Quem navega
pelo Facebook por estes dias tem a nítida impressão de que as pessoas estão
cada vez mais conscientes e informadas sobre os assuntos mais diversos.
Todo
mundo sabe qual a melhor alternativa para o caos moral no qual mergulhou o
país, todos conhecem a alimentação ideal para uma vida saudável, e praticamente
todos entendem como cultivar amigos, milhares de amigos.
Só uma
coisa grande parte das pessoas não sabe: como reagir a uma crítica. Quando criticadas,
elas se ofendem, tomam como uma ofensa pessoal e, basta contrariar as suas
convicções, que ficam agressivas e até mesmo ameaçam fazer aquilo que, acham
elas, seria a maior tristeza para o pobre crítico: desfazer a amizade.
Esse
comportamento, embora apareça mais no Face, não é restrito às redes sociais.
Diz o filósofo Luiz Felipe Pondé, autor do livro “A Era do Ressentimento”, que
há um sentimento meio que universal de achar que todos devem nos amar mais do
que normalmente amam, e reconhecer valores que, na realidade, não temos. Diz o
filósofo que, quando cai a ficha de que os outros não estão nem aí pra nós,
assim como a natureza existe por si e, da mesma forma, não tem a menor “preocupação”
com a nossa existência ou não, entramos num desespero que outro filósofo,
Nietzsche, chamava de ressentimento.
O ressentimento
é uma ilusão de que temos “direito” a essa adoração que muitas mães costumam
devotar aos seus filhos, com a finalidade de, através das crianças, emergir do
mar de mediocridade na qual se veem às vezes mergulhadas.
Mas o
ressentimento funciona também como uma defesa com a qual cuidadosamente
construímos o nosso narcisismo. Fala-se muito que vivemos um tempo de
narcisismo e egocentrismo e costumamos associar tais conceitos a artistas e
pessoas muito belas e poderosas que, por isto, são apaixonadas por si mesmas.
Na verdade,
o que ocorre é o oposto: narcisistas são, geralmente, pessoas inseguras e
solitárias que têm uma inveja crônica dos outros e, paradoxalmente, se julgam alvos da inveja, vítima de “olho gordo”. O que o narcisista não percebe, no
seu delírio de poder e genialidade, é que a sua empáfia e falta de talento não
são capazes de despertar nada além de desprezo.
Crônica:
Jorge Marin
Foto : disponível em www.ocontroleremoto.com/hoje-todo-mundo-faz-selfie/
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