quarta-feira, 2 de setembro de 2015

BRINCADEIRA DANÇANTE: A BATIDA DE LIMÃO


Então, pra terminarmos com esta série de postagens, em que, a pedido de alguns leitores, relembramos um pouco sobre as BRINCADEIRAS DANÇANTES ao som do Pitomba, contarei, de forma resumida, aquela que, para nós, foi a mais famosa.

Tudo aconteceu em 1972, quando, para comemorar o aniversário de dois componentes do grupo e de um amigo, nos apresentamos naquele varandão da casa de meus primos, bem ali na subida do morro do hospital. E, pra variar, alguns fatos pitorescos e até mesmo catastróficos vieram a acontecer.

Naquela apresentação, alguns componentes passaram o dia fazendo batida de limão, sendo que, a cada minuto, era feita a prova da dita cuja. Experimenta daqui, experimenta dali, e este pequeno descuido veio a nos causar um terrível desastre na hora do show (Meus queridos tios que o digam!).

Para começar, e sem prévio aviso, foi colocada uma corda, separando o palco da pista de dança. A intenção seria organizar melhor o ambiente em função da grande multidão que não parava de chegar. Acho até que teria sido uma excelente ideia, se não fosse pelo simples detalhe de ter dificultado a chegada de alguns componentes aos instrumentos. Principalmente, aqueles que passaram o dia experimentando a tal batida.

Durante a apresentação, nosso técnico em iluminação, com tanto lugar para se aliviar, foi resfolegar seu excesso, em forma de vômito, justamente em cima da tumbadora, ou melhor, num surdo que fazia a vez de tumbadora. Nosso amigo, e não menos componente simbólico do grupo, fingindo estar fazendo percussão e sem que percebesse, ficava a bater no referido instrumento, espirrando aquele negócio para tudo enquanto é lado. Pouco depois, já desmaiado, foi levado para um dos quartos da casa.

Outro colega, que também passou o dia na alquimia da tal batida, foi contratado para gravar o baile; só que, enquanto passeava como um peru tonto pela pista de dança, ficava a rodar o fio do gravador como se fosse laçar alguém. Possivelmente, nem mesmo estaria mais se lembrando da missão que lhe fora conferida.

O baterista executou somente a primeira música, por sinal a única que todos conseguiram tocar juntos. Nessa música, mesmo sentado, o referido instrumentista conseguiu dar um chute na caixa de tarol, que, após passar pelo conjunto e sair rolando pela pista de dança, por muito pouco não desceu escada abaixo.

Nosso solista, um tanto assustado e sem saber o que estaria acontecendo, olhou para  trás e  perguntou:
- O que é isso, minha gente?  - Ao que alguém, lá atrás, respondeu de imediato:
- Escorreguei numa casca de banana!

Nosso guitarrista, ao invés de observar que um baterista, por estar sentado, jamais escorregaria numa casca de banana, simplesmente balançou a cabeça e disse:
- Ainda bem!

Logo depois, para outro quarto da casa, foi encaminhado o baterista, totalmente arriado.

E, já que falamos em escada, muitos foram aqueles que, ao descerem do terraço, não mais retornaram, pois, mesmo que quisessem, jamais conseguiriam encarar o caminho de volta.  Quem subia não descia, e quem descia não conseguia subir mais.

Para agravar ainda mais a situação, estávamos naquela noite estreando nossa poderosa luz estroboscópica de fabricação caseira. Usando uma lâmpada fluorescente de 60wats, deixamos o ambiente tão alucinante, que parecia que o terraço iria decolar de uma hora para outra. Em função disso, teve uma pessoa da família que, ao chegar lá em cima para conhecer a banda, teve que ser amparada e trazida imediatamente de volta a civilização, de tão tonta que ficou,.

O conjunto terminou o baile com dois componentes apenas, e na companhia de um casal de solitários que insistiam em continuar na pista de dança. Coincidência ou não, nenhum dos quatro sobreviventes teria ajudado  a fazer a “mardita” batidinha de limão.

Enfim, um final de noite com muitas baixas e com o pé de boldo do terreiro sem uma folha sequer.

Na próxima semana, faremos um pequeno histórico da última e derradeira formação do grupo.

Crônica e foto: Serjão Missiaggia
Foto-edição   : Jorge Marin

Um comentário:

  1. O fim desta história teve jeito de dança (como convém a um baile): são dois pra lá (a dançar) e dois pra cá (a tocar).
    Se tudo vale à pena quando a alma não é pequena e muitos artistas ficaram consagrados por apenas uma música, então os pitombenses fizeram, na ocasião, o necessário para registrar sua entrada na memória de uns tantos que agora estão espalhados por este mundo de meu Deus.
    Muito chique esse negócio de tocar somente uma música todo mundo junto e depois os músicos saírem um de cada vez ao longo do show. Coisa performática de artista de vanguarda, que leva fé no próprio taco e que, vendo o mundo girar, sai de cena catando cavaco. O resto é crítica de quem não entende como as coisas acontecem...

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