segunda-feira, 29 de outubro de 2012

CASOS CASAS & detalhes

No dia 14 de julho de 1895, a cidade de São João Nepomuceno daria um passo que deveria colocá-la na vanguarda do progresso.  Naquela data era inaugurada na cidade a COMPANHIA FIAÇÃO E TECIDOS SARMENTO.  Seu fundador, o empresário de Rio Novo Daniel Sarmento já era proprietário da imponente Casa Sarmento & Cia, situada na Rua Coronel José Dutra, que, devido à existência daquela casa comercial ficou para sempre conhecida como RUA DO SARMENTO.
Para se ter uma ideia da importância daquela indústria, basta dizer que em São João, até então, não havia energia elétrica que, a princípio passou a servir a fábrica e a casa do Sr. Daniel.
Apesar de tantas realizações, já que foi também vereador e prefeito (agente-executivo), o Sr. Sarmento faleceu com apenas 44 anos de idade.  Mas, mesmo após sua morte, a indústria continuou se expandindo, chegando a ter mais de mil empregados.  A fábrica era tão grande e tinha uma influência tão determinante que o governador de Minas Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, em visita à indústria cunhou a célebre frase: "Ouvi dizer que São João era uma cidade com uma grande fábrica, mas hoje descubro que, na verdade, trata-se de uma fábrica com um grande cidade dentro de si."
Outra frase marcante, esta só para mim, foi quando a fábrica faliu.  Meu pai, que trabalhava na fiação, chegou em casa chorando e falou para a minha mãe, que trabalhava nas bobinas:
- É, a fábrica faliu!  E a minha mãe comentou, cabisbaixa:
- Acho que São João vai acabar.

Fotos: Serjão Missiaggia
Texto: Jorge Marin




19 comentários:

  1. Muito bem bolado este comentário sobre a Fábrica, história que o povo deve conhecer e que nossos pais suaram para ganhar o pão nosso de cada dia.Como disse Jorge Marin foi o coração da cidade.
    Meu pai trabalhou lá muitos anos, amava seu patrão como dizia na época e chorou quando ela faliu.

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    1. Esqueci de assinar:Edna Maria Missiaggia picorone e parabenizar ao Serjão e Jorge Marin pelo belo trabalho.
      Espero mais comentários.

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  2. Tambem, meu pai trabalhou neste estabelecimento 69 anos diretos.Eu tive o meu primeiro emprego aí tambem, o que deixa muito orgulhoso.Fui muito Feliz neste emprego.Obrigado a todos por nos trazer tão belas recordações.

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  3. Podemos comparar Daniel Sarmento,respeitando as devidas proporções,ao grande industrial Bernardo Mascarenhas que construiu a primeira hidrelétrica da América do Sul, situada próximo ao trevo de Matias, com o intuito de fornecer energia para sua Fábrica de tecidos.Parbéns pelo texto e fotos.Sérgio,tenho algumas fotos antigas da fábrica, tanto exterior como interior.Caso tenha interesse, eu te envio.Um abraço.Eduardo Ayupe.

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    1. Não é exagerado o seu comentário, Eduardo, pois, se fizermos as contas (Daniel Sarmento morreu em 17 de dezembro de 1908), vamos notar que esse notável empresário, que já era um bem sucedido comerciante, inaugurou a Fábrica com apenas 31 anos de idade! Ou seja, se não tivesse falecido 13 anos depois, só Deus sabe do que ele seria capaz.
      Quanto às suas fotos, temos o maior interesse e o maior orgulho em recebê-las e publicá-las. Abração.

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  4. Muito bem lembrado primo... meus pais também ficaram preocupados na época. Aliás o Capuana eram colegas de seção (a fiação) além de amigos, pescadores, cunhados e o melhor de tudo, nossos pais. E também a Dona Leonor e a Dona Olga, irmãs e também nossas admiráveis guerreiras e que para nossa honra, eram também nossas mães. Saudades. Lembro-me ainda as festas de Natal, os carrinhos de madeira que eu ganhava. Lembro-me ainda as festividades de Nossa Senhora Aparecida, cuja imagem reluzia na gruta existente lá dentro e lembro ainda, o pavor que eu tinha daquela imensa caixa d'agua existente ao lado da gruta que embora bem tampada e protegida me causava arrepios de medo. Rs.
    É primo, voce como sempre nos levando de volta a nossa infancia.

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    1. Isso mesmo, primo. E ainda tinha aquele Papai Noel barulhento (acho que era o Wolney Protásio), que, nas festas de Natal, fazia a alegria dos filhos dos operários (nós) e saíamos para brincar na pracinha que, se não me engano, tinha também uns patinhos.

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  5. O impacto da falência da Companhia Sarmento foi tão grande que minha geração que nasceu apos a sua falência não foi suficiente para formar uma turma completa em 1989 do Tiro de Guerra ocasionando seu fechamento por um período. Na época da falência da Sarmento muitos jovens sanjoanenses não se casaram, e muitos se mudaram de São João a procurar de novas oportunidades.

