Mulher,
mais do que um bicho esquisito (como nos ensina Rita Lee), é um mistério que
intriga, encanta, inspira e mexe com a vida de todos os homens, e mais ainda
com a vida de todas as mulheres também. Por isso, me encantei de cara com Lady Bird, um filme que mostra as dores
e delícias da vida de uma adolescente no ano 2002 (um ano palíndromo como ela
define) na cidade de Sacramento.
Apesar
de ser a capital do estado da Califórnia, Sacramento é assim meio parecida com
Juiz de Fora, pelo tamanho, número de habitantes e, principalmente, pelo seu
provincianismo. A heroína, se é que pode ser chamada assim, vive dizendo que
não suporta viver naquela roça, da mesma forma que dizíamos de São João quando
éramos estudantes, e depois de Juiz de Fora quando começávamos a frequentar a
universidade.
No
entanto, a diretora do colégio de freiras onde Christine (nome real de Lady
Bird) estuda chega a elogiar a redação dela, dizendo: “eu não sabia que você
ama tanto a sua cidade”. Quando Christine responde que ela apenas presta
atenção, a freira responde: “atenção e amor não são a mesma coisa”?
O
meu objetivo aqui não é propriamente fazer uma crítica do filme, mas dizer que,
ao assistir, fiquei profundamente impressionado como nós, meninos e homens,
conhecemos tão pouco do universo feminino. Sempre contamos os nossos feitos, as
nossas conquistas e realizações, bebedeiras e bagunças tipo “somos fodões” e
nem por um minuto paramos para pensar que as meninas e mulheres passam pelas
mesmas emoções, alegrias, prazeres e horrores que nós passamos, e nem por um
momento se julgam as tais.
Lady
Bird se apaixona por um colega do teatro escolar, decepciona-se com ele, tem
uma fidelidade canina à sua melhor amiga Julie, depois a esnoba com a
patricinha Jenna, depois volta para a amiga, enquanto inicia sua vida sexual
com o segundo ficante. Mas, quem espera alguma explosão de afetos nestas
experiências, vai ficar decepcionado, pois a adolescência de Christine é tão
sem graça como a da maioria de nós, embora façamos questão de afirmar todos os
dias como eram maravilhosos “os bons tempos”.
Na
verdade, o que me impressionou no filme foi exatamente isso: passamos a vida
adulta e a velhice dizendo que a juventude foi a melhor fase das nossas vidas,
que o que era bom não volta mais e outras frases parecidas. Quando o filme
acaba – o Lady Bird – descobrimos que todos nós, meninas e meninos, nos
divertimos muito, é verdade, mas passamos por apertos inconfessáveis, dores
absurdas e dúvidas que, até hoje, persistem em nossas mentes.
Trata-se
de um filme imperdível para todos nós que chegamos até aqui, tentando
transformar nossas vidas em filmes, mas, em algum momento, deixamos de
acreditar no enredo.
Crônica:
Jorge Marin
Foto :
Merie Wallace, disponível em https://www.nytimes.com/interactive/2018/01/12/briefing/12weeklynewsquiz.html
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