sexta-feira, 23 de março de 2018

UM PAPO SOBRE MARIELLE... FRANCO!



Um leitor me questionou, no sábado passado, por que não comentei nada, na minha coluna da última sexta-feira, sobre o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco. Tive que ter a humildade de reconhecer que não sabia absolutamente nada sobre a moça que, depois li no noticiário, foi morta no centro do Rio de Janeiro com quatro tiros na cabeça. A balística revelou que a munição utilizada no crime era de um lote vendido à PM em 2006, mas, segundo o Ministro da Segurança Raul Jungmann, roubado na sede dos correios da Paraíba, fato posteriormente negado pela diretoria dos correios.

Bom, mas duas coisas ficaram claras pra mim: a primeira é que a Marielle foi executada por uma equipe treinada para esse fim, e a segunda é que, nesse crime, ela é a VÍTIMA, junto com seu motorista.

Por que faço questão de afirmar essa obviedade? É porque, já no sábado passado, passei a receber um monte de mensagens, na página do Pitomba, no meu zap e por e-mail, de pessoas julgando (e até mesmo condenando) a vítima, que, naquela altura dos acontecimentos, já estava enterrada.

Me preocupa o fato de tantas pessoas estarem tentando justificar o ocorrido e, o que é pior, imputando coisas terríveis à falecida. Uma das mensagens que recebi dizia que ela “não é essa santinha que estão falando” pois teria engravidado aos dezesseis anos. Bom, pra início de conversa, se ela iria completar 38 anos neste ano e a filha tem 19, matematicamente ela NÃO engravidou aos 16. Mas, supondo que sim, que tivesse engravidado aos 16, ou 15, ou menos, isso seria motivo para ser considerada culpada de alguma coisa ou merecedora de assassinato?

Postagens diziam que a morta fora casada com um traficante e outras que ela era casada com uma mulher. E tudo isso num tom condenatório como se pessoas nessas condições tivessem igualmente que ser eliminadas.

Aí começaram a chegar as mensagens cínicas: “ah, mas as pessoas estão morrendo o tempo todo no Rio. Qual a diferença entre a morte das pessoas que morrem e DESSA AÍ?”. A diferença, minha gente, é que, embora todas as vidas perdidas sejam preciosas, essa moça morreu, não por uma bala perdida, mas por uma rajada de baladas bem apontadas e bem direcionadas para a sua cabeça por causa das suas opiniões, convicções e trabalhos políticos.

E isso é uma coisa que NÃO PODE acontecer num estado de direito. Porque uma coisa é você não concordar com o seu vizinho, porque ele é petista, ou porque ele é coxinha, ou porque ele é homofóbico, ou porque é gay. Outra coisa é você achar que ele não tem o direito de ser qualquer uma dessas coisas e, pior, torcer pra que, sendo diferente do que você ACHA que é o certo, mereça morrer e, depois de morto, ainda condenado e execrado publicamente.

Importante é deixar claro que, dentro da balbúrdia e das relações conflituosas PRÓPRIAS da democracia, a dignidade da pessoa humana, a vida que recebemos e a harmonia da convivência DEVEM vir em primeiro lugar, bem à frente do ódio, da intolerância e da fofoca.

Crônica: Jorge Marin

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