sexta-feira, 6 de março de 2015

TÔ NO BIG BROTHER!


Quando se fala em Big Brother, normalmente se pensa no programa de televisão que todos criticam, mas a maioria assiste. Há também uma referência ao livro “1984”, do escritor inglês George Orwell, que descreve uma sociedade imaginária na qual tudo é feito de forma coletiva, exceto a vida privada, que cada um vive sozinho.

Quando digo vida privada aí, há uma correção a fazer, pois cada pessoa é vigiada o tempo todo por um poder onipresente chamado, justamente, de Big Brother.

Bom, mas e o que temos nós a ver com isso? Vocês que me leem têm toda a sorte do mundo, pois, enquanto estão aí lendo, os mecanismos de pesquisa da Internet estão registrando e monitorando as suas preferências. Imaginem se estivessem num site impróprio: amanhã cedo receberiam algum tipo de propaganda de algemas, ou o anúncio de uma liquidação de pole dance, quem sabe?

Recebi uma ligação ontem na qual uma moça muito educada identificou-se como representante do meu cartão de crédito. Confesso que quase desliguei pensando tratar-se de telemarketing, mas, como ela sabia muitas coisas a meu respeito, escutei:
- Senhor, parece que o seu cartão foi clonado, e teremos que substituí-lo – disse a tal moça.

Quando perguntei como foi que eles tinham chegado à conclusão de que o meu cartão teria sido clonado, ela respondeu que havia um compra de roupas masculinas em dólar, e acrescentou: “o senhor nunca compra roupas masculinas com o seu cartão!” (parecia até minha mulher falando). E ainda me lembrou que, normalmente, tenho gasto dinheiro em livros de filosofia, psicanálise e budismo.

Pensei: pronto, estou no BBB! Perguntei à moça do cartão se, por acaso, eles lá ficavam olhando e comentando uns com os outros sobre as coisas que a gente compra. Ela disse que não, que os dados eram confidenciais, mas que eram utilizados para a minha segurança, tanto que a tal compra de roupas masculinas não era mesmo minha.

No entanto, fiquei pensando: se era para a minha segurança, por que é que estou me sentindo tão inseguro? Por que me sinto tão intimidado quando entro em uma loja e vejo aquele tradicional “sorria, você está sendo filmado”? Mesmo na rua, em frente à minha casa, tem uma baita câmera que me filma 24 horas por dia.

Acho que, quando se fala em sociedade socialista ou fascista, o meu medo continua sendo o mesmo que o meu pai tinha há cinquenta anos atrás: que te mandem para o paredão (hoje reinventado). Será que é isso?

Crônica: Jorge Marin
Foto     : frame do filme Sleeper, de Woody Allen

4 comentários:

  1. Reflexão muito boa. Estamos mesmo num BBB. E eu me pergunto: até onde isto irá?
    Mika

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    1. Bem, Mika, como (aparentemente) não temos aqui o nefasto Quarto 101 do livro, não precisamos seguir o destino do Winston e passar a amar o Big Brother. Acho que saber como o sistema funciona já é um bom começo. Dizem os budistas que somos livres se acordarmos do mundo das aparências.

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  2. A sensação que tenho é que a vigilância externa aumenta na mesma medida em que diminui a noção de vigilância interna, aquela associada ao caráter e outras posturas pessoais e sociais.
    Será que nossas condutas (sejam as ativas ou passivas) vão transformar nossa vida numa daquelas equações de matemática que terminam em zero depois de dar o maior trabalho?

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    1. Interessante, Sylvio, você pode ter levantado uma importante questão, pois, realmente, à medida em que a moral deteriora, a sociedade se vê tentada a reforçar os mecanismos protetores da ética. Nada mais é que cópia tecnológica daquele anjo que ficava na porta do Jardim do Éden com uma espada flamejante na mão (acho que era Gabriel) para evitar que o homem (e a mulher) voltem. No entanto, da serpente, que instilou todo aquele fuzuê, não se tem notícia até hoje.

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