quarta-feira, 31 de outubro de 2012

DE VOLTA À TABACARIA


De pé, em frente a tabacaria, espero o futuro
Sei que a morte vem antes pois não há mais tabuleta
E nem versos, e nem sinal do Esteves
Ou dos que estiveram por aqui.
É noite e o neon acende em línguas alienígenas
E a razia de drogados pirados e putas se instala
Não há motivos para a paz
E o céu, que já estava vazio, se apaga de vez
Com um eclipse e uma elipse de sujeitos (anjos?)
Já ocultos.

Miro um nirvana que não há como solicitar
Preciso de um silêncio que não sei como descrever
E anseio a paz de campos tão álvaros
Que pessoa alguma caligrafaria.

No entanto, que voz usar para pedir o que se não tem para dar?
Por qual meio obter o que não há a não ser no ar?
Dos mundos que pensamos das luzes com que nos alucinamos
Qual estrada seguir para não chegar ao já aprendido?
Cansado, ferido no ego por um diagnóstico
Atropelado por um discurso pedante e metafísico
Tento me equilibrar em sinédoques
Enquanto metalepses midiáticas denunciam meus cabelos brancos.

Não sou santo,
Fluxos de paixões viajam pelo meu peito
Na mão, um jeito de protesto
E, nos lábios cerrados, um ódio presente.

Mas o sinal amarela
O neon apaga
Passa, pela madrugada, um pedreiro
Caieiro?
E o silêncio lentamente se acaba...

Poesia: Jorge Marin
Foto:     Arto Revonkorpi, disponível em http://browse.deviantart.com/?q=TOBACCO+SHOP&offset=24#/d3mf02

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