sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

MANDA QUEM TODDY


Corria  o ano de 1964 em São João Nepomuceno, e, como não podia deixar de ser, a maior novidade pra mim naquele ano foi... um FANTÁSTICO Forte Apache, com aquela paliçada de troncos, um bando de soldados, um monte de índios e até uma diligência.

Essa maravilha de brinquedo estava na vitrine da Casa Leite, e eu ficava absolutamente vidrado com a possibilidade de fazer milhares de aventuras e matar aquela indiarada toda (na época, matar índio era chique).

Minhas mãe, que até então era uma pessoa que só falava a verdade, foi obrigada, face ao meu encantamento, a dizer que aquele forte não era para brincar, mas sim para enfeitar a casa, e que ela não iria levar porque tinha muito bibelô lá em casa. A verdade é que, depois desse episódio, andei quebrando uns três ou quatro, quem sabe para dar espaço para o forte-enfeite.

Frustrado com a tentativa de conseguir aquele brinquedo que mudaria a minha vida, voltei a ter esperanças na humanidade quando, na casa de um vizinho, assisti a um comercial de TV dizendo que, em cada embalagem de Toddy, viria grátis um indiozinho de brinquedo.

Mas havia um problema: eu DETESTAVA chocolate! Mas, a minha mãe, assim como todas as mães que adoram quando um filho pede pra comer uma coisa que odeia, ficou superfeliz quando eu pedi pra ela comprar um vidro de Toddy. Gente, foi uma decepção! O índio até que era mais ou menos: tinha uns traços parecidos com os “daquele” forte; só que era todo azul, de plástico bem vagabundo.

Mas o sofrimento mesmo era TER que tomar aquele Toddy. Eu pedia pra tomar gelado pra fazer de conta que era sorvete, mas, adivinhem, a minha mãe vetou a ideia (porque eu podia ter dor de garganta) e só me dava aquela porcaria quente. Eu ficava esperando esfriar e, quando ela não estava olhando, jogava tudo pelo ralo da pia.

Quando, finalmente, acabou o pote, pedi a minha mãe pra comprar mais Toddy e fomos correndo ao Saps, que era o primeiro supermercado de São João, e lá tive uma imensa surpresa: o Toddy tinha lançado uma embalagem supereconômica, um potão que devia ter um meio-quilo de produto, porém com um único índio. E eu ia pra casa rezando pra não ser o mesmo índio.

Eu já estava com uns sete ou oito índios, quando aconteceu a tragédia: a Toddy parou de colocar índios nos potes, um pouco antes da morte misteriosa do ex-presidente Castelo Branco. Lembro bem porque fui obrigado a ir à igreja rezar pelo tal marechal.

Depois disso, e até hoje, me transformei num revoltado: nunca mais tomei Toddy e, se encontro uma pilha do produto num supermercado, sou capaz de dar uma “esbarradinha” pra jogar tudo no chão. E, depois da missa daquele militar, JAMAIS aceitei ter um prazerzinho mixuruca em troca de ser OBRIGADO a engolir doses cavalares daquela coisa AMARGA.

Crônica: Jorge Marin

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