Outro fato
digno de registro, também já postado aqui no Blog, foi um famoso baile que fizemos
numa pequena cidade vizinha, lá pelos idos de milinovecentos e setenta e dois. E a coisa foi mais ou menos assim:
O referido baile
vinha transcorrendo naturalmente, até que um zunzum estranho durante o
intervalo, vindo do fundo do palco, começou a acontecer. Até então alguns
componentes, antes descansando, começaram repentinamente a se agitar sem parar.
Alguém, que
agora me foge a memória, teria simplesmente descoberto que o palco fazia parede
meia com o banheiro das mulheres. Até aí nada demais, se não fosse pelo simples
fato de também ser separado por uma velha porta. Por sinal, para nossa
felicidade, já bem maltratada.
Foi quando,
após breve reunião, resolvemos fazer, escondidos da Nely, o que todos já devem
estar imaginando, ou seja, UM BURACO NA PORTA!
E assim, enquanto
acontecia o intervalo, começamos despistadamente a preparar o ambiente para
aquele que seria o grande “furo” de reportagem. Nosso
intuito seria, antes de qualquer coisa, ficar o mais escondido possível,
inclusive da Nely. E quanta emoção naquela sedutora aventura recheada de
hormônios!
Primeiramente,
procuramos empurrar para bem próximo do local, alguns vasos que se encontravam
nas laterais do palco, juntamente com as caixas de som do aparelho de voz. O ambiente
teria que ficar perfeito, onde ninguém na pista de dança ou mesmo no palco
fosse capaz de nos ver.
Enfim, com a
ajuda de uma chave de fenda, a velha porta, finalmente, seria vazada. Naquela
hora, amontoávamos uns sobre os outros querendo, a todo custo e ao mesmo tempo,
poder encostar o nariz na porta e tacar logo o olho no bendito orifício.
Fui o segundo
no par ou ímpar, mas, para minha felicidade, aquele que seria o primeiro foi
solicitado a comparecer na frente do palco. Muito a contragosto, assumi a
primeira colocação, mas teria, a pedido dos demais, que ir narrando passo a
passo, tudo o que via. Dessa forma, após subir num pequeno banquinho, lá fui
eu, já com as pernas meio bambas, dar minha primeira espiadela. Tudo muito
corrido, pois o baile já estava prestes a recomeçar.
De imediato,
reparei que o local deveria ser uma sala anexa aos banheiros, pois o que mais
se via era mulher retocando maquiagem, cabelo, abotoando calça e ajeitando
sutiã. Pelos meus cálculos, o buraco, coincidentemente, teria sido vazado
próximo à pia, e um pouco abaixo do espelho, pois, até o momento, somente
nariz, e muito nariz era minha principal visão.
Um tanto
decepcionado, e já pensando em passar a vez ao próximo, eis que, repentinamente,
me entra no recinto uma linda morena de olhos verdes aparentando pouco mais de
vinte e cinco anos. Dessa forma, sentindo nas entrelinhas que, finalmente,
teria chegado o grande momento, pedi que aguardassem um pouco mais! Foi difícil
convencê-los, mas consegui!
E lá veio ela
se aproximando. A expectativa foi geral e um imenso silêncio tomou conta de
todos. Frente ao espelho, e já quase cara a cara comigo, após dar uma bela
ajeitada no sutiã, ameaçou tirar a blusa. Naquela hora não se ouvia um único
gemido do nosso lado. Pensando bem... Até que se ouvia!!!
Enquanto minhas
pernas tremiam ainda mais, procurava, na medida do possível, ir narrando aos
distintos parceiros, detalhe por detalhe, tudo aquilo que estava vendo. Era um
empurra-empurra danado, pois todos se atracavam e queriam acompanhar, em tempo
real, e da melhor maneira possível, minha narrativa. O negócio era ver, ou
simplesmente imaginar, o que realmente estaria acontecendo do outro lado
daquela porta.
Já no ápice
daquele que seria o grande momento, quando a cena parecia que finalmente iria
ser bondosa comigo, o inusitado mais uma vez acontece: a linda morena, ao se
aproximar perigosamente do buraco, simplesmente, num ato de extrema falta de
educação com minha escondida pessoa, após sacar da boca uma bela dentadura, se
é que podemos dizer que exista algum grau de beleza naquilo, começou, a menos
de meio palmo do meu nariz, a escová-la com os dedos.
-E lá se foi
minha musa! – pensei. Por sinal, sem um dente sequer na boca e com aquela perereca indecente na mão.
Enquanto isso,
pra não perder a pose, e muito menos deixar que minha peteca caísse, continuei
simplesmente a narrar pra galera aquilo que na verdade não estaria vendo. Ou
seja, um strip. Foi torturante, mas acredito que fui capaz de enganá-los. A
eles e a mim também!
E a Nely? Acompanhando
tudo e morrendo de rir!
Crônica: Serjão
Missiaggia
Foto : acervo do autor
Com uma perereca dessa qualquer príncipe fica desencantado!...
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