Um
leitor me questionou, no sábado passado, por que não comentei nada, na minha
coluna da última sexta-feira, sobre o assassinato da vereadora carioca Marielle
Franco. Tive que ter a humildade de reconhecer que não sabia absolutamente nada
sobre a moça que, depois li no noticiário, foi morta no centro do Rio de
Janeiro com quatro tiros na cabeça. A balística revelou que a munição utilizada
no crime era de um lote vendido à PM em 2006, mas, segundo o Ministro da Segurança
Raul Jungmann, roubado na sede dos correios da Paraíba, fato posteriormente
negado pela diretoria dos correios.
Bom,
mas duas coisas ficaram claras pra mim: a primeira é que a Marielle foi executada
por uma equipe treinada para esse fim, e a segunda é que, nesse crime, ela é a
VÍTIMA, junto com seu motorista.
Por
que faço questão de afirmar essa obviedade? É porque, já no sábado passado,
passei a receber um monte de mensagens, na página do Pitomba, no meu zap e por
e-mail, de pessoas julgando (e até mesmo condenando) a vítima, que, naquela
altura dos acontecimentos, já estava enterrada.
Me
preocupa o fato de tantas pessoas estarem tentando justificar o ocorrido e, o
que é pior, imputando coisas terríveis à falecida. Uma das mensagens que recebi
dizia que ela “não é essa santinha que estão falando” pois teria engravidado
aos dezesseis anos. Bom, pra início de conversa, se ela iria completar 38 anos
neste ano e a filha tem 19, matematicamente ela NÃO engravidou aos 16. Mas, supondo
que sim, que tivesse engravidado aos 16, ou 15, ou menos, isso seria motivo
para ser considerada culpada de alguma coisa ou merecedora de assassinato?
Postagens
diziam que a morta fora casada com um traficante e outras que ela era casada
com uma mulher. E tudo isso num tom condenatório como se pessoas nessas
condições tivessem igualmente que ser eliminadas.
Aí
começaram a chegar as mensagens cínicas: “ah, mas as pessoas estão morrendo o
tempo todo no Rio. Qual a diferença entre a morte das pessoas que morrem e
DESSA AÍ?”. A diferença, minha gente, é que, embora todas as vidas perdidas
sejam preciosas, essa moça morreu, não por uma bala perdida, mas por uma rajada
de baladas bem apontadas e bem direcionadas para a sua cabeça por causa das
suas opiniões, convicções e trabalhos políticos.
E
isso é uma coisa que NÃO PODE acontecer num estado de direito. Porque uma coisa
é você não concordar com o seu vizinho, porque ele é petista, ou porque ele é
coxinha, ou porque ele é homofóbico, ou porque é gay. Outra coisa é você achar
que ele não tem o direito de ser qualquer uma dessas coisas e, pior, torcer pra
que, sendo diferente do que você ACHA que é o certo, mereça morrer e, depois de
morto, ainda condenado e execrado publicamente.
Importante
é deixar claro que, dentro da balbúrdia e das relações conflituosas PRÓPRIAS da
democracia, a dignidade da pessoa humana, a vida que recebemos e a harmonia da
convivência DEVEM vir em primeiro lugar, bem à frente do ódio, da intolerância
e da fofoca.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : disponível em https://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2018/03/5522424-vereadora-marielle-franco-e-morta-no-estacio.html#foto=1
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