Colegas de
time (Botafogo) e adversários políticos, detesto dar razão ao meu amigo Mazola,
mas sou obrigado a concordar com uma coisa que ele falou: a gente sabe que está
ficando velho quando não consegue mais entender o que está acontecendo.
Meu filho
traz uma importante questão: passar o carnaval em São João com a turma, ou
viajar com a namorada e a família dela para a praia. Se fosse no NOSSO tempo, a
coisa seria fácil: pai e mãe escolheriam sempre a coisa que daria MENOS prazer.
Tipo assim: se a namorada fosse feia, eles iriam sugerir a namorada. Se não
fosse, eles iriam sugerir uma terceira opção: fazer um retiro espiritual, “não
é por nada não, filho” — diriam — “mas é para você começar o ano letivo com a
cabecinha descansada”. Sei!
Carnaval
sempre estaria fora de questão. O que era um grande equívoco, pois bebíamos
tanto naqueles anos dourados que, se a namorada não esperasse a gente na porta
do banheiro do Trombeteiros, nem lembraríamos mais com quem estávamos, e sairíamos
direto pra folia.
Essa questão
do namoro então, é que era uma coisa muito engraçada: se arrumávamos uma
namorada bocó, nossos pais davam a maior força e afirmavam que “essa, sim, é
pra casar”, e nós com quinze anos de idade. Porém, se chegássemos em casa com
aquele “filezin” ou aquele “pãozin” (no caso das meninas), aí a casa caía.
Geralmente, a mãe da gente ia levar café com bolo onde estávamos umas trinta
vezes na noite. Em compensação, aqueles que curtiam uma ficada com uma pessoa
do mesmo sexo podiam ficar tranquilos: os pais até saíam pra novena e deixavam
os dois, ou as duas, sozinhos.
É que,
naquele tempo, a coisa era muito fácil. E MUITO previsível: homem ficava com
mulher, mulher ficava com homem. Se o casal ficasse muito tempo juntos, tinham
que noivar. Se noivasse, casavam. Se casassem, não separavam. Hoje é difícil
saber se homem fica com mulher e vice-versa. Primeiramente, porque a
diversidade de orientações sexuais é imensa. Eu, que sou idoso, respeito todas,
mas confesso que tenho uma certa dificuldade em entender alguns conceitos, como trans, bi, pan, a, demi, lith. Todos estes prefixos significam
algum tipo de comportamento sexual diferenciado. É igual comprar café em
supermercado.
Por isso,
penso que é perfeitamente aceitável que um pansexual, por exemplo, possa ficar
com um demisexual, embora eu não tenha a MENOR ideia do que os dois vão fazer
na intimidade. Aliás, acho que essa é a grande MUDANÇA à qual me referia no
início da crônica. Penso que, atualmente, as pessoas se encontram, resolvem ir
a um local romântico, que tanto pode ser um motel cafona quanto num provador
de roupas da C&A, ou numa plantação de maconha, ou no Parque da Saudade na
madrugada de 2 de novembro. Chegando lá, eles decidem o que fazer. Talvez até no cara ou coroa.
Ah, já ia
me esquecendo: o meu filho vai passar o carnaval jogando Call of Duty: WWII.
Seja lá o que for isso.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : still do filme A Gaiola das Loucas
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