Fotos do
passado normalmente nos remetem a um tempo mais feliz. A foto publicada aqui no
BLOG na quarta-feira, mostrando uma cena da Rua do Sarmento, provocou muitos
comentários do tipo “ah, naquele tempo é que era bom!”, ou “saudades”, “eu era
feliz e sabia”, entre outros.
Mas o que
será que nos fazia tão felizes e, o que é mais importante, o que nos falta hoje
para voltarmos a ser felizes como “naquele tempo”?
Alguns
podem dizer que é a juventude e não deixam de ter certa razão, pois é uma época
da vida em que, teoricamente, éramos mais livres e tínhamos muitos sonhos. Mas
será que éramos mesmo mais livres, tendo horários rígidos para chegar em casa?
E, cá pra nós, se sonhar trouxesse a felicidade, acordaríamos sempre de bom
humor, não é verdade?
Eu,
pessoalmente, acho que vivíamos uma espécie de delírio coletivo, pois tínhamos
a certeza absoluta de que, apesar de qualquer coisa que nos acontecesse, teríamos
a possibilidade, grande, de ir, após nossa passagem pela Terra, para um
paraíso, onde SÓ haveria a felicidade e, o que é mais fantástico, ela duraria
pela eternidade.
Não entro
no mérito das religiões, por se tratar de matéria de cunho pessoal de cada
leitor. Mas, a crença simplória numa vida eterna feliz, que é uma ideia
presente na história da humanidade desde o século XI, nos dava uma tremenda
tranquilidade, e uma leveza de alma que pode ser uma das coisas das quais nos
sentimos saudosos.
Hoje,
ainda que acreditemos numa existência após a morte, o mundo moderno nos impõe
uma opção inevitável por uma vida que devemos viver antes da morte. Assim,
buscamos, nesse breve tempo (quando comparado com a eternidade), desempenhar
certas atividades, posturas e realizações que se assemelhem àquele ideal de
felicidade que intuímos, porém sem a leveza e a tranquilidade que antes
possuíamos.
Na busca,
muitas vezes descontrolada, pelo que chamamos de felicidade, mas não é
felicidade, porque é apenas uma ideia, acabamos derrapando, ou enfiando o pé na
jaca de forma exagerada. Deixamos de ser humanos, e passamos a ser
estereótipos, como se, de repente, estivéssemos em um reality show e não quiséssemos ser eliminados.
Só que,
no show da vida, nós somos eliminados. Assim, esse descompasso entre uma busca compulsória
por uma felicidade que, enquanto humanos, jamais alcançaremos, e por uma paz
que só existe no angélico mundo virtual, vai nos levar, de maneira paradoxal a
uma inevitável depressão, um dos sintomas principais da cultura atual, que terá
o efeito inverso à nossa busca: uma infelicidade profunda e uma certeza (outro
delírio?) de que a nossa vida não vale nada.
Crônica: Jorge Marin
Foto : Christian
(Chris loves photography), disponível em https://www.flickr.com/photos/51010950@N04/favorites/
Meu crônico amigo Jorge.
ResponderExcluirQuanto mais leio o que você escreve, mais tenho a certeza de que feliz é quem saber (vi)ver o presente como a melhor oportunidade de se sentir bem!
É isso, meu amigo, como dizia o velho Horácio, "Carpe diem, quam minimum credula postero" que não sei traduzir pois manjo pouco de latim, mas é uma coisa como: Curta o dia atual e o mínimo possível no dia de amanhã!
ExcluirParabéns, amigo Jorge, pela belo, oportuno e interessante artigo!
ResponderExcluirObrigado, Wanderley! Na postagem, apresentamos a ideia e aqui, nos comentários, confraternizamos com os amigos.
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