Eu
andava meio desligado do cinema. O mundo
anda tão depressa e são tantos bits, zaps, carros de som e toques de celular
que a gente meio que mergulha na Matrix e se acha... perdido.
Quando
assisti a este filme de Woody Allen, “Meia-noite em Paris”, percebi muitas
coisas em comum com o estilo do BLOG e dos nossos seguidores: o protagonista
Gil (vivido por Owen Wilson, sem histrionismos) adora arte, literatura, Paris
na primavera e tem uma certeza, quase uma obsessão: a de que a vida nos anos 20
na capital francesa era o máximo de glamour e liberdade, da mesma forma que
nós, pitombenses, reverenciamos ao anos 70.
Aliás,
a abertura do filme é espetacular, com uma sucessão de cenas parisienses tão
belas e iluminadas, que nos faz esquecer o passado do diretor de fotografia, o
iraniano Darius Khondji, responsável por filmes sombrios como Seven e Aliens, a
Ressurreição.
Gil e
sua (oficialmente) amada Inez (Rachel McAdams) estão em Paris, com os pais da
moça, para comprarem alguns objetos para o enxoval dela e o que se percebe é
que, enquanto Gil é um sonhador e nostálgico, Inez é seca, prática e consumista
como convém a uma mulher moderna. O
sonho dele é morar em Paris; o dela é morar num bairro chique de Nova Iorque,
como seus pais.
Como
tais valores são inconciliáveis, numa noite em que Inez vai dançar com um amigo
chato e pedante (não no ponto de vista dela), Gil resolve dar um passeio
noturno e acaba se perdendo na cidade.
Cansado de tentar fazer os franceses prestarem informações em inglês,
senta-se nas escadarias de uma igreja e, ao soar das doze badaladas, é
convidado pelos passageiros de um Peugeot antigo a participar de uma festa na
noite parisiense. Só que com um detalhe:
a festa está acontecendo em 1920!
Desse
ponto em diante, o filme é um desfile de personagens da arte mundial: Scott e
Zelda Fitzgerald, Hemingway, Gertrude Stein (ótima performance de Kathy Bates),
Picasso, Dali, Cole Porter (ao vivo) e Luis Buñuel que recebe, de Gil, uma dica
sobre um possível filme (O Anjo Exterminador) e fica totalmente bolado em saber
por quê aquelas pessoas não saem da sala.
Na verdade, eu também sempre desconfiei que ele não sabia.
As
festas se sucedem e os personagens se entrelaçam com Hemingway dando conselhos
para Gil que, por sua vez, se apaixona pela namorada de Pablo Picasso, Adriana,
chegando a roubar um par de brincos de sua noiva para levar para o passado.
No final
o que o nosso personagem percebe é que, na verdade, assim como a sua
inquietação, também os personagens dos anos 20 têm um desejo secreto: viver na
Belle Époque do século anterior. Avançando
nos mecanismos do tempo, descobre-se que os artista do final do século XIX
iriam curtir mesmo era a Renascença.
Quando
percebe que a volta no tempo, ou a insatisfação com o momento presente, irão se
perpetuar, Gil retorna a Paris do presente e ainda tem tempo de levar um papo com algumas
mulheres do século atual, inclusive a mulher do ex-presidente francês.
Para
mim, Woody Allen faz uma direção irretocável, chique e emocionante. Quem não gosta desse gênero de filme, não há
nada a fazer. Mas quem gosta, adora.
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