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    1. Muito interessante sua observação, Marcelo. Além do êxodo provocado pelo fechamento da Fábrica, principalmente para São Paulo, pode-se dizer que os que aqui ficaram não tinham ânimo para nada... nem para namorar. E, se a gente se lembrar que os anticoncepcionais não eram produtos muito difundidos na década de 1970, vamos comprovar essa teoria.

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  6. No auge do funcionamento da Fábrica de Tecidos Sarmento, a empresa foi cognominada de " a galinha dos ovos de ouro" da população sãojoanense,pois tudo girava,economicamente, à sua volta.Um fato a ser destacado é que,quando da falência da fábrica,toda a comunidade se uniu,doando alimentos às famílias dos operários, e a Sociedade São Vicente de Paulo teve uma participação importantíssima nessa triste ocasião.

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  7. Outro fato interessante, dizem que o Repórter Esso, jornal de destaque na época abriu com o seguinte destaque: Morre uma cidade no interior de Minas Gerais. Com isso abriu uma campanha de arrecadação de alimentos para as famílias sanjoanenses na cidade do Rio de Janeiro.

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  8. Lembrei-me de algo que me marcou emocionalmente pela vida toda. Pelos meus cálculos, teria, no máximo, dois anos de idade, talvez menos. A cena continua vivíssima em minha mente. Trata-se do seguinte: fomos levar uma marmita para
    nosso pai na fábrica. Certamente, ele fazia extra, pois a fábrica estava vazia. Após comer, colocou-me num daqueles carrinhos (diziam trolers) e empurrou-o por toda a fábrica. Recordo-me perfeitamente dos trilhos, do cheiro de fuligem, do salão no qual me disse que trabalhava.
    Recordo-me até do silêncio, já que os teares estavam parados e, por incrível que pareça, até da marmita.
    Poucas vezes, nestes 71 anos, sentado naquele carrinho empurrado pelo nosso pai, senti-me tão feliz e orgulhoso!!!!!
    Uma vez, disse-me que costumava fazer extra aos domingos, limpando a chaminé, com intuito de ganhar uns trocados para poder comprar meu presente de Natal.
    Certamente, era o que estava acontecendo.
    Fosse um cineasta, creio que seria capaz de refazer todo aquele momento com enorme realismo.
    Antonio Darcio Missiaggia

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    1. Dárcio,
      esse foi um dos comentários mais emocionantes já publicados aqui no Blog. Lendo o seu relato, foi como se assistíssemos àquela cena final do Cine Paradiso. Fazer o Blog vale a pena não porque somos lidos, mas por essas emoções afloradas. Obrigado!

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  9. Meu pai Barroso , minha mãe Nair, minhas tias e tio trabalharam com muito orgulho nesta fábrica até se aposentarem.
    Minha alegria era ficar sentada no degrau, próximo ao portão de entrada (final do passeio) e ali ficar observando as maquinas ,o barulho dos teares , o cheiro de algodão,enfim o entra e sai... Adorava qdo a sirene tocava e minha mãe apontava com outras dezenas e começava o bailado para pegar o cartão que ficava num quadro fixado na parede e introduzia-o naqueles Relógios de Ponto(recordo até hoje do seu barulho qdo puxava uma alavanca)e depois retornava com ele para o quadro....O momento gostoso era esperar minha mãe sair e irmos para casa felizes da vida......

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    1. Dorinha,
      é tão bonita esta relação que tínhamos com os empregadores dos nossos pais. Hoje as relações de trabalho ocorrem de uma forma tão brutal, desrespeitosa, de ambos os lados que quase ninguém tem orgulho do próprio trabalho. A gente dizia "meu pai/minha mãe trabalha na Fábrica" e eu achava que aquilo era motivo de muito orgulho. E continuo achando, até hoje.

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    2. De fato,era uma relação diferente!... Havia respeito, consideração e lealdade .
      Com que orgulho meu pai contava-me sobre a época em que trabalhou na Fábrica de Tecidos e sobre seu patrão. Dizia-me, que quando foi pedir demissão, pois iria para uma fazenda com meu avô e tio Gaby, seu patrão ficou desolado. Falou mesmo que não queria perder tão bom empregado, mas que compreendia ser melhor para a vida do pai e que, por isto, torcia para que tudo desse certo. E fez questão de deixar bem claro que, se pai arrependesse poderia voltar quando quisesse; um lugar na fábrica ele sempre teria. Isto deu mais coragem ao nosso pai , para iniciar uma nova vida - tinha garantia de emprego, caso não desse certo na fazenda. Foi uma tranquilidade para ele, pois nesta época, já estava casado e com dois filhos.

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  10. Esqueci de assinar.....rsrsrsrs
    DORINHA

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  11. Lindas fotos,lindo texto e lindos comentários. Parabéns!
    Inês.

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  12. Inês,
    Que bom que tenha conseguido! Com certeza, seus comentários, estarão nos enriquecendo muito.
    Pitomba Blog

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