sexta-feira, 28 de outubro de 2016

FUGINDO DE AMIGOS SINCEROS


Qual é o limite da liberdade?

A pessoa vem na sua casa, fala um bando de asneiras, choca alguns de seus convidados com sua crueza de discurso, e depois diz:
- Falei mesmo. Eu sou sincero. E, além do mais, eu tenho liberdade com ele.

Aqui duas questões são colocadas.

A primeira é sobre a sinceridade. Será que você falar TUDO o que lhe vem à mente é sinceridade? Pode ser só grosseria, ou falta de respeito, ou falta de educação, ou, se o interlocutor é uma pessoa MUITO poderosa, só burrice mesmo.

Vou dar um exemplo: você vai a um enterro e é completamente agnóstico. Faz sentido você dizer à viúva “olha, isso aí que se foi não é mais o seu marido: é um amontoado de carne que já iniciou o seu processo de decomposição!”? Ou,  a uma criança que fez uma brincadeira e te pede opinião: “achei ridícula a sua gracinha, e, além disso, você é muita feia!”.

A segunda questão sobre a liberdade é mais delicada, porque, para você convidar uma pessoa à sua casa, para um jantar, um churrasco, ou um café, você deve ter um mínimo de conhecimento, de confiança, de consideração enfim. Aí, o sujeito diz uma coisa mais ou menos assim:
- Olha, sei o quanto é importante a Santa Rita de Cássia pra você. Mas, vou te dizer uma coisa: essa história de santo, pra mim, é uma balela. Não acredito nessa porcaria, não tenho o menor saco pra esse assunto e, se tivesse uma imagem dela aqui, eu ia quebrar na beirada da mesa.

Eu disse aí “Santa Rita de Cássia” porque está voltando à moda os quebradores de santa. Mas poderia ser um grande filósofo, um estilo de vida, uma outra pessoa, até mesmo um artista:
- “Não sei como é que você gosta desse Caetano Veloso. Eu acho ele um lixo”.

Pensem o que passa pela minha cabeça quando alguém vem à minha casa e fala uma barbaridade dessas? Minha primeira reação é pensar em dizer: olha, eu curto muito o Caetano e tô cagando pra sua opinião!

Mas, sabem o que tenho feito ultimamente? Não falo nada. Às vezes, até agradeço a opinião. Mas vocês imaginam quando, ainda que a pessoa seja interessante em outros aspectos, vou chamá-la de novo à minha casa?

E, vou confessar uma coisa, esta solidão que está se formando ao meu redor está tão boa. E ainda ouvindo “Podres Poderes”...

Crônica: Jorge Marin
Foto     : Mahmoud Yakut, disponível em http://www.deviantart.com/art/the-city-the-loneliness-209488254

2 comentários:

BRIGADU, GENTE!

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