Foto publicada no Facebook (Mural de Ivan K. Ferreira)
Tenho vivido com a nítida sensação de que tudo vai aos poucos se desfazendo.
Como se um imenso e mágico cenário que teria sido montado no palco de
nossa infância e juventude fosse sorrateiramente sendo desmontado.
Desmontado a cada árvore que morre ou que é sacrificada,
Desmontado quando um ente querido vai embora,
Desmontado a cada casarão que tomba ou que é jogado ao chão,
Desmontado numa nascente que seca,
Desmontado naquele espaço que vira concreto,
Desmontado no puro ar que vai aos poucos se transformando em poluição,
Desmontado a cada amigo que parte, levando de nós um pedacinho da
canção.
E tudo vai se desfazendo.
As luzes se apagando,
As cortinas se fechando,
Até que, um belo dia,
Tenhamos que também sair de cena.
Mas, quem verá a cena do que já não somos?
Quem lerá os pergaminhos deixados nas gavetas
As partituras inacabadas
As telas semipintadas?
Aonde a arte sem a carne
O verbo sem a fala
E a lira sem o dedo?
Um medo.
Um nada que apaga
E, no entanto,
Mesmo num vale sem luz
Ou na desconstrução das realidades
Fica, sempre e sempre, um acordo
A corda um acorde
Um solo de plenitude
Esta atitude de crer reler reapresentar.
Paulinho, vá com Deus!
Não é você que vive
Mas isto vive em você:
A arte
Lembrar-te
Celebrar-te
Eternizar-te.
(Poesia: Serjão Missiaggia / Jorge Marin)
Muito bom... Parabéns aos poetas e amigos que tão bem escreveram. Emocionante !
ResponderExcluirQuando escrevemos, a sensação foi a mesma de quando a banda tocava e vinha alguém e dizia: "vamos caprichar pessoal, porque o Cricri está na plateia". Quando não era ele a fazer a coisa bem feita, era um convite para que se fizesse.
ResponderExcluir