quarta-feira, 27 de abril de 2011

TÔ CANSADO!!!

Arte digital por Luanne Gasilla

Tem sido um tempo de estrelas cadentes. Às vezes, vou à janela, e vejo todas aquelas luzes. E fico pensando: vale a pena fazer um desejo? São tantos os desejos que poderiam ser feitos que, talvez, não houvesse tantos objetos de desejo disponíveis.
Volto para a inevitável televisão, falam da Era de Aquário, e chovem expressões como “equinócio vernal”, “zodíaco intelectual” ou “grande ano sideral”. Querem saber? Acho que envelheci de vez. Pois, se há uns quarenta anos atrás, este papo me interessava, hoje eu estou absolutamente cansado: não suporto mais essa conversa fiada de new age, de espíritos, gnomos, elementais e astrais. Não consigo sequer passar em frente a uma livraria com aqueles compêndios de autoajuda, bem como estou absolutamente enjoado destes livros de gurus, padres, médiuns e técnicos bem sucedidos.
Parece que, nos dias de hoje, tem um manual pra tudo. Quer ser bem sucedido no amor? Temos trocentos livros explicando, desde a arte de seduzir, até como dar presentes, como falar palavras doces depois do orgasmo, como superar a monotonia, como encontrar sua alma gêmea e até um DVD do Kama Sutra com trilha sonora da Lady Gaga.
Ranzinza, rabugento. Acho que estas são as características que tanto apliquei ao meu avô, e que agora estou incorporando. Mas, não sei se é uma coisa só minha. Alguns de vocês também não suportam mais ouvir estas notícias sobre políticos corruptos? Ou escutar estas análises de “especialistas” falando sobre homicidas e pedófilos? Poxa, a gente é obrigado a assistir a uma barbaridade do tipo ocorrido há duas semanas, naquela escola do Rio. Depois, vem um “especialista” explicar o motivo daquela ocorrência: diz que o assassino veio de um lar desagregado, que era maltratado na infância e, pasmem, explicando como funcionava a mente do atirador. Ora, como é que um psiquiatra pode saber como funcionava a mente daquela pessoa? Ele não deve saber nem como funciona a própria mente. E mais: pra que é que eu quero saber uma coisa dessas? É ou não é unir o inútil ao desagradável?
A verdade é que estamos perdendo o contato com a natureza. Coisas como contemplar a lua, ou namorar na praça, ou mesmo bater papo na beira do córrego estão totalmente fora do contexto. Com isto, vamos nos intelectualizando cada vez mais. Vamos tendo necessidade dessas “explicações” fajutas, que podem até estar corretas de acordo com o discurso no qual estão baseadas, mas são dispensáveis, desnecessárias e inoportunas.
Quando temos oportunidade de observar o por do sol numa praia, ou um amanhecer num dia de inverno, ou o brilho do olhar de alguma pessoa na rua, ou o movimento e o cantar de um pássaro, não se trata absolutamente de romantismo, mas de uma educação para o olhar, e também para a audição.
Porque, por incrível que pareça, acabamos perdendo estas habilidades tão primárias, e tão necessárias ao convívio. Para assistir a um por do sol na praia, por exemplo, só com algumas cervejas na cabeça. E é preciso reaprender esta arte, esta contemplar-te! Pois estamos perdendo a habilidade de contemplar as coisas da forma que elas são. Quando vemos uma árvore, por exemplo, vemos uma palavra, que pode ser “árvore” mesmo ou “figueira”, mas nunca a coisa em si, a entidade com seiva, galhos, raízes e vida.
Uma vez eu ouvi uma história de um mestre que costumava falar a cada manhã para os seus discípulos, que escutavam, maravilhadas, aqueles ensinamentos. Certo dia, quando o mestre já ia iniciar seu discurso, entrou pela janela, um passarinho e cantou a plenos pulmões. E cantou, e cantou muito mesmo. Até que, cansado, saiu voando pela janela. O velho mestre levantou-se e disse: “bem, o sermão desta manhã acabou!”
Amanhã é aniversário do blog. São dois anos sentados por aqui, ouvindo algum passarinho cantar. Obrigado pela companhia.

