sexta-feira, 25 de setembro de 2015

TÓCHICOS - O Início da Dependência


Meu primeiro contato com as drogas ocorreu quando eu era ainda muito jovem, bem jovenzinho mesmo. Lembro-me que, meio cansado e abatido, fui levado pela minha mãe a um lugar onde um homem idoso (que depois vim a saber que era o senhor Dario Medina), ferveu umas coisinhas numa pequena caixa de metal.

A princípio, achei bonito, pois a chama azul parecia muito com a do nosso novo fogão a gás que a minha mãe me proibia de brincar perto. Mas, meus amigos, quando o homem tirou as coisinhas lá de dentro, é que fui ver o tamanho da agulha! Já fiquei assustado, mesmo sem saber onde é que iriam enfiar aquela pequena espada.

Mas, aí é que o trem complicou de vez, pois, num golpe espetacular, minha mãe me deu uma gravata (digna do lutador Ted Boy Marino), baixou minhas calças, e o velho passou um algodãozinho gelado e tascou aquela agulhona na minha bunda. E, o pior de tudo, eu ainda não havia aprendido nenhum palavrão pra gritar naquela hora!

Passado o meu choro, e descendo a Rua do Totó meio capenga, percebi que a minha chieira estava passando e tive vontade até de correr. Minha mãe me segurava pela mão e disse que iríamos pra casa comer o meu prato favorito, que era pão com linguiça e tomate.

Depois desse episódio, ainda tive contato com muitas outras drogas, umas boas, outras nem tanto. Minha mãe parecia extasiada, pois parecia que, finalmente, sua asma teria cura e, o que é mais importante, eu não iria sofrer o que ela sofreu quando criança.

E assim, juntos, fomos viajando no mundo das drogas. Tão logo aprendi a ler, descobri que o sô Dario consultava o nome daquelas coisas que, graças a Deus, não apresentavam muitas injeções, num livrão chamado “productos medicinaes, compendiados em o Pharol Medicinal”.

Sei que quase todos vocês também já tiveram experiências com drogas, como: os xaropes Benadril e Ambenil (tão gostosos que sempre arrumávamos uma tosse para tomá-los), o Elixir Paregórico (da mesma forma, sempre reclamávamos de dor de barriga), pastilhas Milma e Malvona, Vick Vaporub à base de cânfora, o Chophytol feito de alcachofra, as Pílulas da Vida do Dr. Ross, as Pílulas de Lussen (que faziam o xixi ficar azul). E mais: Pondicilina, Optalidon, Astringosol, Peitoral Pinheiro, e o nojento Colubiasol (eca!).

Um dia, já maiorzinho, e consumidor frenético de drogas, ouvi minha tia Ceição dizer que, na missa, o padre Oswaldo havia dito que havia uns remédios, iguais a esses nos quais “nadávamos”, que eram do mal: eram os “tóchicos” que, segundo ela, obrigavam as pessoas a cometer pecados.

Pensei: puxa, que pena! Logo agora que eu havia descoberto a dimetilaminofenildimetilpirazolona! Era uma droga que o pai tomava: a Cibalena! Semana que vem, podem voltar, que tem mais drogas aqui.

Crônica: Jorge Marin

Um comentário:

  1. "Dimetilaminofenildimetilpirazolona" ???
    Isso que é nome de remédio! Tem que ter bom preparo linguístico e pulmonar para falar esse trem!

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BRIGADU, GENTE!

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