quarta-feira, 11 de março de 2015

A PERERECA MORA AO LADO


Outro fato digno de registro, também já postado aqui no Blog, foi um famoso baile que fizemos numa pequena cidade vizinha, lá pelos idos de milinovecentos e setenta e dois.  E a coisa foi mais ou menos assim:

O referido baile vinha transcorrendo naturalmente, até que um zunzum estranho durante o intervalo, vindo do fundo do palco, começou a acontecer. Até então alguns componentes, antes descansando, começaram repentinamente a se agitar sem parar.  

Alguém, que agora me foge a memória, teria simplesmente descoberto que o palco fazia parede meia com o banheiro das mulheres. Até aí nada demais, se não fosse pelo simples fato de também ser separado por uma velha porta. Por sinal, para nossa felicidade, já bem maltratada.

Foi quando, após breve reunião, resolvemos fazer, escondidos da Nely, o que todos já devem estar imaginando, ou seja, UM BURACO NA PORTA!

E assim, enquanto acontecia o intervalo, começamos despistadamente a preparar o ambiente para aquele que seria o grande “furo” de reportagem.                                                                              Nosso intuito seria, antes de qualquer coisa, ficar o mais escondido possível, inclusive da Nely. E quanta emoção naquela sedutora aventura recheada de hormônios!

Primeiramente, procuramos empurrar para bem próximo do local, alguns vasos que se encontravam nas laterais do palco, juntamente com as caixas de som do aparelho de voz. O ambiente teria que ficar perfeito, onde ninguém na pista de dança ou mesmo no palco fosse capaz de nos ver.

Enfim, com a ajuda de uma chave de fenda, a velha porta, finalmente, seria vazada. Naquela hora, amontoávamos uns sobre os outros querendo, a todo custo e ao mesmo tempo, poder encostar o nariz na porta e tacar logo o olho no bendito orifício. 

Fui o segundo no par ou ímpar, mas, para minha felicidade, aquele que seria o primeiro foi solicitado a comparecer na frente do palco. Muito a contragosto, assumi a primeira colocação, mas teria, a pedido dos demais, que ir narrando passo a passo, tudo o que via. Dessa forma, após subir num pequeno banquinho, lá fui eu, já com as pernas meio bambas, dar minha primeira espiadela. Tudo muito corrido, pois o baile já estava prestes a recomeçar.

De imediato, reparei que o local deveria ser uma sala anexa aos banheiros, pois o que mais se via era mulher retocando maquiagem, cabelo, abotoando calça e ajeitando sutiã. Pelos meus cálculos, o buraco, coincidentemente, teria sido vazado próximo à pia, e um pouco abaixo do espelho, pois, até o momento, somente nariz, e muito nariz era minha principal visão.

Um tanto decepcionado, e já pensando em passar a vez ao próximo, eis que, repentinamente, me entra no recinto uma linda morena de olhos verdes aparentando pouco mais de vinte e cinco anos. Dessa forma, sentindo nas entrelinhas que, finalmente, teria chegado o grande momento, pedi que aguardassem um pouco mais! Foi difícil convencê-los, mas consegui!

E lá veio ela se aproximando. A expectativa foi geral e um imenso silêncio tomou conta de todos. Frente ao espelho, e já quase cara a cara comigo, após dar uma bela ajeitada no sutiã, ameaçou tirar a blusa. Naquela hora não se ouvia um único gemido do nosso lado. Pensando bem... Até que se ouvia!!!

Enquanto minhas pernas tremiam ainda mais, procurava, na medida do possível, ir narrando aos distintos parceiros, detalhe por detalhe, tudo aquilo que estava vendo. Era um empurra-empurra danado, pois todos se atracavam e queriam acompanhar, em tempo real, e da melhor maneira possível, minha narrativa. O negócio era ver, ou simplesmente imaginar, o que realmente estaria acontecendo do outro lado daquela porta.

Já no ápice daquele que seria o grande momento, quando a cena parecia que finalmente iria ser bondosa comigo, o inusitado mais uma vez acontece: a linda morena, ao se aproximar perigosamente do buraco, simplesmente, num ato de extrema falta de educação com minha escondida pessoa, após sacar da boca uma bela dentadura, se é que podemos dizer que exista algum grau de beleza naquilo, começou, a menos de meio palmo do meu nariz, a escová-la com os dedos.

-E lá se foi minha musa! – pensei. Por sinal, sem um dente sequer na boca e com aquela  perereca indecente na mão.

Enquanto isso, pra não perder a pose, e muito menos deixar que minha peteca caísse, continuei simplesmente a narrar pra galera aquilo que na verdade não estaria vendo. Ou seja, um strip. Foi torturante, mas acredito que fui capaz de enganá-los. A eles e a mim também!

E a Nely? Acompanhando tudo e morrendo de rir!

Crônica: Serjão Missiaggia
Foto     : acervo do autor

Um comentário:

BRIGADU, GENTE!

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