sexta-feira, 16 de março de 2018

LADY BIRD: UM FILME PARA ADOLESCENTES... DE TODOS OS TEMPOS


Mulher, mais do que um bicho esquisito (como nos ensina Rita Lee), é um mistério que intriga, encanta, inspira e mexe com a vida de todos os homens, e mais ainda com a vida de todas as mulheres também. Por isso, me encantei de cara com Lady Bird, um filme que mostra as dores e delícias da vida de uma adolescente no ano 2002 (um ano palíndromo como ela define) na cidade de Sacramento.

Apesar de ser a capital do estado da Califórnia, Sacramento é assim meio parecida com Juiz de Fora, pelo tamanho, número de habitantes e, principalmente, pelo seu provincianismo. A heroína, se é que pode ser chamada assim, vive dizendo que não suporta viver naquela roça, da mesma forma que dizíamos de São João quando éramos estudantes, e depois de Juiz de Fora quando começávamos a frequentar a universidade.

No entanto, a diretora do colégio de freiras onde Christine (nome real de Lady Bird) estuda chega a elogiar a redação dela, dizendo: “eu não sabia que você ama tanto a sua cidade”. Quando Christine responde que ela apenas presta atenção, a freira responde: “atenção e amor não são a mesma coisa”?

O meu objetivo aqui não é propriamente fazer uma crítica do filme, mas dizer que, ao assistir, fiquei profundamente impressionado como nós, meninos e homens, conhecemos tão pouco do universo feminino. Sempre contamos os nossos feitos, as nossas conquistas e realizações, bebedeiras e bagunças tipo “somos fodões” e nem por um minuto paramos para pensar que as meninas e mulheres passam pelas mesmas emoções, alegrias, prazeres e horrores que nós passamos, e nem por um momento se julgam as tais.

Lady Bird se apaixona por um colega do teatro escolar, decepciona-se com ele, tem uma fidelidade canina à sua melhor amiga Julie, depois a esnoba com a patricinha Jenna, depois volta para a amiga, enquanto inicia sua vida sexual com o segundo ficante. Mas, quem espera alguma explosão de afetos nestas experiências, vai ficar decepcionado, pois a adolescência de Christine é tão sem graça como a da maioria de nós, embora façamos questão de afirmar todos os dias como eram maravilhosos “os bons tempos”.

Na verdade, o que me impressionou no filme foi exatamente isso: passamos a vida adulta e a velhice dizendo que a juventude foi a melhor fase das nossas vidas, que o que era bom não volta mais e outras frases parecidas. Quando o filme acaba – o Lady Bird – descobrimos que todos nós, meninas e meninos, nos divertimos muito, é verdade, mas passamos por apertos inconfessáveis, dores absurdas e dúvidas que, até hoje, persistem em nossas mentes.

Trata-se de um filme imperdível para todos nós que chegamos até aqui, tentando transformar nossas vidas em filmes, mas, em algum momento, deixamos de acreditar no enredo.

Crônica: Jorge Marin
Foto     : Merie Wallace, disponível em https://www.nytimes.com/interactive/2018/01/12/briefing/12weeklynewsquiz.html

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