Ainda falando
sobre a ida a São João na semana passada, encontrei um colega que brincava
parcialmente comigo quando éramos crianças. Eu digo parcialmente porque,
enquanto ela jogava futebol, rolava na lama, corria atrás dos caminhões pra
roubar cana, eu, simplesmente, assistia a tudo isso.
- Você
era asmático – justificou ele.
Pensando
naquele tanto de aventuras que eu perdi, tenho que reconhecer algumas verdades:
primeiramente, que pode ser que eu não suportasse tanta ação assim e nem
estivesse vivo aqui pra contar este causo; em segundo lugar, a culpa não foi da
asma que, por sinal, até o presente momento, não deu ainda o ar da sua graça,
ou desgraça.
Na
verdade, vejam vocês, a culpa foi do ADJETIVO! Prestem bastante atenção e vejam
se não estou certo. As famílias, principalmente as daquele tempo, sempre precisaram
de um bode expiatório, uma ovelha negra, um desajustado, um esquisitão. Enfim,
uma pessoa em que se pudesse depositar os sintomas todos e, dessa maneira, a
família funcionava bem. Mas aquele sujeito... era o “pobremático”. Ou pobre
asmático, como era o meu caso.
Não
estou, com isso, tirando a responsabilidade sobre as minhas escolhas, nem deixando
de reconhecer que já tive algumas crises de bronquite. Mas, daí a ser um
asmático é um exagero. Quando muito, uma pessoa influencionável, vaquinha de
presépio como diziam, ou um panguá como se diz hoje. O fato é que a gente, no
fundo, acredita naquilo que quer acreditar, às vezes até por preguiça.
Mas,
como é que eu faço pra viver minha infância agora? A rua em que a gente
brincava na lama foi asfaltada, no futebol já pendurei as chuteiras e a usina
de açúcar de Roça Grande fechou; então não tem mais cana pra roubar.
Pelo
menos, uma coisa posso fazer, e esta coisa é MUDAR O ADJETIVO. Saio correndo,
meu amigo já ia descendo ali em direção à ponte quebrada do antigo campo do
Mangueira, quando eu o chamo e grito, cá da esquina:
- Cara,
você entendeu mal: eu não era asmático; eu era fantástico. Era desse jeito que meus
pais me chamavam.
Ele
ficou meio assim sem saber se eu estava brincando, ou delirando. Sorriu e
continuou em direção à escadaria que antigamente levava ao Bar Turumbamba de
Angola. Fiquei todo satisfeito e voltei correndo para o quintal lá de casa: eu,
realmente, não fiz aquelas atividades todas, mas faço, ainda hoje, outras
tantas. Vivo, amo, escrevo e sonho. Acho que até eu próprio entendi mal; eu sou
mesmo é fantástico!
Mas,
como seguro morreu de velho, aconselho a todos vocês: fiquem espertos, e
cuidado com os adjetivos!
Crônica:
Jorge Marin
Foto : frame do filme Bubble Boy, disponível em http://allyouneedismovies.tumblr.com/post/10641192348/bubble-boy-2001
Como mudanças de ares permitem novas conexões que geram novas reflexões (e emoções)...
ResponderExcluirA rotina realmente entorpece os sentidos!
Recomendo frequentes visitas do amigo Jorge a São joão Nepomuceno para revigoramento dos pulmões e do espírito.
Os amigos e o blog lucrarão com este tratamento!
Brigadu, Sylvio! Mas a pessoa, quando envelhece, fica assim mesmo. Se não é um amigo passar na casa, pegar e levar, o ser fica ali paralisado. De qualquer forma, é bom reencontrar velhos fantasmas, pelo menos para rir deles. Como se diz no interior: "sombração véia num mete medo"!
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