Família
reunida na Semana Santa e, em meio a tantos assuntos postos em dia, surge a
questão do PERDÃO. Ah, eu perdoo, mas não esqueço – diz um. Ah, eu até esqueço,
mas não perdoo jamais – diz a outra.
Eu,
quietinho no meu canto (vejam se é possível, numa reunião de família de
italianos!), cheguei a uma conclusão na qual jamais havia pensado antes: PERDÃO
NÃO PRESTA! E justifiquei: para você PEDIR perdão, implica, em primeiro lugar,
que você fez alguma coisa ruim para a pessoa a quem está pedindo, e,
principalmente, que aquela pessoa tem alguma relevância na sua vida para você
se sujeitar a pedir perdão.
Quando
é você que resolve conceder o perdão, aí é que a coisa é pior: não só você,
numa posição superior, resolve conceder àquele pobre mortal que te agrediu o
direito de continuar convivendo com você, como o seu perdão adquire um gesto de
magnanimidade, assim como a dizer: vejam como sou melhor que essa pobre
criatura agressora!
Ah, mas
se for assim então estamos fritos – diz uma cunhada, pois, como pedimos todos
os dias a Deus “perdoe as nossas ofensas, assim como perdoamos a quem nos tem
ofendido”, se não perdoamos, então Deus também nos perdoará. E é aí é que está a coisa, concluo: nós não
perdoamos justamente porque não somos Deus, e Deus perdoa justamente porque é
Deus.
Confuso?
Não, a coisa é muito clara: quando alguém nos agride, temos dois tipos de
resposta possíveis: ou revidar a agressão ou esquecer. Lembro que, quando
menino, me treinaram para que, numa compreensão literal do Evangelho, oferecesse
a outra face. Numa discussão no primeiro ano do Ginásio do Sôbi, recebi um tapa
na cara, dado por um colega mais forte. Imediatamente, ofereci a outra face.
Mas o fiz com tal ódio, do agressor e de quem me ensinou aquele ato, que melhor
seria ter dado um tiro no sujeito. Jamais esqueci.
Porém,
esquecer eu já acho possível, e até mesmo plausível. Porque “perdoar” e guardar
aquela agressão na prateleira da memória para, num momento oportuno, “jogar na
cara” do agressor, é o mesmo que revidar. Repito: perdoar não presta!
Então,
desculpem-me se estou sendo muito agressivo, mas, por favor, não me perdoem!
Crônica:
Jorge Marin
Foto: Craig Sunter, disponível em https://www.flickr.com/photos/16210667@N02/.
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