sexta-feira, 27 de março de 2015

EU ERA FELIZ (E DELIRAVA)


Fotos do passado normalmente nos remetem a um tempo mais feliz. A foto publicada aqui no BLOG na quarta-feira, mostrando uma cena da Rua do Sarmento, provocou muitos comentários do tipo “ah, naquele tempo é que era bom!”, ou “saudades”, “eu era feliz e sabia”, entre outros.

Mas o que será que nos fazia tão felizes e, o que é mais importante, o que nos falta hoje para voltarmos a ser felizes como “naquele tempo”?

Alguns podem dizer que é a juventude e não deixam de ter certa razão, pois é uma época da vida em que, teoricamente, éramos mais livres e tínhamos muitos sonhos. Mas será que éramos mesmo mais livres, tendo horários rígidos para chegar em casa? E, cá pra nós, se sonhar trouxesse a felicidade, acordaríamos sempre de bom humor, não é verdade?

Eu, pessoalmente, acho que vivíamos uma espécie de delírio coletivo, pois tínhamos a certeza absoluta de que, apesar de qualquer coisa que nos acontecesse, teríamos a possibilidade, grande, de ir, após nossa passagem pela Terra, para um paraíso, onde SÓ haveria a felicidade e, o que é mais fantástico, ela duraria pela eternidade.

Não entro no mérito das religiões, por se tratar de matéria de cunho pessoal de cada leitor. Mas, a crença simplória numa vida eterna feliz, que é uma ideia presente na história da humanidade desde o século XI, nos dava uma tremenda tranquilidade, e uma leveza de alma que pode ser uma das coisas das quais nos sentimos saudosos.

Hoje, ainda que acreditemos numa existência após a morte, o mundo moderno nos impõe uma opção inevitável por uma vida que devemos viver antes da morte. Assim, buscamos, nesse breve tempo (quando comparado com a eternidade), desempenhar certas atividades, posturas e realizações que se assemelhem àquele ideal de felicidade que intuímos, porém sem a leveza e a tranquilidade que antes possuíamos.

Na busca, muitas vezes descontrolada, pelo que chamamos de felicidade, mas não é felicidade, porque é apenas uma ideia, acabamos derrapando, ou enfiando o pé na jaca de forma exagerada. Deixamos de ser humanos, e passamos a ser estereótipos, como se, de repente, estivéssemos em um reality show e não quiséssemos ser eliminados.

Só que, no show da vida, nós somos eliminados. Assim, esse descompasso entre uma busca compulsória por uma felicidade que, enquanto humanos, jamais alcançaremos, e por uma paz que só existe no angélico mundo virtual, vai nos levar, de maneira paradoxal a uma inevitável depressão, um dos sintomas principais da cultura atual, que terá o efeito inverso à nossa busca: uma infelicidade profunda e uma certeza (outro delírio?) de que a nossa vida não vale nada.

Crônica: Jorge Marin
Foto     : Christian (Chris loves photography), disponível em https://www.flickr.com/photos/51010950@N04/favorites/

4 comentários:

  1. Meu crônico amigo Jorge.
    Quanto mais leio o que você escreve, mais tenho a certeza de que feliz é quem saber (vi)ver o presente como a melhor oportunidade de se sentir bem!

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    1. É isso, meu amigo, como dizia o velho Horácio, "Carpe diem, quam minimum credula postero" que não sei traduzir pois manjo pouco de latim, mas é uma coisa como: Curta o dia atual e o mínimo possível no dia de amanhã!

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  2. Parabéns, amigo Jorge, pela belo, oportuno e interessante artigo!

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    1. Obrigado, Wanderley! Na postagem, apresentamos a ideia e aqui, nos comentários, confraternizamos com os amigos.

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