Nesta
semana, mais um amigo sessentou...
César
Brandão, amiguirmão, em meio a preparativos para sua exposição (que está
acontecendo no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas), quase não tem tempo de
receber os parabéns. Gesticula, explica, fala e fala e fala. Seu assunto é a
vida que, para ele, é a arte.
Sempre
pensamos nos artistas como pessoas diferentes, taciturnas, intelectuais, chatas.
Brandão não é nada disso: bem-humorado, moleque, é, na verdade, o mesmo menino
saído de Santos Dumont para continuar suas artes. Até a estatura não é muito
diferente.
Nossa
relação começou com um beijo. Calma, gente! Estávamos embarcando para o sul de
Minas onde, sem saber e sem nos conhecer, iríamos trabalhar no mesmo banco, eu
em São Lourenço, ele em Boa Esperança. Sentamo-nos lado a lado, e ele, que me
observara despedindo da namorada, comentou:
- Cara,
você beija bem pra caramba!
Meio
desconcertado, iniciei com ele um papo que, entre cinema, teatro, artes
plásticas e música, durou as exatas quatro horas entre Juiz de Fora e Caxambu,
onde cada um foi para o seu canto. No entanto, as cartas, uma invenção que se
usava naquele tempo, eram usadas para transmitir novidades, projetos, sonhos.
Depois,
como fazem todos os bons amigos, afastamo-nos por uns tempos, até que, dois
anos após aquele beijo, fui transferido para o centro de processamento de dados
do mesmo banco em Juiz de Fora. Como o computador era uma invenção recente, fui
encaminhado para ser treinado nas artes da digitação, adivinhem por quem, por
ele mesmo: César Brandão.
Adepto
ferrenho da macrobiótica (se é que existe algo ferrenho na macrobiótica),
Brandão tentou me converter ao regime alimentar, mas o máximo que eu conseguia
fazer, após almoçarmos aqueles pratos, era ir comer “comida de verdade” no
Oásis.
Um dia,
também sem combinarmos, estava eu assistindo um filme do Fellini no Cine
Festival, quando, na penumbra, entra o Brandão no cinema. Eu o reconheci pelo
seu tom verde de pele da época (bônus da macrobiótica). Fui seguindo seus
passos naquele cinema apertado, até que, bem próximo, ia fazer um susto, quando
percebo o amigo, sorrateiramente, tirar um bombom Prestígio do bolso. Perverso,
espero que ele desembrulhe o chocolate e comece a salivar:
- Aí, em
Brandão, comendo chocolate escondido!!!
A
resposta foi branda:
- Comprei
pra você, amigo!
Crônica:
Jorge Marin
Foto : Leonardo Costa para o Tribuna de Minas
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