sexta-feira, 25 de abril de 2014

PERDOO PORQUE TE ODEIO


Família reunida na Semana Santa e, em meio a tantos assuntos postos em dia, surge a questão do PERDÃO. Ah, eu perdoo, mas não esqueço – diz um. Ah, eu até esqueço, mas não perdoo jamais – diz a outra.

Eu, quietinho no meu canto (vejam se é possível, numa reunião de família de italianos!), cheguei a uma conclusão na qual jamais havia pensado antes: PERDÃO NÃO PRESTA! E justifiquei: para você PEDIR perdão, implica, em primeiro lugar, que você fez alguma coisa ruim para a pessoa a quem está pedindo, e, principalmente, que aquela pessoa tem alguma relevância na sua vida para você se sujeitar a pedir perdão.

Quando é você que resolve conceder o perdão, aí é que a coisa é pior: não só você, numa posição superior, resolve conceder àquele pobre mortal que te agrediu o direito de continuar convivendo com você, como o seu perdão adquire um gesto de magnanimidade, assim como a dizer: vejam como sou melhor que essa pobre criatura agressora!

Ah, mas se for assim então estamos fritos – diz uma cunhada, pois, como pedimos todos os dias a Deus “perdoe as nossas ofensas, assim como perdoamos a quem nos tem ofendido”, se não perdoamos, então Deus também nos perdoará.  E é aí é que está a coisa, concluo: nós não perdoamos justamente porque não somos Deus, e Deus perdoa justamente porque é Deus.

Confuso? Não, a coisa é muito clara: quando alguém nos agride, temos dois tipos de resposta possíveis: ou revidar a agressão ou esquecer. Lembro que, quando menino, me treinaram para que, numa compreensão literal do Evangelho, oferecesse a outra face. Numa discussão no primeiro ano do Ginásio do Sôbi, recebi um tapa na cara, dado por um colega mais forte. Imediatamente, ofereci a outra face. Mas o fiz com tal ódio, do agressor e de quem me ensinou aquele ato, que melhor seria ter dado um tiro no sujeito. Jamais esqueci.

Porém, esquecer eu já acho possível, e até mesmo plausível. Porque “perdoar” e guardar aquela agressão na prateleira da memória para, num momento oportuno, “jogar na cara” do agressor, é o mesmo que revidar. Repito: perdoar não presta!

Então, desculpem-me se estou sendo muito agressivo, mas, por favor, não me perdoem!


Crônica: Jorge Marin
Foto: Craig Sunter, disponível em https://www.flickr.com/photos/16210667@N02/.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

BRIGADU, GENTE!

BRIGADU, GENTE!
VOLTEM SEMPRE, ESTAMOS ESPERANDO... NO MURINHO DO ADIL