quarta-feira, 30 de abril de 2014

RELEMBRANDO CAUSOS: Meu amigo o gambá


Numa das noites mais frias de 1988, ruídos estranhos na área de serviço de minha casa me fizeram levantar da cama assustado. Todos dormiam, enquanto eu, pensando em mil possibilidades, muito a contragosto, levantei-me e, enrolado num cobertor, fui verificar.

Caminhei silenciosamente até a janela, para então começar abri-la lentamente...  Desconfiado e receoso, enquanto ficava a olhar entre as gretas, a expectativa aumentava mais e mais. Até que... DE REPENTE, qual a minha inesperada surpresa? Um gambá! Isto mesmo, um gambá!
De uma prateleira da área de serviço, ficava a me encarar, enquanto num troca-troca de olhares, nenhum de nós dois se mexia. O negócio era esperar quem primeiro corria.

Minha esposa, não menos assustada e já em pé atrás de mim com uma vassoura, pedia que eu fosse lá fora pegá-lo. 
- É ruim! - disse eu - esse bicho está em extinção! Além do mais, todo animal silvestre, incluindo o gambá, é protegido pelo IBAMA. Acredito ser até mesmo uma “gamboa”, quem sabe até esperando filhotinho! O que devemos fazer, de imediato, é fechar tudo, deixar o bicho quieto lá fora, enquanto pensamos em alguma coisa.

E as pernas tremiam...  “De frio”.

Nesta altura do campeonato, meu filho já havia acordado e, todo entusiasmado, após aproximar-se de mim, foi logo tascando a mais indecorosa das ideias:
- Vai pai!... Vai pai!... Agarra ele depressa pra ser meu bichinho de estimação!!!  Insistentemente, pedia que eu fosse lá fora pegá-la, e pelo rabo, carinhosamente, o trouxesse para dentro de casa.
Minha filha, vendo a casa toda acesa, também levanta da cama assustada e começa perguntar:
-Pai! Esse bicho pega?  Passa por debaixo da porta?  É parente do rato? (Haja paciência nestas horas!)

Para variar, a única coisa que me restou naquele momento foi acionar, mais uma vez, dona ANASTÁCIA, senhora esta bastante esperta e que fazia companhia todas as noites pra minha mãe. Possuidora de um know-how fantástico, principalmente por ter morado vários anos no meio rural, era nossa guardiã e profunda conhecedora das causas peçonhentas.

De imediato, atendendo nosso SOS, foi logo chegando e, dando vassourada para tudo enquanto era lado, acertava tudo em sua frente, menos a coitada. Sem muito o que fazer, ficávamos assistindo ao show pela janela, e já numa tremenda dúvida pra quem estaríamos torcendo: ficávamos gritando olé, olé, toda vez que o bicho passava por debaixo da perna dela e se escondia.

Após um desses dribles, nosso intruso, subindo velozmente o galinheiro, passa pelo muro e no escuro, simplesmente desaparece. (CONTINUA)

Crônica: Serjão Missiaggia 
Foto: Flávio Cruvinel Brandão (disponível em https://www.flickr.com/photos/flaviocb/)

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