sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

MEMÓRIAS DA SANTA FÉ: 2 - À noite, todas as rãs são pardas


NA SEMANA PASSADA, depois da longa travessia do Campo de Aviação, descíamos pelo pasto e chegávamos à Fazenda Santa Fé...

Brincávamos o dia inteiro, subindo naquela montanha de palha de arroz pra depois tomar um delicioso banho de bica. O negócio era tentar tirar do corpo aquela coceira infernal. Ficávamos tão desesperados com ela, que nos arranhávamos todos, na tentativa de coçar. E como fazer parar cessar os espirros? Aquela poeira recheada de ácaros só faltava nos matar.
Eu ficava fascinado com a quantidade de garnizés que existiam na fazenda. Eram muitos e de cores e tamanhos variados, que ficavam a brotar a todo instante por detrás de algum arbusto. Nunca mais vi coisa igual. Na época cheguei a ganhar um lindo casalzinho do Tio Gaby e confesso que foi inesquecível.

Lugar relaxante e de muita paz, embalado ao som compassado do velho Carneiro d’água, que ficava a bater ao longe sem cessar. Esse som, juntamente com o cantar das aves, preenchia o silencio do lugar dando um tom todo especial e acolhedor.

Diferentemente de nós, na época crianças, tio Gaby tinha toda uma preocupação ecológica. Não se podia entrar na fazenda com atiradeira, espingardinha de chumbo, alçapão ou outro artefato que viesse colocar em perigo os animais. Mas, infelizmente, vez ou outra, sem que o tio percebesse, isso inevitavelmente acontecia. E como aprendemos com tudo isso!

Certa vez, fomos eu e mais dois primos caçar rã à noite na fazenda. De antemão sabíamos que o tio não gostava, mas, como era bem tarde da noite e iríamos passar pelo campo de aviação, resolvemos mesmo temerosos, seguir em frente. Assim, após descermos com nossas lanternas pelo pasto e entrarmos na fazenda, conseguimos fazer uma boa caçada. Jamais imaginávamos que pudesse ser tão fácil... Puro engano! Qual não teria sido nossa surpresa, após subirmos o pasto de volta, com aquele saco cheio de rã?  Ao chegarmos novamente ao campo de aviação, simplesmente, nos deparamos com um veiculo Rural Willys azul e branco que, de faróis acesos em nossos rostos, estava de tocaia nos aguardando há horas. Ficamos sabendo posteriormente que estávamos sendo monitorados desde o começo da aventura. Alguns “puxões de orelha” e ainda pegaríamos uma carona com o tio até o centro.

NA SEMANA QUE VEM: os vizinhos e a hospitalidade da roça.  Imperdível!

Crônica: Serjão Missiaggia

4 comentários:

  1. Vocês não contavam com a astúcia do tio Gaby,não é mesmo.Bem feito!KKKKKKKKKKKKKKKK!...

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  2. É isso mesmo, Nilson. E o pior é que ninguém tinha paciência conosco!!!

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  3. Coitadinhos, eram tão quietinhos...
    Mas tudo isto que falou da fazenda está também na minha memória de criança. Imagine que maravilha então não era na época em que tia Déa
    morava lá? Aquele recanto era lindo...
    Lembro-me do carneiro mencionado , dos pés de jabuticaba e eugênia, dos patinhos, dos bezerros, cachorrinhos recém nascidos, charrete, balanço azul e até da palha de arroz.
    Mika

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  4. Você falando dessa forma, Mika, parece que todos foram personagens de algum livro. De Graciliano Ramos?

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BRIGADU, GENTE!

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