sexta-feira, 11 de março de 2016

ESCUTA SÓ !!!


Escuta só, gente!

Será que, ao escrever aqui, alguém vai ler até o final e ouvir o que eu tenho pra dizer?

A coisa funciona assim: imersos em nossos faces, twitters, whatsapps e outras mídias, adquirimos o hábito de apenas ler as manchetes. Isso nos leva a avaliar uma notícia como “Chuva causa deslizamentos em São Paulo” e “Terremoto mata 10.000 pessoas no Dijbouti” com a mesma emoção.

Esse é um hábito que, A PRINCÍPIO, não causa nenhum problema ou transtorno em nossas vidas. Só que, com o passar do tempo, começamos a apresentar o mesmo torpor com as pessoas que nos cercam. Então, se a filha chega da aula e diz que está com a menstruação atrasada, o máximo que vai arrancar da mãe é um “Ah, tá!”.

Isso acontece porque, como todas as mídias tentam (e conseguem) capturar a nossa total atenção, vamos, aos poucos, desaprendendo a OUVIR. Ficamos tão hipnotizados pelas nossas telinhas de led, que o mundo desmorona ao nosso redor, e a nossa reação é mandar uma série de “kkkkkkk”s .

Mas, a coisa não acaba por aí. O trágico mesmo é que, ALÉM DE NÃO ESCUTAR, nós queremos SEMPRE comentar. Então, quando lemos uma notícia como aquela da morte do neto do humorista, que morreu afogado numa praia do Rio de Janeiro, a nossa reação NÃO é, como seria de se esperar, de dor pela perda de um moço cheio de vida e planos. Ou de empatia com o sofrimento dos pais.

Nada disso, os primeiros comentários (vocês podem conferir nos jornais) dizem respeito a questões como “será que ele usava drogas?” ou “será que foi suicídio?”. Alguns são tão cruéis que chegam a criticar o empenho da polícia em descobrir o paradeiro do rapaz, dizendo que “queria ver se fosse o filho de um pobre!”.  

Mais uma vez, esse comportamento macabro e egoísta se reflete em nossos relacionamentos domésticos. Uma amiga chega em nossa casa e diz que está triste pela morte de uma pessoa da família. Você, sem escutar o inteiro teor da queixa, logo COMENTA em voz alta, sem tirar o olho da telinha: “pois eu acho que estou com depressão!”. Se ela disser “estou tomando erva de são joão”, você, automaticamente, “estou tomando dois prozacs”. Provavelmente, se ela disser que acha que também está com depressão, você, ainda sem ouvir, vai dizer que está com câncer.

E assim vamos levando a vida, ouvindo o que nossos fornecedores (inclusive de más notícias) querem que ouçamos, compartilhando com os familiares e amigos o que eles NÃO querem ouvir. E curtindo a mediocridade.

Crônica: Jorge Marin

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