Qual é o
limite da liberdade?
A pessoa
vem na sua casa, fala um bando de asneiras, choca alguns de seus convidados com
sua crueza de discurso, e depois diz:
- Falei
mesmo. Eu sou sincero. E, além do mais, eu tenho liberdade com ele.
Aqui duas
questões são colocadas.
A
primeira é sobre a sinceridade. Será que você falar TUDO o que lhe vem à mente
é sinceridade? Pode ser só grosseria, ou falta de respeito, ou falta de
educação, ou, se o interlocutor é uma pessoa MUITO poderosa, só burrice mesmo.
Vou dar
um exemplo: você vai a um enterro e é completamente agnóstico. Faz sentido você
dizer à viúva “olha, isso aí que se foi não é mais o seu marido: é um amontoado
de carne que já iniciou o seu processo de decomposição!”? Ou, a uma criança que fez uma brincadeira e te
pede opinião: “achei ridícula a sua gracinha, e, além disso, você é muita feia!”.
A segunda
questão sobre a liberdade é mais delicada, porque, para você convidar uma
pessoa à sua casa, para um jantar, um churrasco, ou um café, você deve ter um
mínimo de conhecimento, de confiança, de consideração enfim. Aí, o sujeito diz
uma coisa mais ou menos assim:
- Olha,
sei o quanto é importante a Santa Rita de Cássia pra você. Mas, vou te dizer
uma coisa: essa história de santo, pra mim, é uma balela. Não acredito nessa
porcaria, não tenho o menor saco pra esse assunto e, se tivesse uma imagem dela
aqui, eu ia quebrar na beirada da mesa.
Eu disse
aí “Santa Rita de Cássia” porque está voltando à moda os quebradores de santa.
Mas poderia ser um grande filósofo, um estilo de vida, uma outra pessoa, até
mesmo um artista:
- “Não
sei como é que você gosta desse Caetano Veloso. Eu acho ele um lixo”.
Pensem o
que passa pela minha cabeça quando alguém vem à minha casa e fala uma
barbaridade dessas? Minha primeira reação é pensar em dizer: olha, eu curto
muito o Caetano e tô cagando pra sua opinião!
Mas,
sabem o que tenho feito ultimamente? Não falo nada. Às vezes, até agradeço a
opinião. Mas vocês imaginam quando, ainda que a pessoa seja interessante em
outros aspectos, vou chamá-la de novo à minha casa?
E, vou
confessar uma coisa, esta solidão que está se formando ao meu redor está tão
boa. E ainda ouvindo “Podres Poderes”...
Crônica:
Jorge Marin
Foto : Mahmoud Yakut, disponível em http://www.deviantart.com/art/the-city-the-loneliness-209488254
Fantástica!
ResponderExcluirObrigado, Raquel! Está convidada para o nosso próximo churrasco.
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