Dia desses, um simpático e não menos assustado senhor,
aparentando algo em torno de seus entas e poucos anos, ao adentrar sorrateiramente
com sua pequena bengala na mesma locadora em que eu estava e se posicionar bem
ao meu lado no balcão, ficou aguardando ser atendido.
De orelhas apimentadas, semblante tenso e suor
escorrendo em quantidade pela testa, parecia carregar sobre os ombros uma
generosa sensação de vergonha ou sentimento de culpa.
Já um tanto ressabiado, principalmente pela incômoda sensação
de demora devido ao grande número de pessoas que se encontrava no local,
olhando cabisbaixo para um lado e para o outro, dirigiu-se para os fundos da
loja e começou a vasculhar aquela infinidade de filmes expostos nas
prateleiras.
Numa busca incessante por inexistentes raridades
infantis, bíblicas e ecológicas, após algumas negativas do funcionário em razão
de não estar localizando ou mesmo por não conhecer nenhuma delas, deixou
repousar a boina sobre os olhos e, um tanto ofegante, sussurrou baixinho:
- Traga-me então, um daqueles mais apimentados!
- Tem preferência, meu senhor?
- O primeiro que você pegar, e o mais rápido que
puder! - de imediato respondeu.
A seguir, pisando como uma pluma, se é que podemos
dizer que pluma anda, e sem mexer um único músculo do pescoço, lá se foi nosso
enigmático romântico e quase centenário sedutor virando a esquina , ou seja, da
mesma forma discreta que surgiu simplesmente, desapareceu.
Achei apenas bem mais eufórico do que quando chegou.
Crônica: Serjão Missiaggia (jan. 2006).
Foto: disponível em http://www.scenicreflections.com/media/423885/dirty_old_man!_Wallpaper/
Danadinho este senhor!
ResponderExcluirÉ de uma geração que até a libido tem classe!
E esse é um tema histórico sobre o qual pouco se estudou, Sylvio: a liberação dos filmes proibidos. Para quem teve que assistir Laranja Mecânica, do Kubrick, com umas bolinhas pretas como tapa-sexo, essa abertura (literal) foi um fenômeno político-cultural.
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