quarta-feira, 24 de outubro de 2012

SALVE (ME) JORGE!


Começou a nova novela das nove!  Esta notícia, para mim, é o mesmo que dizer que vai ter uma briga de galos no Bairro São Benedito, ou seja, eu não tenho o menor esboço de curiosidade.  No entanto, como vivemos em sociedade e, o que é pior, conectados, começam a aparecer notícias e polêmicas e chamadas de um assunto sobre o qual não tenho o menor interesse.
Eis a polêmica: o blog de um bispo está conclamando o seu rebanho a boicotar a novela global porque a trama faria apologia a uma entidade do candomblé ao louvar o São Jorge que, no sincretismo, corresponderia à figura de Ogum.
Para combater as forças do mal, o dedicado bispo manda que sua emissora de TV reprise uma novela sobre o Rei Davi.  E tem mais: ainda segundo o líder evangélico, ao incluir no elenco da tal novela uma moça assumidamente homossexual, a trama iria fazer também uma apologia àquela “abominação”.
Pensando nessas imbecilidades todas, sou abordado na rua por uma moça com uma propaganda eleitoral dos candidatos do segundo turno: ela também se diz evangélica e explica que tenho que votar naquela pessoa porque a outra, não sei como ela sabe, tem uma conduta sexual imprópria.
Meu Deus, eu, do fundo do coração, não me importo nem um pouco que as pessoas sejam idiotas, mas, por que todo mundo resolve me tratar como um idiota?
Será que eu não tenho discernimento, aos 55 anos, para escolher a minha própria religião, ou não escolher religião nenhuma?  Será que eu não posso assistir uma referência artística a uma entidade de uma religião séria sem me transformar, automaticamente, em um macumbeiro destinado ao fogo dos infernos?  E, finalmente, será que, antes de votar no meu candidato, ou candidata, a prefeito (ou prefeita), vou ter que olhar no buraco da fechadura, para ver como cada um deles faz “a coisa”?  Só espero que nenhum dos dois, ao ser eleito, resolvam fazê-la conosco.
Mas, sendo tudo isso tão ridículo e até risível, por que a preocupação?  Por que refletir sobre o assunto?
Vou dizer o porquê: é que, por trás desses recadinhos estúpidos, e dessa notinhas vinculadas no Facebook, sobressai a figura tenebrosa da INTOLERÂNCIA!  Hoje, mandam não assistir a uma novela e a turba aceita; depois, mandam não votar no sexualmente incorreto, e o rebanho não vota.  Finalmente, como aconteceu em Bangladesh no mês passado, mandam incendiar o templo de outro religião, e a galera vai lá... e arrasa.  Sabem como é, o pastor mandou.  Como se a pessoa não estivesse morrendo de vontade de dar uma bordoada no cara “do outro time”!  Ou queimar aquela imagem!  Ou rasgar uma meia dúzia de livros heréticos.
Me ajudem aí, pessoal.  Se você querem extravasar a sua agressividade, a sua raiva, o seu ódio e a sua frustração, vão em frente!  Quebrem e queimem tudo e aproveitem para distribuir uns sopapos e uns rabos de arraia!  Mas, por favor, não se escondam atrás de uma religião, de uma conduta sexual supostamente correta ou até mesmo de uma pretensa limpeza da corrupção.
As palavras estão aí para apontar um caminho, não para justificar covardias!  Para quem não tem inteligência própria, o silêncio ainda é o melhor caminho.

Crônica: Jorge Marin
Foto: Disponível em http://www.exercitouniversal.com.br/

Um comentário:

  1. Como disse minha amada esposa, citando sua sábia mãe: "O que não acrescenta, tira!" Fica a dica para tirar da nossa vida o que não acrescenta.

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BRIGADU, GENTE!

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