quarta-feira, 30 de maio de 2012

AS GATAS DA FAZENDA


Frame do filme Para Wong Foo, obrigada por tudo, Julie Newmar! 

Gente, envelheci!  E foi de repente, assim como quando saímos na rua, de terno (isso já aconteceu comigo) e, de uma construção, cai uma lata de cal na nossa cabeça.  Mas a minha constatação não foi pelos raros cabelos brancos: a velhice súbita ocorreu numa área que a maioria das pessoas prefere nem tocar no assunto, foi na sexualidade.
E aconteceu ontem.  Vejam só: estava eu, com a família, assistindo à estreia do reality show A Fazenda e o apresentador anunciou que, dali a pouco, seriam conhecidas as gatas do show.  Velho assanhado, fiz aquele comentário hipócrita (“vamos ver essa pouca vergonha”) e arregalei os zoião, não sem antes dar aquela limpada semanal nas lentes.
Aí, apareceu a primeira “gata”, a câmera mostrou um sapato de salto bem alto (deve ser para não atolar na lama, pensei) e foi, sensualmente, subindo pelas pernas da tal modelo ou sei lá o quê.  Cara, a mulher devia ter uns 90 centímetros de coxa!  Mas, ao ver aqueles atributos, estranhamente, comecei a achar que era, na verdade, o Anderson Silva de minissaia, tal a quantidade de músculos.  Ou seja, a única coisa que senti ao ver aquele corpão foi um certo mal estar.  Pensei: bom, mas ainda vêm mais umas sete por aí.
A coisa continuou e, depois de uns cantores jovens (quando eu era jovem), veio outra “gatona”.  De longe, deu para ver que ela usava um shortinho bem curto.  Me animei por uns instantes, mas, quando a câmera deu um close, pensei: agora é o Minotauro, porque a coxa do Vítor Belfort é mais bonita. Decidi, então, dar mais uma chance e continuei assistindo.  Não querendo me enganar, olhei mais uma figura feminina com um certo desdém e, com conhecimento de causa, falei:
- Esse aí deve ser o tal travesti do qual falaram, né?
Minha mulher e minha comadre olharam pra mim com cara de poucos amigos e me detonaram:
- Essa aí é a Gretchen!  Não lembra mais?
- “Aquela” Gretchen? – ainda perguntei, mas não obtive resposta.
Quando, finalmente, surgiu uma lourinha que mais parecia uma fada: não era muito peituda, nem tinha coxas de lutador de UFC e, para minha surpresa, era a única que sabia caminhar de salto alto.  Meio reticente, perguntei para as minhas assessoras:
- Quem é essa moça, gente?  É alguma ex-atriz da Malhação?
Aí a indignação deu lugar à risaiada.  Meu filho explicou:
- Essa mocinha é o Léo Áquila, pai.  Não sabe mais a diferença?
Pirei.  Jamais podia imaginar que isso pudesse acontecer comigo um dia.  Porque, pior do que não poder ficar com uma mulher, é não reconhecer a feminilidade ou, quando reconhecer, tratar-se de outra coisa.
Abracei com força minha mulher e pedi:
- Por favor, gente, será que poderíamos assistir um filme antigo?  De repente, me deu vontade de assistir um filme com a Brigitte Bardot, Catherine Deneuve e até mesmo com a Bette Davis.
Agora, falando sério, será que foi a senilidade que caiu de repente, ou esse novo padrão feminino está um pouco schwarzenegger pro gosto masculino tradicional?

(Crônica: Jorge Marin)  

4 comentários:

  1. Meu caro, aliás, a essa altura do campeonato vou te promover a " CARÍSSSSSIMO" AMIGO JORGE. A vida passa , o tempo passa e as pessoas "MAIS NOVAS" ( como ainda NÃO PASSARAM, não entendem. Quando somos novos, garot ões(onas) não passa pela cabeça da "GENTEM" que um dia..... . Teremos que :
    deixar de fumar, deixar de beber, deixar disso, deixar daquilo , deixar de ... não falo, juro que não falo.... O que eu sei é que seja lá por que for, temos que ir deixando de fazer várias coisas, de participar de outras coisas e por aí vai. MMMMMAAAAASSSSSS...... quando nos metemos em situações que nos deixam constrangidos , rsrsrsrs AÍ É FFFFFOOOOODDDDAAA. Ver os outros RINDO da gente, é FFFFFOOOOODDDAAA. MAZOLA

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    1. Mas a questão aqui, Mazola, é: o que é que é ridículo, a percepção da realidade, ou a própria realidade?

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  2. Bom ler este depoimento sincero e corajoso. Por coincidência (ou não, como diz o filósofo Caetano Veloso), tenho reparado e pensado sobre o exagero e masculinização do corpo feminino na mídia, nos últimos tempos.
    Antes a mulher, para estar em paz com a mídia (e consigo mesma por tabela) precisava ter cintura fina e longos cabelos lisos (ou alisados); depois acrescentou-se a obrigação de grandes seios (e dá-lhe silicone!); passa mais um tempo vem a “necessidade” de lábios carnudos (e dá-lhe preenchimento). Agora os gênios da mídia resolveram que mulher também tem que ter as coxas com a grossura das pernas do incrível Hulk (o verde, para não deixar dúvidas).
    Para virar praticamente um homem, só faltam dois passos: no verão que vem as mulheres precisarão ter os braços musculosos para serem sensuais para as câmaras da televisão e dos jornais. No fim do ano que vem lança-se a última etapa: gostosa é a mulher com cabelo curto.
    Pronto! Virarão homens com vagina.
    A moda é feita de ciclos que se negam. Quando os incógnitos arquitetos da opinião pública resolverem que a tendência para as mulheres terá que ser de um tipo mais frágil e delicado, as “parrudas” não poderão deixar o corpo no armário ou jogá-lo fora, como fazem com suas roupas. Provavelmente haverá mais uma corrida às clínicas para a retirada geral dos acessórios, com mais mortes por falta de competência médica e excesso de vaidade feminina.
    Outra coisa que dá uma boa reflexão é o que se considera acessório e fundamental na existência feminina. Se antes os acessórios eram externos, como bolsas e brincos, migraram para a intimidade do corpo, como piercings no nariz, umbigo vagina e sabe-se lá onde, até tornarem-se internos, em silicones e preenchimentos labiais, faciais e outros mais.
    Acredito que este estranhamento do corpo feminino se deva ao fato da feminilidade (para a mídia) ter deixado de ser uma atitude e passar a ser meramente um conjunto de atributos físicos (com constantes upgrades de nível, como tudo no século XXI). Exemplo disso são as paniquetes (Programa Pânico), que metamorfoseiam seus corpos em clínicas e academias descaradamente para atender as tendências da mídia, mesmo que para isso tenham que também se sujeitar a situações mais humilhantes e desconfortáveis do que militares em treinamento.
    Ainda bem que sou homem, e não preciso mudar meu corpo a cada verão para agradar a opinião pública, que com o tempo se torna a opinião íntima.

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    1. Bom mesmo, Sylvio, era quando a mulher causava o desejo. Hoje, tendo a mesma se CONVERTIDO NO OBJETO, é como se fosse um BigMac. Com os seus atrativos, certamente, mas...

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BRIGADU, GENTE!

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