segunda-feira, 19 de março de 2018

A PRIMEIRA PROFESSORA



De repente, somos assaltados por notícias que jamais gostaríamos de ouvir: “sua professora morreu”. E a gente que se vire com isso.

Não sou uma pessoa que se abale ou se deixe abater, mas confesso que saber isso me deixou profundamente triste. Como se, de uma hora pra outra, ficasse desconectado do meu passado, e ficasse solto no espaço. E no tempo.

Quando cheguei ao Grupo Dona Judith Mendonça naquele ano de 1964, morria de medo do que podia me acontecer. Criado muito preso, dentro de casa, eu era um tipo de criança com toda a espécie de temores e inseguranças possíveis. Quando me disseram que minha professora era muito brava, quase saí correndo, e só não o fiz porque minha mãe já havia ido embora.

Dona Terezinha me tomou pela mão e, franzino, me conduziu pelo pátio até a sala da Dona Renê. Quando a porta se abriu e pude, finalmente, contemplá-la, foi como se um peso de dez toneladas fosse retirado das minhas costas: minha professora era jovem, bonita e com um sorrisão que deixava a gente tranquilo.

Ali, com a Dona Renê, comecei a aprender como viver com os outros. A interagir, a conversar com os colegas, o momento de falar, o momento de calar. Aos sete anos, eu nunca havia frequentado nenhuma escola ou mesmo jardim de infância.

Pois bem, vivi a tal vida que esperavam que eu vivesse, e ao retornar, trinta e cinco anos depois, fiquei meio “solto”, no início da aposentadoria. Meio sem rumo, fui aconselhado por amigos a ingressar no Facebook e, naquele ambiente, meio real meio imaginário, vou dar de cara logo com quem? Corri para contar pra minha esposa: fui reconhecido pela minha primeira professora!

E, por incrível que pareça, foi na rede social que aprendi a conhecê-la melhor. Enquanto os outros posam de bonzinhos, ela fazia questão de se mostrar tinhosa, positiva e verdadeira. Quando queria dizer uma verdade, até falava que não ia dizer, mas acabava dizendo.

Isso só ia fazendo com que minha admiração por ela crescesse. Editor do Pitomba Blog, eu a chamava de Dona do Largo e dedicava a ela todas as fotos tiradas perto da Matriz. E ela nunca me decepcionava: era sempre a primeira a curtir e comentar.

Hoje, publico essa foto dela, que, na época, achei muito engraçada. Sei que ela iria aprovar porque adorava dar risada, encontrar pessoas, e fazer zoeira no Facebook. Digitar aqui, sabendo que ela não vai curtir, nem comentar, nem compartilhar é muito triste. Tomara que exista um Face-céu de onde ela possa curtir, mesmo que seja com aquelas lagrimazinhas, o tanto da falta que ela está nos fazendo.

Crônica: Jorge Marin
Foto     : Facebook

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