De
repente, somos assaltados por notícias que jamais gostaríamos de ouvir: “sua
professora morreu”. E a gente que se vire com isso.
Não
sou uma pessoa que se abale ou se deixe abater, mas confesso que saber isso me
deixou profundamente triste. Como se, de uma hora pra outra, ficasse desconectado
do meu passado, e ficasse solto no espaço. E no tempo.
Quando
cheguei ao Grupo Dona Judith Mendonça naquele ano de 1964, morria de medo do
que podia me acontecer. Criado muito preso, dentro de casa, eu era um tipo de criança
com toda a espécie de temores e inseguranças possíveis. Quando me disseram que
minha professora era muito brava, quase saí correndo, e só não o fiz porque
minha mãe já havia ido embora.
Dona
Terezinha me tomou pela mão e, franzino, me conduziu pelo pátio até a sala da Dona
Renê. Quando a porta se abriu e pude, finalmente, contemplá-la, foi como se um
peso de dez toneladas fosse retirado das minhas costas: minha professora era
jovem, bonita e com um sorrisão que deixava a gente tranquilo.
Ali,
com a Dona Renê, comecei a aprender como viver com os outros. A interagir, a conversar
com os colegas, o momento de falar, o momento de calar. Aos sete anos, eu nunca
havia frequentado nenhuma escola ou mesmo jardim de infância.
Pois
bem, vivi a tal vida que esperavam que eu vivesse, e ao retornar, trinta e
cinco anos depois, fiquei meio “solto”, no início da aposentadoria. Meio sem rumo,
fui aconselhado por amigos a ingressar no Facebook e, naquele ambiente, meio
real meio imaginário, vou dar de cara logo com quem? Corri para contar pra
minha esposa: fui reconhecido pela minha primeira professora!
E,
por incrível que pareça, foi na rede social que aprendi a conhecê-la melhor. Enquanto
os outros posam de bonzinhos, ela fazia questão de se mostrar tinhosa, positiva
e verdadeira. Quando queria dizer uma verdade, até falava que não ia dizer, mas
acabava dizendo.
Isso
só ia fazendo com que minha admiração por ela crescesse. Editor do Pitomba
Blog, eu a chamava de Dona do Largo e dedicava a ela todas as fotos tiradas
perto da Matriz. E ela nunca me decepcionava: era sempre a primeira a curtir e
comentar.
Hoje,
publico essa foto dela, que, na época, achei muito engraçada. Sei que ela iria
aprovar porque adorava dar risada, encontrar pessoas, e fazer zoeira no
Facebook. Digitar aqui, sabendo que ela não vai curtir, nem comentar, nem
compartilhar é muito triste. Tomara que exista um Face-céu de onde ela possa
curtir, mesmo que seja com aquelas lagrimazinhas, o tanto da falta que ela está
nos fazendo.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : Facebook
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