(Crônica: Jorge Marin)

3 comentários:

  1. Talvez por estarmos na era da informacao muitas pessoas acreditem que tudo pode e deve ser explicado e racionalizado. A vida é totalmente irracional. Por que estamos nos esquecendo disso?

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  2. Concordo plenamente com você Jorge.Tenho prestado mais atenção no q vejo na tv ou no q está em minha volta.As vezes fico até mesmo indignada com o q vejo,e digo sempre me recuso a ver isto e troco de canal.Parece q o assunto não acaba mais.Esta semana mesmo todos os dias vimos noticias de mães q jogarm crianças no lixo,ou abandoraram em algum lugar,começam a procurar quem é a mãe.Tem q saber não,entrega logo para quem quer adorar,aposto q ela será mai feliz.Acho mesmo q ficamos velhos.....Beijos

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  3. Jorge. De tudo o que comentou, o que mais chamou minha atenção foi sua afirmativa de que estamos unindo o “inútil ao desagradável” ao ficarmos procurando explicações e detalhes dispensáveis nos meios de comunicação sobre fatos que consideramos desagradáveis. Na minha opinião é mais fácil viver em uma sociedade onde as regras são “preto no branco” do que esta imensa área cinzenta e indefinida em que vivemos atualmente, onde tudo é relativo ou questionável e nenhuma atitude concreta é realizada para gerar um resultado visível. Os filhos estão matando os pais porque querem dinheiro e conforto rápido? As mães jogam os filhos no lixo porque não querem criá-los e acreditam que colocá-los para adoção dá muito trabalho ou vai lhe render uma má fama entre os conhecidos? E o que foi feito de concreto para punir de forma exemplar quem fez isso e apoiar outras pessoas para evitar que outros eventos semelhantes aconteçam? É muita falação e pouca ação! Parece que nós adultos estamos cada vez mais burros ou covardes para tomar alguma atitude, mesmo que os resultados não sejam tão bons quanto os desejados, no sentido de tentar corrigir um problema.
    De todas as polêmicas recentes, a que mais me irrita é o tal do “bullying”. Como se isso fosse alguma novidade e todos nós, em nossa época de escola não tivéssemos vivido ou presenciado diversas ocasiões em que intimidações físicas e verbais foram usadas. Colocam um termo em inglês em um comportamento tão antigo quanto o rascunho da Bíblia e acham que estão lidando com algo moderno. No ginásio por várias vezes tive que chamar dois ou três amigos na saída da aula para evitar apanhar daquele tradicional grupo de três ou quatro valentões que achavam legal ficar enchendo e humilhando uns e outros. Esperava professores para andar com eles ou achava outra solução. Às vezes tinha que sair com pedras na mão ou deixar claro que se eu apanhasse naquele dia, no dia seguinte estaria na diretora com o nome de todos eles. Se me chamavam de covarde, dizia que covardes eram eles que ficavam em grupos enchendo os outros, levava uns empurrões e os valentões iam procurar outro fracote mais manso para encher e por aí vai. Os esfregões que levei de uns e outros não foram agradáveis e nem me mataram, também não me tornei um maluco matando todo mundo por aí. Do mesmo jeito, minha mãe me desceu o chinelo e correão em algumas ocasiões e eu me não me dissolvi em traumas e lágrimas pelo resto da vida. É muita intelectualização fresca!
    Cada vez mais sou a favor de uma fórmula simples e eficiente para resolver qualquer problema: uma conversa para entender e explicar seguida de outra conversa para entender e avisar e, a partir de então, descer o porrete até o problema acabar. Pode não ser bonito, mas na maioria das vezes funciona e, se não funcionar não é pior do que esta constante discussão sobre o sexo dos anjos que não leva a lugar nenhum! Jogo sem regras não tem vencedor e é mais fácil para todos viver em um ambiente onde os limites são bem definidos.
    Não são os jovens de hoje que estão mais violentos, são os adultos que estão mais fracos!
    Sylvio.

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