Subindo a
Rua Getúlio Vargas, mais conhecida pelos cinquentões de plantão como a Rua do
Grupo Velho, nos deparamos sempre com o antigo prédio do Cine Brasil. Lugar que
veio, por décadas, marcar gerações.
Diferentemente
da Sinuca do Cida, esse local era frequentado por pessoas de oito a oitenta
anos. Já na infância, éramos quase sempre conduzidos pelos nossos pais,
principalmente num período em que existam poucas televisões na cidade, e pra lá
nos dirigíamos em busca de magia que, facilmente, era encontrada nos famosos filmes
de bang bang, terror , comédia, bíblicos, além é claro, de algum romance
básico. Épocas de Ben-Hur, Os Dez
Mandamentos, Quo Vadis, Marcelino Pão e Vinho e outros tantos clássicos que
ficariam eternizados em nossa memória.
Do lado
de fora, um inesquecível cheirinho de pipoca e amendoim torrado já estaria a
nossa espera, enquanto pacientemente, muitas vezes ficávamos por um bom tempo
nos arrastando naquelas imensas filas. Por sinal, havia naquele período, dois
cinemas na cidade e, não muito raro, víamos as filas se encontrarem numa
esquina qualquer do quarteirão.
Uma
musiquinha básica ficava tocando dentro do cinema, enquanto, ainda de luzes
acessas, íamos comprando balas, pirulitos e outros. Confesso que ficava superapreensivo
enquanto esperava por aquele sinal sonoro que anunciava que o filme iria
começar. Um som poderosíssimo e grave que dava medo e assustava muito.
Já na
adolescência, muitos fatos inusitados e até engraçados chegaram acontecer,
sendo que, se estivesse em cartaz um filmezinho mais apimentado, aí que a
galera ficava bastante assanhada. Confesso que tentar engabelar nossas queridas
e saudosas dona Zeny e a senhora Bovoy, era bem complicado.
Certa vez,
fiquei, juntamente com alguns amigos, quase quarenta minutos na fila debaixo de
chuva fina, pra assistir VANESSA A INSSACIAVEL. Ao chegar à portaria, fomos
recebidos amistosamente por dois policiais, que, exigindo identidade, e
desconfiados de nossas caras, queriam saber nossa idade. Não tivemos
alternativa e, após sair de mansinho, correremos mais que depressa para as
portas laterais pra ficar nos atropelando e assistindo o filme pelas gretas.
Também
muitos encontros e namoros aconteciam, principalmente no andar superior. Pior é
que os mais exaltados eram sempre pegos de surpresa quando, em função da fita
que arrebentava, as luzes eram acendidas de repente. Nessa hora, enquanto alguns despistavam,
outros ficavam assoviando, pedindo o dinheiro de volta.
Também
não menos incomôdo naquela hora de romance, era o barulho do chinelinho do
saudoso Sr. Geraldo subindo e descendo aquelas escadarias. Literalmente,
tínhamos que ficar de olho e de orelha em pé.
Dependendo
do filme, bons cochilos aconteciam e, que eram somente interrompidos quando as
luzes se acendiam e o barulho daquela cortina da portaria era aberto
repentinamente ao final do filme. Mas o grande despertador mesmo eram as
imensas portas laterais sendo empurradas ao término das sessões. Não sei se por
sacanagem, mas esse fato sempre ocorria antes mesmo do filme terminar. Aí era
aquele susto, não somente para os dorminhocos, como também para os mais
distraídos.
No final,
e já do lado de fora, gostávamos muito de comprar os famosos amendoins do Bié,
além é claro, de brincarmos com ele. Ainda
antes de seguirmos para casa, era quase obrigatória uma paradinha no “murim” do
Adil ou na Sinuca do Cida para jogar um pouco mais de conversa fora e fazermos as
considerações finais.
Crônica e
foto: Serjão Missiaggia
Ave Maria !!! Como eu viajo nessas crônicas ! Obrigada Sérgio �� Clea
ResponderExcluirValeu, Cléa. Então, prepare-se, porque muitas outras viagens virão.
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