sexta-feira, 18 de setembro de 2015

LEIO. LOGO, DUVIDO!


Tô eu tranquilo em minha humilde residência, exercendo aquele sábio costume mexicano que se chama siesta após o almoço, quando toca o interfone. Atendo, já meio contrariado, quando uma voz pergunta:
- Aí é o apartamento do seu Sebastião? – e, já impaciente, respondo:
- O Sebastião é no 502.
Mas o cara lá embaixo não desiste:
- Aqui no meu documento de entrega diz que ele mora no 401!

Nessa hora, confesso que, um pouco sem paciência, desligo e fico pensando: o que será que esse despertador de aposentados pretende? Será que ele quer que eu suba lá no apartamento 502 e traga o Sebastião para morar comigo? Ou será que ele quer que eu mude meu nome para Sebastião para que, conferindo com o seu documento de entrega, ele possa entregar a encomenda que eu não pedi?

Pode parecer bizarro, mas um grande problema atual, talvez um dos maiores, é a tendência que temos em acreditar no que está escrito. Antigamente, talvez tal costume fosse até justificável pois, como a maioria das pessoas não sabia ler, quando algum douto leitor falava, todos acreditavam.

Mas, nos dias atuais, me parece uma bizarrice. Cito um exemplo: um dos temas mais discutidos, a questão da condenação do homossexualismo na Bíblia, é respaldada num trecho do Levítico (originalmente um manual de normas de uma das tribos de Israel): “Não se deite com um homem como quem se deita com uma mulher; é repugnante”.

Essa máxima é citada como se fosse uma condenação eterna. No entanto, quem se dá ao trabalho de conferir a escritura, antes de condenar, vai ver que esse capítulo 18 é um manual que recomenda aquelas pessoas com as quais não devemos nos envolver sexualmente. São as seguintes: a sua mãe (bem freudiano, não é?), a sua madrasta, a sua irmã, a sua neta, a sua tia, a sua nora, a sua cunhada, uma mulher e a filha dela ao mesmo tempo, uma mulher menstruada, a mulher do próximo, o citado outro homem e um animal.

Nós, casados, só podemos fazer sexo com a nossa própria esposa e, mesmo assim, para reprodução. A esposa é descrita, em Provérbios 5:19, como: “amável corça, graciosa cabra-montesa. Que os seus seios o satisfaçam todo o tempo. Que o amor dela sempre o extasie”. Por aí, também dá pra ver que teremos problema, pois, ao exortar a nossa amada, após concluídas as tarefas do dia, para nos extasiar como “está escrito”, dizendo:
- E aí, cabra-montesa, vai rolar? – possivelmente, teremos algum tipo de concussão.

A própria Bíblia, nos Salmos 14 e 53, diz “Deus não existe!”. Quando leio esse trecho, até meio profano, sou despertado da minha viagem pelo barulho estridente do interfone. É o tal entregador:
- O sô Sebastião já chegou? - corro para a Bíblia e procuro, avidamente, aquela parte dos raios caindo sobre a terra. Acho que é no Pentateuco.

Crônica: Jorge Marin
Foto: cena da peça Hermanoteu na Terra de Godah, da Companhia de Teatro Melhores do Mundo, disponível em http://portalpopcorn.com.br/her%C2%ADma%C2%ADno%C2%ADteu-na-terra-de-godah-retorna-ao-citi%C2%ADbank-hall/ 

Um comentário:

  1. Uma interessante reflexão bíblica!
    Já pode sair por aí catequizando jovens espíritos.

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BRIGADU, GENTE!

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VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL