Esta
primeira semana de maio sempre me deixa meio triste. Há exatos vinte e dois
anos, num dia do trabalhador, o meu pai morreu. Vejam que eu não disse “nos
deixou” ou “foi para um plano superior” ou “desencarnou”.
Morreu.
Digo isso assim textualmente porque uma das coisas que o meu pai mais detestava
era o que ele chamava de “conversa fiada”. Mesmo esses eufemismos, hoje tão
comuns no nosso dia a dia politicamente correto, eram evitados por ele. Até
mesmo porque o seu nível de escolaridade, praticamente inexistente, não lhe
permitia grandes voos semânticos.
“Sou
analfabeto”, dizia, mas a sua lógica, e a sua simplicidade, me ensinaram coisas
que anos de estudo e quilos de livros não foram capazes de iluminar.
Por
sinal, uma de suas teorias, esta da “conversa fiada”, acaba de ser confirmada
por dois cientistas cognitivos, Hugo Mercier e Dan Sperber, num livro chamado
“O Enigma da Razão”.
Trago
esse assunto para o Blog porque fiquei impressionado sobre o que esses doutores
pensam sobre a razão humana. Até ler o livro, eu pensava que a razão era uma
coisa fantástica, quase divina. Quando queremos nos distanciar dos animais
dizemos: ora, somos racionais.
Mas a
coisa não é bem assim, segundo o livro. Primeiro, perguntam: se a razão é tão
útil assim por que, durante o processo evolutivo, ela também não se desenvolveu
em outros animais?
E, mais
importante, pra quê ela serve afinal? A resposta é surpreendente: para podermos
produzir desculpas convincentes para os nossos atos, e para convencer as
pessoas à nossa volta de que estamos certos! Ou seja, fazer isso que fazemos no
Facebook todo dia.
A
explicação é que, para que a humanidade se desenvolvesse, era necessário que
uma pessoa, o ser mais racional, soubesse justificar suas atitudes (mesmo que
fossem tremendas besteiras!) e convencer os manés a apoiá-lo. Exatamente o que
os nossos políticos fazem!
Pode
parecer uma bobagem, mas me senti profundamente incomodado com essa ideia. E
acho que um bando de pessoas, que se acham “os racionais” também não gostaram
muito.
Meu pai,
que “cantou a pedra” antes, certamente iria dar seu veredito: “tudo conversa
fiada!!!”. Enquanto isso, as “reformas” Ó... tão passando.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : Marcelo Camargo (Agência Brasil)
Nenhum comentário:
Postar um comentário