Escravos do Facebook (ou viciados?), lemos,
todos os dias, os mais variados DISCURSOS, e é impressionante a diversidade de
crenças, pensamentos, gostos e tendências.
Pode ser, até certo ponto, salutar.
Porém, algo me assusta: são aquelas pessoas com certezas absolutas, com
receitas infalíveis e parâmetros de vida a serem imitados.
Aprendemos que o ser humano, para se
comunicar, e até mesmo para existir, precisa de um OUTRO, a quem expressar suas
palavras, suas articulações e as suas ideias.
Embora possa parecer uma coisa muito simples, igual àquela fórmula do “fala
que eu te escuto”, a comunicação humana é uma atividade muito complexa, que PODE
envolver sofisticadas relações de poder, SE o ouvinte não reconhecer a sua
importância no processo, e ACEITAR o discurso que lhe é ditado, ou comandado.
Isso ocorre na política, onde o termo “discurso”
é mais empregado, mas é mais comum nas relações de trabalho, ou familiares, ou
religiosas.
Na família, até o começo dos anos 90 mais ou
menos, o discurso era claro. O pai
dizia: NÃO PODE! E não podia mesmo...
Ele próprio seguia uma lógica, também clara, imposta pelo sistema que, de certa
forma (autoritária) tutelava os cidadãos e fazia com que o interesse do Estado
prevalecesse SEMPRE.
Durante os anos 90 e virada do século, esses
preceitos começaram a ser questionados e os filhos nascidos naquela época já
experimentaram uma outra postura paterna, supostamente mais democrática,
compartilhada e tolerante. Digo “supostamente”
pois, na verdade, o que tem acontecido, na prática, é que, sob a pretensão de
não repetirem os seus próprios pais, de não serem repressores, de não serem
autoritários, os pais atuais, muitas vezes, aproveitam para... não fazer nada!
A criança faz pirraça. Eu não posso dar uma palmada. Logo: saio para tomar uma cerveja! Quando eu voltar, a mãe, ou um genérico, dá
um jeito: a criança dorme, e eu durmo.
Tranquilo.
Assim, se, antes, eu acatava o discurso do
sistema e repetia que, se a coisa não andasse de acordo com a lei, o “couro” ia
comer, agora, com a abertura democrática, e a exemplo dos novos governantes,
aprendo a sábia lição da omissão.
Logicamente que os filhos, à medida que vão crescendo, também incorporam
a ideologia do “tô nem aí” e, felizmente, os pais são os primeiros a sentir o
efeito disso. Infelizmente, a sociedade
vem em seguida...
A forma como as pessoas acatam, introjetam e
multiplicam os discursos vai determinar o curso de suas vidas, suas escolhas e
suas neuroses.
Na semana que vem, mais discursos que,
espero, vocês questionem e não acatem!
Crônica:
Jorge Marin
Foto: Svenimal,disponível
em: http://browse.deviantart.com/photography/?q=big+brother#/d429i6m
Não é somente a falta de liberdade que é ruim. O excesso de liberdade, quando acompanhado de falta de noção, também se torna pernicioso para quem pratica e quem o cerca.
ResponderExcluirOs papéis antes eram bem definidos: mãe dava apoio e pai dava limites. Ambos podiam e deviam ser amorosos, mas as funções eram claras, e por isso cada um desempenhava o que lhe cabia sem demoras ou dramas existenciais desnecessários. Esse sistema funcionou eficientemente por séculos e no início do século XXI está em transformação. Penso que os atuais resultados das funções “flex” não estão muito satisfatórios, mas como sociedade estamos em fase de testes e ajustes. Uma coisa para mim é certa: jogo sem regras termina sem vencedores.
Se todos acharem que podem fazer o que quiserem, da forma e quando quiserem, não teremos líderes, teremos ditadores. Como bem disse o texto, se todos resolverem falar sem ninguém para acatar, a convivência vai ficar um tanto quanto caótica e improdutiva.
Imaginem o resultado de um time de futebol onde os jogadores fazem o que der na cabeça ao invés de desempenharem sua função: o goleiro sai correndo para marcar gol, os atacantes ficam na defesa, ninguém no meio de campo e por aí vai...
Quanto mais velho fico, mais percebo e admiro a eficiência do óbvio e do simples. Viver em equipe é mais fácil do que sozinho e, em equipe, se houverem funções definidas, evita-se desgastes e perdas de tempo desnecessárias. Funções e limites definidos podem ser chatos e/ou desagradáveis, mas são úteis e facilitam o convívio social.
As funções paterna e materna têm que ser exercidas, seja por qual sexo for. Se forem desempenhadas pelas pessoas óbvias, de modo óbvio, as coisas ficam mais fáceis.
O problema, Sylvio, é que, para atender aos modernos pressupostos de igualdade, todos querem ditar as regras (o discurso) e acaba que ninguém ouve.
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