Encontro
um colega de trabalho que eu não via há algum tempo. Ele me informa que se
submeteu a uma cirurgia de grande porte para a retirada de um câncer. Está
abatido, exibe a cicatriz... enorme.
Começamos
a discutir aqueles clichês que sempre surgem nesses momentos, principalmente
pela mística da doença e, entre as frases, surge uma constatação surpreendente:
- Acho
que estou assim porque Deus dá segundo o merecimento de cada um.
Meio questionador
e nem um pouco conformista, pergunto:
- Mas
por que um cara gente boa como você mereceria um câncer?
- Tenho
os meus defeitos – diz ele.
- Então
deveríamos ser uns sete bilhões de cancerosos – respondo.
Meu
colega pondera um pouco, reflete, está meio abatido. Já me arrependo de ter
começado esta discussão, e ele, num lampejo, diz:
- Devo
ter feito muitas coisas ruins nas vidas passadas: é o carma.
- E,
certamente, muitas coisas boas também – digo, mas não contesto nada, e entendo
que é o momento de desejar força, saúde, e assim faço.
Ele se
vai. Fico com meus pensamentos. Sempre ouvia, quando criança, as pessoas
falando de céu e inferno. Agora meu colega se diz convencido que a origem de
sua doença é... o carma.
Sabem,
francamente, o que é que eu acho disso tudo? Nada! Eu não acho nada...
Crônica:
Jorge Marin
Foto: Roberto Carlos Pecino Martinez, disponível em https://www.flickr.com/photos/robertopecino/
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