Ainda não
refeito do impacto do meu aniversário, fico pensando na vida. Digo impacto
porque caminho a passos largos para os sessenta.
- Já
posso entrar de graça no ano que vem? – pergunto à trocadora.
- Só com
sessenta e cinco! O senhor está mesmo muito folgado.
Folgado
eu já estou desde os 50, quando me aposentei oficialmente. “Vagabundo!”, escuto
Fernando Henrique Cardoso gritar.
Mas,
estarei folgado mesmo? Será que algum colega aposentado pela previdência
oficial está folgado?
Quando
começamos a trabalhar, escutamos de nossos pais o sábio conselho de que quanto
mais cedo começássemos a trabalhar, mais cedo nos aposentaríamos. Ralamos,
perdemos muitos dos folguedos da juventude, atravessamos anos ora difíceis ora
insuportáveis, ditados pelas políticas econômicas mais esdrúxulas do planeta.
Até que,
enfim, completamos os nossos tão sonhados 30 anos de carteira assinada. Mas,
então, uma surpresa! Não poderíamos mais nos aposentar com 80% dos rendimentos.
O presidente de plantão, o citado FHC achava um absurdo que as pessoas se aposentassem
tão jovens e, de uma canetada, cortou o nosso barato. Teríamos que ir até os 35
anos.
Buscando
um advogado trabalhista, este explicou que nada se podia fazer pois existe uma
diferença entre a EXPECTATIVA DE DIREITO e o DIREITO EXPECTADO. O meu sonho –
aposentar aos 44 anos com 80% dos rendimentos – era apenas isso mesmo que
falei, um sonho, pois, para ocorrer, precisaria que fossem cumpridos todos os
requisitos exigidos por lei. Eu ainda não completara os 30 anos e, como o FHC
foi mais esperto, mudou a lei antes que eu chegasse lá.
Quando eu
estava prestes a completar os tais 35 anos de contribuição, outro grande,
aliás, enorme susto: o “querido” FHC, o meu Lex Luthor, o meu Coringa, tentou
acabar com a aposentadoria aos 35 anos de contribuição, exigindo, além disso,
idade mínima de 60 anos para homens.
A votação
foi histórica: o time do Darth Vader da Sociologia precisava, na época, de 308
votos a favor da medida. Quando chegaram a 307 votos, comecei a me desesperar e
xingar o meu pai, que me dera aquele conselho agora à beira de se tornar
estúpido.
O próximo
votante era o deputado do PSDB Antônio Kandir. Governista e autor da ideia de
confiscar a poupança na época do Collor, o seu voto só poderia ser a favor do
governo e contra nós, sonhadores de aposentadoria. Escutando aquela
movimentação, transmitida ao vivo pela TV, chorávamos, xingávamos e nos descabelávamos.
Lembrando
dos apertos que passava com o Botafogo, cruzei os dedos e comecei a gritar:
- Erra,
erra, erra...
- Está
louco, Jorge? Isso não é cobrança de pênalti! – diziam.
E o tal
do Kandir caminhou triunfalmente para o painel de votação e... ERROU! Apertou,
sem querer, o botão de abstenção.
Por esse
erro maravilhoso, melhor do que aquele do Roberto Baggio em 1994, vou caminhando
para os 60, se Deus quiser, no ano que vem, quando espero também completar, a
marca de 8 anos de aposentado.
E já tem
gente começando a se preparar para sonhar em se aposentar aos 75!
Crônica:
Jorge Marin
Foto : disponível no site http://cinemabh.com/filmes/red-aposentados-e-perigosos
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