quarta-feira, 3 de maio de 2017

AMIGO CAQUI DOS AMIGOS


Não sei qual a razão, mas resolvi, repentinamente, falar um pouco sobre nosso pé de caqui. Um fantástico ser vegetal que, há quase trinta e cinco anos, vem nos fazendo companhia. Um ilustre amigo que já fazia por merecer um pequeno espaço em minhas linhas.

De fevereiro a maio, religiosamente, nos presenteia com seus suculentos frutos. No inverno, época em que mais precisamos de sol, simplesmente se desnuda, deixando cair todas suas folhas. No verão, quando mais procuramos por sombra, sua copa se veste de uma densa folhagem, nos proporcionando assim um frescor sem igual.

Como se não bastasse, já virou até pé direito de nosso galinheiro e, em muitas oportunidades, suporte para rede, varal e bebedouro de beija-flor. Serviu de mastro nos memoráveis jogos decisivos do Brasileirão e Copa do Mundo onde, na oportunidade, fazia tremular minhas bandeiras do Botafogo e do Brasil.
Até numa colorida árvore natalina, por sinal superdecorada e iluminada, se transformou certa vez.

Por fim, não poderia me esquecer que, juntamente com o muro que nos faz divisa com um amigo vizinho, teria sido meu local predileto onde, nas saudosas festas de fim de ano, detonava meus tão esperados fogos de artifício.

Falemos, então, um pouco de seu místico nascimento, algo digno de registro.
Tudo teria começado numa daquelas muitas viagens em que Sô Tuninho e Dona Venina faziam a Belo Horizonte. Numa dessas viagens, momentos antes de retornarem a São João, dona Venina teria sido presenteada por tia Carmen com um desses frutos, que, de tão saboroso, teria embrulhado uma de suas sementes num papel guardanapo. Sua intenção era de, tão logo chegasse de viagem, poder plantá-la no canteiro.

Sô Tuninho, na realidade, não era muito a favor, pois alegava que a referida arvore seria de porte um tanto desproporcional ao tamanho do terreiro.
Assim, por vários dias, reinou a dúvida: Planta... Não planta... Planta... Não Planta... Até que, finalmente, dona Venina se daria por vencida. Afinal de contas, falaria mais alto a opinião do velho chefe. Puro engano!

Numa bela manhã, ao acordar mais cedo, dona Venina, sem que ninguém percebesse, simplesmente foi sorrateira ao terreiro e, após fazer uma pequena cova, semeou aquela sementinha na parte mais nobre do canteiro.

E o tempo passou...

Numa bela tarde, enquanto Sô Tuninho regava suas verduras, eis que se depara com uma pequena mudinha. Uma delicada muda que começava a surgir imponente entre os pés de couve e alface. Num primeiro impulso, ainda sem saber do que se tratava, foi logo a arrancando.

Dias se passaram e, mais uma vez, no mesmo lugar, aparece novamente aquela insistente mudinha. E, assim como na vez anterior, ele simplesmente arrancou-a. Ao se repetir, pela terceira vez o mesmo fenômeno, e já desconfiado, um tanto intrigado comentou:
- Venina! Tem aparecido de uns tempos para cá uma mudinha no canteiro danada de forte! Já a arranquei por três vezes, mas sempre volta a brotar no mesmo lugar.

Dona Venina, já sabendo do que se tratava, ficou bem quieta, para, somente mais tarde, contar-lhe a verdadeira história. Assim, ante a insistência daquela ainda frágil mudinha e dos apelos incansáveis de dona Venina, sô Tuninho resolveu, num belo ato ecológico, dar uma chance àquele pequeno ser.

O tempo passou e uma linda e frondosa árvore viria a se desenvolver.
Confesso que a danadinha dá trabalho, principalmente quando sua folhagem começa a cair. Diariamente, tenho que, durante uns três meses, ficar a varrer o terreiro e a encher sacos e mais sacos com suas folhas. “Haja saco”!
Não posso esquecer-me também, de podar seus galhos. Ano sim outro não. E tem que ser na “Primeira Lua Nova de Agosto”. Mas... Tudo isso vale a pena. E como!

Não há dinheiro que pague observar em seus galhos a chegada das inúmeras espécies de pássaros. Até canários e sabiás têm aparecido por estas bandas. Uma verdadeira sinfonia que, no despertar de cada alvorecer, parece querer nos fazer entender que, apesar dos pesares, ainda vale à pena viver no interior.
  
Tenho uma lista de simpatizantes adeptos ao seu sabor que, prazerosamente, a cada colheita anual são presenteados com algumas dezenas de seus frutos. Vinte e seis no total. O ano que me esqueço de alguém é um Deus nos acuda! Razão pea qual, carinhosamente, o apelidei de CAQUI DOS AMIGOS.

Acho que me alonguei demais. De momentos, vou ficando por caqui.

Crônica e foto: Serjão Missiaggia

3 comentários:

  1. Obrigada pai e mãe por ter nos deixado esta herança. Obrigada mano Sérgio pelo cuidado e carinho com que conserva esta relíquia. Esta árvore foi plantada e regada por mãos abençoadas.

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    1. Já colocamos até um nome nesse caquizeiro aqui no Blog, Edna: Dióspiro Missiaggia. Dióspero é como eles chamam o caqui em Portugal.

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  2. Pena que eu não recebo nem um . Já estive aí por difere texto meses do ano e nunca provei deste néctar . Manda pra mim . ���� Tá linda a árvore !!! Saudades !!! Clea

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