Meu primeiro
contato com as drogas ocorreu quando eu era ainda muito jovem, bem jovenzinho
mesmo. Lembro-me que, meio cansado e abatido, fui levado pela minha mãe a um
lugar onde um homem idoso (que depois vim a saber que era o senhor Dario
Medina), ferveu umas coisinhas numa pequena caixa de metal.
A princípio,
achei bonito, pois a chama azul parecia muito com a do nosso novo fogão a gás
que a minha mãe me proibia de brincar perto. Mas, meus amigos, quando o homem
tirou as coisinhas lá de dentro, é que fui ver o tamanho da agulha! Já fiquei
assustado, mesmo sem saber onde é que iriam enfiar aquela pequena espada.
Mas, aí é
que o trem complicou de vez, pois, num golpe espetacular, minha mãe me deu uma
gravata (digna do lutador Ted Boy Marino), baixou minhas calças, e o velho
passou um algodãozinho gelado e tascou aquela agulhona na minha bunda. E, o
pior de tudo, eu ainda não havia aprendido nenhum palavrão pra gritar naquela
hora!
Passado o
meu choro, e descendo a Rua do Totó meio capenga, percebi que a minha chieira
estava passando e tive vontade até de correr. Minha mãe me segurava pela mão e
disse que iríamos pra casa comer o meu prato favorito, que era pão com linguiça
e tomate.
Depois desse
episódio, ainda tive contato com muitas outras drogas, umas boas, outras nem
tanto. Minha mãe parecia extasiada, pois parecia que, finalmente, sua asma
teria cura e, o que é mais importante, eu não iria sofrer o que ela sofreu
quando criança.
E assim,
juntos, fomos viajando no mundo das drogas. Tão logo aprendi a ler, descobri
que o sô Dario consultava o nome daquelas coisas que, graças a Deus, não
apresentavam muitas injeções, num livrão chamado “productos medicinaes,
compendiados em o Pharol Medicinal”.
Sei que
quase todos vocês também já tiveram experiências com drogas, como: os xaropes
Benadril e Ambenil (tão gostosos que sempre arrumávamos uma tosse para tomá-los),
o Elixir Paregórico (da mesma forma, sempre reclamávamos de dor de barriga),
pastilhas Milma e Malvona, Vick Vaporub à base de cânfora, o Chophytol feito de
alcachofra, as Pílulas da Vida do Dr. Ross, as Pílulas de Lussen (que faziam o
xixi ficar azul). E mais: Pondicilina, Optalidon, Astringosol, Peitoral
Pinheiro, e o nojento Colubiasol (eca!).
Um dia,
já maiorzinho, e consumidor frenético de drogas, ouvi minha tia Ceição dizer
que, na missa, o padre Oswaldo havia dito que havia uns remédios, iguais a
esses nos quais “nadávamos”, que eram do mal: eram os “tóchicos” que, segundo
ela, obrigavam as pessoas a cometer pecados.
Pensei:
puxa, que pena! Logo agora que eu havia descoberto a dimetilaminofenildimetilpirazolona! Era uma droga que
o pai tomava: a Cibalena! Semana que vem, podem voltar, que tem mais drogas
aqui.
Crônica: Jorge Marin
Foto :
disponível em http://carissimascatrevagens.blogspot.com.br/2009_03_01_archive.html
"Dimetilaminofenildimetilpirazolona" ???
ResponderExcluirIsso que é nome de remédio! Tem que ter bom preparo linguístico e pulmonar para falar esse trem!