quarta-feira, 8 de agosto de 2012

ELEIÇÕES 2012: A CIGARRA E A FORMIGA

Arte digital por Kate Abask5

Estava a Formiga, tranquilinha, refestelada no sofá, curtindo as Olímpiadas de Londres.  Assistir àquilo tudo, ainda mais depois da eliminação do time da xará no futebol feminino, ficou meio tedioso, pois as provas não tinham muita emoção: levantamento de folha, 100 centímetros rasos em poça dágua, e arremesso de pólen.  Dava uma tremenda vontade de cochilar e foi o que ela fez para curtir o final das férias... ATÉ QUE... TOC TOC TOC.  Alguém bateu na porta.  Quem seria o chato para me interromper, pensava Formiga e, de pantufas e roupão, foi até a porta.
Quase teve um ataque cardíaco!  Sabem quem estava lá do lado de fora, como se não fosse inverno?  Ela mesma: a Cigarra, com um casacão tipo Matrix e um charuto na boca.  A Formiga, como todos sabem, não dá muita trela para a Cigarra e a recebeu de pé mesmo, na porta.  Mas a Cigarra estava só de passagem, para entregar um santinho de uma candidata do PT (Partido das Tecelãs).  Papo vai, papo vem, e a Cigarra falou que passou uns perrengues quando o inverno começou, mas, seguindo sua vocação para a oratória e para a música (vagabundagem, pensou a Formiga), resolveu fazer uns jingles para tocar nos carros de som de candidatos às eleições e acabou por fazer a campanha toda.
A Formiga não podia acreditar naquilo: a vida inteira, ela deu um duro danado, trabalhando de sol a sol, carregando pesados fardos, enquanto a Cigarra ficava só na boa vida, cantando, tomando chope ou só no Facebook colocando fotinhas de flores, essas coisas.  Agora ela, Formiga, já com quase oito semanas de vida, bem coroa, tinha que aguentar aquela inútil ali, na sua porta, bem vestida, cheia da grana e, pior, fazendo propaganda política para o partido das formigas, o Partido das Tecelãs.
- Como é que uma cigarra consegue fazer campanha para uma formiga? – perguntou a Formiga, indignada.
- Relaxa, Form (ela detestava que a Cigarra a chamasse assim).  Até o presidente do seu partido, o Presidente Pupa, fez um pacto político com o líder dos gafanhotos! 
A Formiga ficou vermelha de raiva, mas teve que escutar aquela conversa fiada caladinha, sobre tudo ser no interesse do eusocial, sobre a importância dos pactos, sobre as cotas para tanajuras, sobre a lei de proteção às formigas assexuadas da Amazônia.  Enfim, política...
A Cigarra foi embora cantando uma daquelas musiquinhas irritantes, mas em cima dos seus sapatos importados:
- Quem diria – suspirou a Formiga – de La Fontaine a Louboutin!  Que progresso...
Naquela noite, a Formiga não dormiu.  Sempre aprendeu que, para ser boa cidadã, deveria trabalhar, e trabalhar, e trabalhar.  Quando o inverno chegasse, ela ficaria tranquila, enquanto aqueles insetos preguiçosos, como a Cigarra, iriam morrer de frio.  Mas, percebia agora, a coisa não era bem assim: havia altos impostos, a Cigarra não precisava mais de empréstimos, e ela própria, a Formiga, estava usando quase todo o limite do seu cheque especial.
Lá pelas três da manhã, resolveu tomar um Lexotan e apagou.  No dia seguinte, bem cedinho, acordou, olhou no espelho, tomou um banho, passou no banco e viu quanto tinha de saldo.  Foi até uma loja em frente, chamou o atendente e, baixinho, perguntou:
- Aqui, quanto custa uma viola?

(Fábula: Jorge Marin)

2 comentários:

  1. Um clássico conto infantil adaptado para o século XXI e/ou para a meia idade.
    Êta inteligência porreta essa do compadre Jorge.
    Parabéns pela ótima estória, com uma moral leve e útil.

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  2. Jorge, sua paródia ficou muito boa e de alto nível.
    Leitura agradável do princípio ao fim.Excelente.
    Mika

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