Na manhã
em que Buda atingiu a iluminação, ele olhou demoradamente para a estrela da
manhã e disse: “Eu, a grande Terra e todos os seres simultaneamente nos
tornamos o Caminho”.
Você é
budista? — me perguntam toda vez que cito essa passagem belíssima. E, nessa
pergunta, eu percebo a grande necessidade que as pessoas têm de ME explicar.
Se denuncio
uma injustiça social, dizem que sou comunista. Se critico a violência contra
uma mulher, é porque sou feminista. Se, além de criticar, cito Jesus e a
pecadora do evangelho de Lucas, é porque sou cristão.
Ou seja,
você fez isso? Ah, então é porque você é aquilo!
Prestem
muita atenção nesse tipo de comportamento, porque ele é extremamente
reducionista. Por exemplo: um sujeito estaciona um carro em frente à sua casa
às duas da manhã e começa a escutar um funk. Você acorda assustado, vai à
janela, reclama. E a pessoa diz: “você é um velho careta!”. Percebem? A pessoa comete
um ato de incivilidade, uma violência, uma transgressão. E, no final, diz que o
problema É você ser um velho careta.
É por
isso que não caio na armadilha de me dizer comunista, humanista, nazista,
machista, católico, umbandista ou qualquer outro adjetivo de pertencimento a
uma “turma”. Há uma frase de Groucho Marx, citada por Woody Allen no filme Noivo Neurótico Noiva Nervosa que
resume o meu sentimento: “Eu nunca entraria de sócio num clube que me aceitasse”.
Ih, agora
dancei! Vão dizer que eu sou marxista ou então simpatizante de abusador de
crianças, o que, quero deixar claro, não acredito que o diretor americano seja.
Enquanto as
grandes escolas desfilam os seus ódios na sapucaí mundial, eu sou só eu no
bloco do eu sozinho. Meu samba-enredo é fácil: “quero me perder de mão em mão;
quero ser NINGUÉM na multidão”. Será que Klécius Caldas e Rutinaldo, os autores,
eram budistas?
Que
ninguém nos ouça, mas Klécius era militar. E, antes que a patrulha venha, “quem
quiser que sofra em meu lugar”. Bom carnaval a todos!
Crônica:
Jorge Marin
Foto : disponível em https://vinteculturaesociedade.wordpress.com/2013/11/22/a-historia-de-ze-keti/
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