Numa das noites mais frias
de 1988, ruídos estranhos na área de serviço de minha casa me fizeram levantar
da cama assustado. Todos dormiam, enquanto eu, pensando em mil possibilidades,
muito a contragosto, levantei-me e, enrolado num cobertor, fui verificar.
Caminhei
silenciosamente até a janela, para então começar abri-la lentamente... Desconfiado e receoso, enquanto ficava a olhar
entre as gretas, a expectativa aumentava mais e mais. Até que... DE REPENTE, qual
a minha inesperada surpresa? Um gambá! Isto mesmo, um gambá!
De uma prateleira da
área de serviço, ficava a me encarar, enquanto num troca-troca de olhares,
nenhum de nós dois se mexia. O negócio era esperar quem primeiro corria.
Minha esposa, não
menos assustada e já em pé atrás de mim com uma vassoura, pedia que eu fosse lá
fora pegá-lo.
- É ruim! - disse eu
- esse bicho está em extinção! Além do mais, todo animal silvestre, incluindo o
gambá, é protegido pelo IBAMA. Acredito ser até mesmo uma
“gamboa”, quem sabe até esperando filhotinho! O que devemos fazer, de imediato,
é fechar tudo, deixar o bicho quieto lá fora, enquanto pensamos em alguma
coisa.
E as pernas tremiam...
“De frio”.
Nesta altura do
campeonato, meu filho já havia acordado e, todo entusiasmado, após aproximar-se
de mim, foi logo tascando a mais indecorosa das ideias:
- Vai pai!... Vai
pai!... Agarra ele depressa pra ser meu bichinho de estimação!!! Insistentemente, pedia que eu fosse lá fora
pegá-la, e pelo rabo, carinhosamente, o trouxesse para dentro de casa.
Minha filha, vendo a
casa toda acesa, também levanta da cama assustada e começa perguntar:
-Pai! Esse bicho
pega? Passa por debaixo da porta? É parente do rato? (Haja paciência nestas
horas!)
Para variar, a única
coisa que me restou naquele momento foi acionar, mais uma vez, dona ANASTÁCIA,
senhora esta bastante esperta e que fazia companhia todas as noites pra minha mãe.
Possuidora de um know-how fantástico, principalmente por ter morado vários anos
no meio rural, era nossa guardiã e profunda conhecedora das causas peçonhentas.
De imediato, atendendo
nosso SOS, foi logo chegando e, dando vassourada para tudo enquanto era lado,
acertava tudo em sua frente, menos a coitada. Sem muito o que fazer, ficávamos
assistindo ao show pela janela, e já numa tremenda dúvida pra quem estaríamos
torcendo: ficávamos gritando olé, olé, toda vez que o bicho passava por debaixo
da perna dela e se escondia.
Após um desses
dribles, nosso intruso, subindo velozmente o galinheiro, passa pelo muro e no
escuro, simplesmente desaparece. (CONTINUA)
Crônica: Serjão Missiaggia
Foto: Flávio Cruvinel Brandão (disponível em https://www.flickr.com/photos/flaviocb/)
Nenhum comentário:
Postar um comentário