sexta-feira, 14 de outubro de 2016

VOCÊ SE ACHA BONZINHO?


O Serjão adora esta palavra: “hilária”.

Pois bem, há uma cena hilária no filme A Vida de Brian, que é uma espécie de sátira do cristianismo, na qual um bando de pessoas, assistindo o tão celebrado Sermão da Montanha, têm uma reação diferente da que poderíamos esperar. Uma senhora grita “fala mais alto!”, outros entendem que Jesus falou “bem aventurados os fabricantes de queijo” e por aí vai.

Por que estou citando essa cena? É porque, normalmente, as pessoas acreditam que, pelo simples fato de ouvir a palavra de Deus, tornam-se, automaticamente, boas, não importa as intercorrências, ruídos ou mal-entendidos.

Há uma grande necessidade, quase uma pulsão, de ser bom, ou boa.

Pior do que isso, a necessidade não é SER BOM(BOA), mas sim PARECER BOM(BOA). Assim, passamos os dias da nossa vida a emitir conceitos morais da vida dos outros. Lógico, ninguém moraliza a si mesmo!

Houve um tempo, quando eu era criança, que esse assunto de moralidade era resolvido pela ordem vigente. O que diziam os pais, os padres e os patrões era a norma vigente, a normalidade. Assim, um sujeito que discordava do pai, ou não comungava domingo, ou não gostava de trabalhar tornava-se, também automaticamente, MAU.

Eu passei umas boas dezenas de anos da minha vida tentando me tornar BOM. O cara dava um tapa na minha cara, eu oferecia a outra face (lógico que levava outra porrada). Levantava questões teológicas e era chamado de ateu. Trabalhava de graça porque se tratava de uma filial nova, e era “premiado” com uma aposentadoria compulsória.

Hoje, chegando aos sessenta, não tenho mais necessidade de parecer bom. Se um cara vier me estapear, pode até conseguir, mas leva uma porretada ou uma pedrada. Se vêm me oferecer uma conversão religiosa na porta da minha casa, rejeito. Se me oferecem um gatinho abandonado pra criar, digo que não gosto de gatos (e não gosto mesmo).

Não tenho mais paciência para pessoas que passam a sua existência organizando campanhas, orando e defendendo causas ambientais de longe. A mim, me emocionam muito mais os gestos, e os atos, de pessoas comuns que, aparecendo ou não, fazem coisas simples: abraçam a mãe com Alzheimer mesmo sabendo que esta não os reconhece, colocam uma fatia extra de queijo prato no sanduíche do filho que vai à escola, acolhem um ser abandonado na rua (animal ou pessoa) e, mesmo sem gostar, encaminham para os órgãos de proteção.

Finalizo com uma frase, também hilária, do meu “filósofo” favorito Woody Allen: “Pessoas boas dormem muito melhor à noite, mas as pessoas más se divertem muito mais acordadas”.

Crônica: Jorge Marin

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