O Serjão
adora esta palavra: “hilária”.
Pois bem,
há uma cena hilária no filme A Vida de Brian, que é uma espécie de sátira do
cristianismo, na qual um bando de pessoas, assistindo o tão celebrado Sermão da
Montanha, têm uma reação diferente da que poderíamos esperar. Uma senhora grita
“fala mais alto!”, outros entendem que Jesus falou “bem aventurados os
fabricantes de queijo” e por aí vai.
Por que
estou citando essa cena? É porque, normalmente, as pessoas acreditam que, pelo
simples fato de ouvir a palavra de Deus, tornam-se, automaticamente, boas, não
importa as intercorrências, ruídos ou mal-entendidos.
Há uma
grande necessidade, quase uma pulsão, de ser bom, ou boa.
Pior do
que isso, a necessidade não é SER BOM(BOA), mas sim PARECER BOM(BOA). Assim,
passamos os dias da nossa vida a emitir conceitos morais da vida dos outros. Lógico,
ninguém moraliza a si mesmo!
Houve um
tempo, quando eu era criança, que esse assunto de moralidade era resolvido pela
ordem vigente. O que diziam os pais, os padres e os patrões era a norma
vigente, a normalidade. Assim, um sujeito que discordava do pai, ou não
comungava domingo, ou não gostava de trabalhar tornava-se, também automaticamente,
MAU.
Eu passei
umas boas dezenas de anos da minha vida tentando me tornar BOM. O cara dava um
tapa na minha cara, eu oferecia a outra face (lógico que levava outra porrada).
Levantava questões teológicas e era chamado de ateu. Trabalhava de graça porque
se tratava de uma filial nova, e era “premiado” com uma aposentadoria
compulsória.
Hoje,
chegando aos sessenta, não tenho mais necessidade de parecer bom. Se um cara
vier me estapear, pode até conseguir, mas leva uma porretada ou uma pedrada. Se
vêm me oferecer uma conversão religiosa na porta da minha casa, rejeito. Se me
oferecem um gatinho abandonado pra criar, digo que não gosto de gatos (e não
gosto mesmo).
Não tenho
mais paciência para pessoas que passam a sua existência organizando campanhas,
orando e defendendo causas ambientais de longe. A mim, me emocionam muito mais
os gestos, e os atos, de pessoas comuns que, aparecendo ou não, fazem coisas
simples: abraçam a mãe com Alzheimer mesmo sabendo que esta não os reconhece,
colocam uma fatia extra de queijo prato no sanduíche do filho que vai à escola,
acolhem um ser abandonado na rua (animal ou pessoa) e, mesmo sem gostar,
encaminham para os órgãos de proteção.
Finalizo
com uma frase, também hilária, do meu “filósofo” favorito Woody Allen: “Pessoas
boas dormem muito melhor à noite, mas as pessoas más se divertem muito mais
acordadas”.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : disponível em http://www.ultracurioso.com.br/os-5-traidores-mais-conhecidos-da-historia/
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