Corria o ano de 1964 em São João Nepomuceno, e, como
não podia deixar de ser, a maior novidade pra mim naquele ano foi... um
FANTÁSTICO Forte Apache, com aquela paliçada de troncos, um bando de soldados,
um monte de índios e até uma diligência.
Essa
maravilha de brinquedo estava na vitrine da Casa Leite, e eu ficava absolutamente
vidrado com a possibilidade de fazer milhares de aventuras e matar aquela
indiarada toda (na época, matar índio era chique).
Minhas
mãe, que até então era uma pessoa que só falava a verdade, foi obrigada, face
ao meu encantamento, a dizer que aquele forte não era para brincar, mas sim
para enfeitar a casa, e que ela não iria levar porque tinha muito bibelô lá em
casa. A verdade é que, depois desse episódio, andei quebrando uns três ou
quatro, quem sabe para dar espaço para o forte-enfeite.
Frustrado
com a tentativa de conseguir aquele brinquedo que mudaria a minha vida, voltei
a ter esperanças na humanidade quando, na casa de um vizinho, assisti a um comercial
de TV dizendo que, em cada embalagem de Toddy, viria grátis um indiozinho de
brinquedo.
Mas havia
um problema: eu DETESTAVA chocolate! Mas, a minha mãe, assim como todas as mães
que adoram quando um filho pede pra comer uma coisa que odeia, ficou superfeliz
quando eu pedi pra ela comprar um vidro de Toddy. Gente, foi uma decepção! O
índio até que era mais ou menos: tinha uns traços parecidos com os “daquele” forte;
só que era todo azul, de plástico bem vagabundo.
Mas o sofrimento
mesmo era TER que tomar aquele Toddy. Eu pedia pra tomar gelado pra fazer de
conta que era sorvete, mas, adivinhem, a minha mãe vetou a ideia (porque eu
podia ter dor de garganta) e só me dava aquela porcaria quente. Eu ficava esperando
esfriar e, quando ela não estava olhando, jogava tudo pelo ralo da pia.
Quando,
finalmente, acabou o pote, pedi a minha mãe pra comprar mais Toddy e fomos correndo
ao Saps, que era o primeiro supermercado de São João, e lá tive uma imensa
surpresa: o Toddy tinha lançado uma embalagem supereconômica, um potão que
devia ter um meio-quilo de produto, porém com um único índio. E eu ia pra casa
rezando pra não ser o mesmo índio.
Eu já
estava com uns sete ou oito índios, quando aconteceu a tragédia: a Toddy parou
de colocar índios nos potes, um pouco antes da morte misteriosa do
ex-presidente Castelo Branco. Lembro bem porque fui obrigado a ir à igreja
rezar pelo tal marechal.
Depois
disso, e até hoje, me transformei num revoltado: nunca mais tomei Toddy e, se
encontro uma pilha do produto num supermercado, sou capaz de dar uma “esbarradinha”
pra jogar tudo no chão. E, depois da missa daquele militar, JAMAIS aceitei ter
um prazerzinho mixuruca em troca de ser OBRIGADO a engolir doses cavalares
daquela coisa AMARGA.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : disponível em http://anacaldatto.blogspot.com.br/2012/09/grande-concurso-indios-toddy-de-1967.html
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