Não
sei qual a razão, mas resolvi, repentinamente, falar um pouco sobre nosso pé de
caqui. Um fantástico ser vegetal que, há quase trinta e cinco anos, vem nos
fazendo companhia. Um ilustre amigo que já fazia por merecer um pequeno espaço
em minhas linhas.
De
fevereiro a maio, religiosamente, nos presenteia com seus suculentos frutos. No
inverno, época em que mais precisamos de sol, simplesmente se desnuda, deixando
cair todas suas folhas. No verão, quando mais procuramos por sombra, sua copa
se veste de uma densa folhagem, nos proporcionando assim um frescor sem igual.
Como
se não bastasse, já virou até pé direito de nosso galinheiro e, em muitas oportunidades,
suporte para rede, varal e bebedouro de beija-flor. Serviu de mastro nos
memoráveis jogos decisivos do Brasileirão e Copa do Mundo onde, na
oportunidade, fazia tremular minhas bandeiras do Botafogo e do Brasil.
Até
numa colorida árvore natalina, por sinal superdecorada e iluminada, se
transformou certa vez.
Por
fim, não poderia me esquecer que, juntamente com o muro que nos faz divisa com
um amigo vizinho, teria sido meu local predileto onde, nas saudosas festas de
fim de ano, detonava meus tão esperados fogos de artifício.
Falemos,
então, um pouco de seu místico nascimento, algo digno de registro.
Tudo
teria começado numa daquelas muitas viagens em que Sô Tuninho e Dona Venina
faziam a Belo Horizonte. Numa dessas viagens, momentos antes de retornarem a
São João, dona Venina teria sido presenteada por tia Carmen com um desses frutos,
que, de tão saboroso, teria embrulhado uma de suas sementes num papel
guardanapo. Sua intenção era de, tão logo chegasse de viagem, poder plantá-la
no canteiro.
Sô
Tuninho, na realidade, não era muito a favor, pois alegava que a referida
arvore seria de porte um tanto desproporcional ao tamanho do terreiro.
Assim,
por vários dias, reinou a dúvida: Planta... Não planta... Planta... Não
Planta... Até que, finalmente, dona Venina se daria por vencida. Afinal de
contas, falaria mais alto a opinião do velho chefe. Puro engano!
Numa
bela manhã, ao acordar mais cedo, dona Venina, sem que ninguém percebesse,
simplesmente foi sorrateira ao terreiro e, após fazer uma pequena cova, semeou
aquela sementinha na parte mais nobre do canteiro.
E
o tempo passou...
Numa
bela tarde, enquanto Sô Tuninho regava suas verduras, eis que se depara com uma
pequena mudinha. Uma delicada muda que começava a surgir imponente entre os pés
de couve e alface. Num primeiro impulso, ainda sem saber do que se tratava, foi
logo a arrancando.
Dias
se passaram e, mais uma vez, no mesmo lugar, aparece novamente aquela
insistente mudinha. E, assim como na vez anterior, ele simplesmente arrancou-a.
Ao se repetir, pela terceira vez o mesmo fenômeno, e já desconfiado, um tanto
intrigado comentou:
-
Venina! Tem aparecido de uns tempos para cá uma mudinha no canteiro danada de
forte! Já a arranquei por três vezes, mas sempre volta a brotar no mesmo lugar.
Dona
Venina, já sabendo do que se tratava, ficou bem quieta, para, somente mais
tarde, contar-lhe a verdadeira história. Assim, ante a insistência daquela
ainda frágil mudinha e dos apelos incansáveis de dona Venina, sô Tuninho
resolveu, num belo ato ecológico, dar uma chance àquele pequeno ser.
O
tempo passou e uma linda e frondosa árvore viria a se desenvolver.
Confesso
que a danadinha dá trabalho, principalmente quando sua folhagem começa a cair.
Diariamente, tenho que, durante uns três meses, ficar a varrer o terreiro e a
encher sacos e mais sacos com suas folhas. “Haja saco”!
Não
posso esquecer-me também, de podar seus galhos. Ano sim outro não. E tem que
ser na “Primeira Lua Nova de Agosto”. Mas... Tudo isso vale a pena. E como!
Não há dinheiro que pague observar em seus galhos a chegada das inúmeras espécies de pássaros. Até canários e sabiás têm aparecido por estas bandas. Uma verdadeira sinfonia que, no despertar de cada alvorecer, parece querer nos fazer entender que, apesar dos pesares, ainda vale à pena viver no interior.
Tenho
uma lista de simpatizantes adeptos ao seu sabor que, prazerosamente, a cada
colheita anual são presenteados com algumas dezenas de seus frutos. Vinte e
seis no total. O ano que me esqueço de alguém é um Deus nos acuda! Razão pea qual,
carinhosamente, o apelidei de CAQUI DOS AMIGOS.
Acho
que me alonguei demais. De momentos, vou ficando por caqui.
Crônica
e foto: Serjão Missiaggia
Obrigada pai e mãe por ter nos deixado esta herança. Obrigada mano Sérgio pelo cuidado e carinho com que conserva esta relíquia. Esta árvore foi plantada e regada por mãos abençoadas.
ResponderExcluirJá colocamos até um nome nesse caquizeiro aqui no Blog, Edna: Dióspiro Missiaggia. Dióspero é como eles chamam o caqui em Portugal.
ExcluirPena que eu não recebo nem um . Já estive aí por difere texto meses do ano e nunca provei deste néctar . Manda pra mim . ���� Tá linda a árvore !!! Saudades !!! Clea
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