sexta-feira, 13 de março de 2015

EU NÃO QUERO BRINCAR DE REVOLUÇÃO FRANCESA


Embora o Blog tenha sua política, em sua maneira de agir e em sua civilidade, não nos posicionamos partidariamente porque este não é o nosso propósito, e também em respeito à diversidade de pensamento dos nossos leitores.

Portanto, o que vou escrever aqui não se trata de defender ou atacar este ou aquele partido político. Porém, como os pitombenses originais vivemos os chamados Anos de Chumbo, não posso deixar de externar aos leitores a minha preocupação pessoal sobre a forma como as pessoas têm se portado em relação ao (conturbado) momento político atual.

Tenho recebido, através das mídias sociais, convocações para participar de uma manifestação de repúdio ao governo no próximo domingo. Até aí nada de mais, pois acho lícito que o cidadão exprima o seu descontentamento, a sua angústia e até mesmo, por que não, o seu ódio.

O que me preocupa é a forma das convocações, pois nos convocam a “mostrar que no Brasil o povo esclarecido pode realmente mudar o rumo da história, já que pelas urnas vai ser difícil, por motivos óbvios”.

Ora, se não mudarmos os governantes pelas urnas, será de que forma? Usando a mesma estratégia de Hitler que, após derrotado nas eleições de 1932, utilizou-se de sucessivos golpes para assumir o controle da Alemanha? Ou, para citar um de esquerda que não chegou ao poder pelas urnas, será que a mudança vai ser semelhante àquela feita por Lenin na Rússia em 1917, quando, após sucessivas derrotas políticas, depôs o governo da Rússia e, logo depois, também o da Ucrânia, deixando um saldo de mais de quatorze milhões de mortos?

Posso estar exagerando, mas a própria existência de um povo “esclarecido” implica na existência de um outro povo não-esclarecido. E quem seria este povo não-esclarecido? Aqueles que votaram na atual presidente? Ou aqueles que não aceitam a ascensão social de grande parte da população nos últimos 12 anos?

Dessa forma, no próximo domingo eu tô fora. Se for para mudar o governo pelas urnas, fazendo um pacto nacional de jamais votar em um político que já tenha exercido mandato, eu aceito e defendo a ideia. Mas, mudar via golpe não! Não quero brincar de Revolução Francesa. Porque conheci, na pele, mesmo dentro da doçura da nossa querida São João Nepomuceno, o gosto amargo da INTOLERÂNCIA. Esta intolerância que identifica e rotula como inimigos todos os que não se enquadram na sua ideologia pessoal, e que, no caso de uma manifestação como a do próximo domingo, recebe todos à bala.

Não, eu não estou satisfeito com a situação nacional, mas não concordo com a apologia à destruição das instituições, como se se pudesse, apenas através do legítimo exercício da energia da dignidade (que é uma coisa positiva), destruir tudo e, automaticamente, criar uma utopia.

Utopias não existem, e nunca vão existir. O que há, no mundo real, é sempre uma esperança: de que haja menos corrupção, mais respeito aos direitos humanos e um melhor diálogo entre governantes e governados. É uma coisa meio chatinha, chamada “democracia”.

Crônica: Jorge Marin
Foto     : Mauroof Khaleel, disponível em http://archive.thedailystar.net/forum/2012/October/institution.htm

2 comentários:

  1. Fui para rua em BH.
    O movimento não foi contra o resultado das urnas. O problema é que ninguém aguenta mais tanta corrupção e o fato de político achar que seremos, eternamente, idiotas. O Lula e Dilma não serão presos, simplesmente, porque não serão investigados. Se investigar, prende.

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    1. Meri, parabéns! Concordo com você por ter ido para a rua em BH, e também com o fato de que ninguém aguenta tanta corrupção e impunidade. A minha questão é contra a INTOLERÂNCIA, pois, atualmente, qualquer grupamento de pessoas é suficiente para alguns expressarem os seus ódios mais primitivos. Há muitos oportunistas infiltrados e, na minha idade, já não tenho paciência para conviver com sandices, como volta dos militares e golpe. Mas quem foi, assim como você, para lavar a alma e exercer aquilo que eu chamei de energia da dignidade, eu tiro o chapéu.

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