sexta-feira, 2 de maio de 2014

EXPLICANDO A DOR


Encontro um colega de trabalho que eu não via há algum tempo. Ele me informa que se submeteu a uma cirurgia de grande porte para a retirada de um câncer. Está abatido, exibe a cicatriz... enorme.

Começamos a discutir aqueles clichês que sempre surgem nesses momentos, principalmente pela mística da doença e, entre as frases, surge uma constatação surpreendente:
- Acho que estou assim porque Deus dá segundo o merecimento de cada um.
Meio questionador e nem um pouco conformista, pergunto:
- Mas por que um cara gente boa como você mereceria um câncer?
- Tenho os meus defeitos – diz ele.
- Então deveríamos ser uns sete bilhões de cancerosos – respondo.

Meu colega pondera um pouco, reflete, está meio abatido. Já me arrependo de ter começado esta discussão, e ele, num lampejo, diz:
- Devo ter feito muitas coisas ruins nas vidas passadas: é o carma.
- E, certamente, muitas coisas boas também – digo, mas não contesto nada, e entendo que é o momento de desejar força, saúde, e assim faço.

Ele se vai. Fico com meus pensamentos. Sempre ouvia, quando criança, as pessoas falando de céu e inferno. Agora meu colega se diz convencido que a origem de sua doença é...  o carma.

Sabem, francamente, o que é que eu acho disso tudo? Nada! Eu não acho nada...

Crônica: Jorge Marin
Foto: Roberto Carlos Pecino Martinez, disponível em https://www.flickr.com/photos/robertopecino/ 

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