sexta-feira, 18 de agosto de 2017

DE CONVERSÊ COM O TEMPO


De repente sentamos juntos, eu e o Tempo. Era um diálogo impossível, eu sabia.

De uma hora pra outra, ele, o Tempo, deu de cismar de dizer coisas sobre mim que, claro, eu não sabia. Nem o que viria, nem muitas coisas que já se foram.

Tentei me fazer de durão, fazer de conta que aquilo não estava acontecendo, mas, vamos combinar, como ignorar o tempo ou fazer de conta que ele não existe?

Assim, só fiquei quieto, e fui deixando que ele se manifestasse à vontade. E, lógico, ele foi se espalhando. Me tocou suavemente. A princípio, tentei resistir, mas só quem já viveu bastante sabe a força que ele (o Tempo) tem.

Brincou com meus cabelos (para falar a verdade, acho que ele, depois de velho, está virando criança outra vez). Até arrancou alguns. Engraçado é que nem doeu. Depois veio com um talco e, como esses adolescentes no dia do aniversário, jogou aquilo na minha cabeça.

E ficou rindo... o danado.

Depois, numa mágica, dessas que só mesmo o tempo faz, colocou o dedo em minhas pernas e calculo que aumentou uns dez quilos em cada uma, mas não me engordou não. Conferi na balança. Só colocou uma barriga.

Vocês, que estão acostumados a ler coisas que escrevo, algumas sérias, outras nem tanto, devem estar pensando: o Jorge deve estar louco. Mas, deixa eu falar uma coisa muito importante pra vocês: resistir ao Tempo, ou fingir que ele não existe, isso sim, é que é loucura.

Portanto, mineiramente, fui dando tempo ao Tempo, mas fiquei na minha, atento, pra ver até onde ele ia.

E, à medida que as traquinagens iam se sucedendo, é que fui percebendo uma coisa fantástica: o Tempo, quando a gente permite que ele fique ao nosso lado, vai se tornando um excelente companheiro.

Começamos a assistir um filme antigo, a pedido dele... E o Vento Levou. Nem lembrava mais de como era bonito o tal filme. Mas muito longo. Acabei cochilando. O Tempo acordou, passou bem na minha frente, e eu nem percebi.

Crônica: Jorge Marin
Foto     : disponível em https://br.pinterest.com/pin/380061656034996612/

2 comentários:

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL