sexta-feira, 22 de abril de 2011

O TOQUE

Frame do filme "Freud além da alma" extraído do Blog do Kley

Episódio 2 – A Sociedade do Anel

Na semana passada, sei que muitos se lembram (porque a primeira vez ninguém esquece), estávamos numa cena que nada deixava a dever ao famoso Inferno de Dante. Era como se, na placa do CEASM, estivesse estampada aquela terrível frase “Percam todas as esperanças, vós que entrais. Estamos todos no inferno.”
Voltemos então àquela cena: era uma fila de mais ou menos setenta pessoas. Até o Froide (lembram?), aquele mesmo do jogo do bicho, estava lá. E bem atrás do Juraci.
Com seu famoso “broquinho” de papel, ficava percorrendo a imensa fila, sempre à procura de possíveis apostadores. Se bem conheço o Froidão, seu comportamento estava mais para desespero do que, propriamente, para vontade de ganhar dinheiro.
Com raras exceções, todos estavam impecavelmente vestidos. Num sol de quase quarenta graus, pareciam estar numa recepção de casamento, aguardando somente o momento de cumprimentar a noiva.
Todos cheirosos. Quando passei próximo a eles é que pude sentir uma variedade enorme de perfumes. O local ao redor estava contagiado de inúmeras fragrâncias.
Segundo informações, todos que ali estavam eram marinheiros de primeira viagem.
Sendo assim, teve até um famoso apicultor da cidade que, mesmo ficando quase que o dia inteiro naquela imensa fila, não desagarrava, um só momento, de uma sinistra sacola. Segundo disseram, ali se encontravam dois litros de mel. Ao ser questionado, disse apenas que se tratava de um pequeno mimo para um dos médicos. Deixo a pergunta: teria sido desespero de causa? Propaganda do produto? Ou más intenções?
Mas, deixemos de lado nosso amigo da colmeia, e voltemos ao Juraci: como já havia dito anteriormente, eu nunca o havia visto lendo jornal. Pois, naquele dia, estava!!! E de cabeça pra baixo...
Quando retornei da padaria, é que pude observá-lo com mais calma, pois naquele momento, ele já havia atingido o interior da varanda e quase adentrava a temida porta da sala. Puxava um pequeno grupo, de mais ou menos umas oito ou nove pessoas.
Esta turma, que já havia alcançado com ele a varanda, mais parecia um monte de ovelhas acuadas e assustadas. Passavam a sensação de estarem presos num cercadinho a espera da tosquia. Não passava nem um alfinete, se é que vocês me entendem.
Enquanto isso Froide, num incansável vai e vem, e com o bendito “broquinho” na mão, não parava um instante sequer de subir e descer aquela imensa fila. Tentava falar do procedimento, achando que, se falasse naturalmente da “coisa”, ia facilitar. Não foi o que aconteceu. Todo mundo, quase que em coro, gritou: “não explica Froide; não, Froide!” E o bicheiro, finalmente, botou o bloquinho de apostas no bolso.
Juraci, então, não largava um só minuto do jornal. Insistia em ficar com aquele papel suado, totalmente aberto, bem em frente ao nariz. Pra ser sincero, até então eu achava que ele nem sabia ler.
Em seu estupor, e de forma totalmente inconsciente, nosso amigo acabou causando um tremendo tumulto na portaria, pois, além de esconder, de certa forma, o rosto, estava também obstruindo a porta de entrada. Ninguém entrava... Ninguém, muito menos, saía, pois o Juraci nem se deu conta que aqueles seus braços abertos, feito uma xícara, eram bem mais largos que a própria porta.
Segundo meus mais profundos estudos, concluo que se tratava de uma reação de defesa e de rejeição. Como alguém que não quisesse, por nada neste mundo, entrar pela aquela porta. Enfim, ele estava lá dentro: e agora, Juraci?
Não percam, na próxima semana, o estropiado de Taru, e a primeira visão dos “dedos mortais”, a aniquilação.

(Crônica: Serjão Missiaggia / Adaptação: Jorge Marin)

Um comentário:

  1. E quando um brincalhão que estava passando na calçada gritou:
    - Cuidando pessoal! C... de bêbado não tem dono!
    Foi o suficiente pra ter gente saindo de fininho pra curar ressaca em casa e voltar depois.

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