De
repente sentamos juntos, eu e o Tempo. Era um diálogo impossível, eu sabia.
De uma
hora pra outra, ele, o Tempo, deu de cismar de dizer coisas sobre mim que,
claro, eu não sabia. Nem o que viria, nem muitas coisas que já se foram.
Tentei me
fazer de durão, fazer de conta que aquilo não estava acontecendo, mas, vamos
combinar, como ignorar o tempo ou fazer de conta que ele não existe?
Assim, só
fiquei quieto, e fui deixando que ele se manifestasse à vontade. E, lógico, ele
foi se espalhando. Me tocou suavemente. A princípio, tentei resistir, mas só
quem já viveu bastante sabe a força que ele (o Tempo) tem.
Brincou
com meus cabelos (para falar a verdade, acho que ele, depois de velho, está
virando criança outra vez). Até arrancou alguns. Engraçado é que nem doeu.
Depois veio com um talco e, como esses adolescentes no dia do aniversário, jogou
aquilo na minha cabeça.
E ficou
rindo... o danado.
Depois,
numa mágica, dessas que só mesmo o tempo faz, colocou o dedo em minhas pernas e
calculo que aumentou uns dez quilos em cada uma, mas não me engordou não.
Conferi na balança. Só colocou uma barriga.
Vocês,
que estão acostumados a ler coisas que escrevo, algumas sérias, outras nem
tanto, devem estar pensando: o Jorge deve estar louco. Mas, deixa eu falar uma
coisa muito importante pra vocês: resistir ao Tempo, ou fingir que ele não
existe, isso sim, é que é loucura.
Portanto,
mineiramente, fui dando tempo ao Tempo, mas fiquei na minha, atento, pra ver
até onde ele ia.
E, à
medida que as traquinagens iam se sucedendo, é que fui percebendo uma coisa
fantástica: o Tempo, quando a gente permite que ele fique ao nosso lado, vai se
tornando um excelente companheiro.
Começamos
a assistir um filme antigo, a pedido dele... E o Vento Levou. Nem lembrava mais
de como era bonito o tal filme. Mas muito longo. Acabei cochilando. O Tempo acordou,
passou bem na minha frente, e eu nem percebi.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : disponível em https://br.pinterest.com/pin/380061656034996612/
Belo texto !
ResponderExcluirObrigado, Sylvio!
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