Rolava o
glorioso ano de 1968. Aliás, vamos combinar, glorioso apenas para Botafogo que
foi bicampeão carioca, porque, para o resto da população aquele ano ficou
conhecido como O ANO QUE NÃO ACABOU.
Pra quem
não se lembra, ou não havia nascido, o danado do ano foi HORROROSO. Mataram o
Luther King, mataram o Robert Kennedy, começou a Guerra do Vietnã.
Aqui no
Brasil, para aqueles que defendem intervenção militar hoje, estava um paraíso: o
General Costa e Silva, que escapou de um atentado terrorista, cassava direitos
políticos, demitia supostos comunistas, fechava sindicatos, diretórios
estudantis, detonava o Congresso e julgava civis na Justiça Militar.
Sem saber
de nada disso, porque nem a televisão nem os jornais mostravam, estávamos
felizes naquele bambuzal do Ginásio do Sôbi. O Sargento Matildes havia dado a
aula de Educação Física e, enquanto alguns disputavam quem fazia mais barras,
outros zoavam os mais nerds e nanicos, no caso... eu.
Éramos o
Primeiro Ano Masculino, uma turma do Ginásio que estudava à tarde, era composta
só de meninos e, pra completar, ainda usávamos uma espécie de farda cáqui. Na
sala, a zoeira era total, principalmente porque o nosso querido Sôbi raramente
aparecia no Ginásio à tarde (porque trabalhava também de Escrivão na
Delegacia).
Numa
dessas tardes “animadas”, aproveitamos a ausência de uma professora para
explorar um estranho alçapão no assoalho da sala de aula. Retiramos a tábua, um
quadrado que devia ter um metro de lado, e, com uma caixa de fósforos, baixamos
naquele buraco nosso enviado especial: o Tadeu.
Acendendo
os fósforos, nosso corajoso amigo ia descrevendo o que ele via naquele
subterrâneo até que... De repente, a professora chegou! Ela havia apenas se
atrasado. Com medo de que a professora caísse naquele buracão, o que fizemos?
Recolocamos a tábua no lugar, mas, infelizmente, não houve tempo hábil para
resgatar o Tadeu, que ficou lá embaixo, explorando aquele misterioso subsolo.
A aula já
ia animada, quando, não suportando o calor, Tadeu começou a gritar “socorro”, “socorro”.
A professora, assustada, não entendeu nada. Quando explicamos, pediu que
resgatássemos o colega. Este saiu ofegante, sem camisa e cheio de picumã no
cabelo.
E não
tínhamos nem um Whatsapp. Ô dó!
Crônica:
Jorge Marin
Foto : Still
do filme Harry Potter e a Câmara Secreta
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