a família, na cada da minha avó, e lembro que na volta para minha casa, uma hora depois do fim do jogo, passava nas ruas por muita gente ainda chorando ou com os olhos vermelhos, vestindo camisas amarelas ou com bandeiras sobre os ombros, incrédulos ou inconformados com a injusta derrota. Parecia que tinham recebido a notícia da morte de um jovem amigo ou parente, daqueles cheios de vida e sonhos, com um brilhante futuro pela frente.
    A derrota daquela seleção marcou a vitória do futebol técnico e frio sobre o futebol arte e criativo. Depois de 1982 os jogos internacionais foram se tornando, gradativamente, mais truncados e disputados, com muita correria e pouca alegria.
    As gerações mais recentes não sentiram como era bom vez uma seleção que jogava com a mesma ousadia com que se jogava uma pelada de domingo, onde se arriscava desnecessariamente apenas pelo prazer de surpreender e humilhar um adversário.

    O Brasil já ganhou dois títulos e perdeu um depois daquela copa, mas para mim – e acredito que para todos os contemporâneos – aquele grito de campeão de 1982 ficará para sempre atravessado na garganta e no coração.
    Se o Telê Santana e o Waldir Peres não tivessem sido tão teimosos e ineficientes, quem sabe... enfim, bola pra frente!

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    1. Enfim, Sylvio, descobrimos o motivo pelo qual, quando o assunto é futebol, você acaba desconversando. Quer falar sobre isso?

      A questão é que, quando o assunto é esporte, pensamos que sempre temos que sair vitoriosos quando, na verdade, o que fica mesmo são as emoções envolvidas. Pergunte a qualquer botafoguense sobre o Campeonato Carioca de 1971!

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