quarta-feira, 28 de março de 2012

NA CHUVA, NATURALMENTE...

Foto por Shamsa Rachid

Como uma das propostas do blog é relembrar, criamos a série “Releituras”, que acaba sendo a relembrança da relembrança, e cujo propósito é reapresentar velhas estórias já contadas aos novos visitantes, mas também lembrar detalhes não contados na época da relembrança original.
Bom, mas o assunto aqui não é a relembrança em si, o déjà vu, mas aquele dilema da “vida imita a arte”. Alguns dizem que a vida limita a arte, isso sim! Pois bem, agora há pouco, depois de deixar meu filho na escola, volto a pé para casa e começa a chover. Como nesta cidade de Juiz de Fora, como em muitas outras, os táxis somem nessas horas, vou caminhando pela chuva mesmo. Penso: engraçado, parece que já passei por isso antes. Chego em casa, ensopado, vou ao computador, abro os arquivos do Blog e, há dois anos atrás, no mesmo mês de março, lá está:
Acontece de chover quando acabo de deixar meu filho na escola. A pé, só me resta abrir o surrado guarda-chuva e fazer o caminho de volta para casa, debaixo daquilo que nossos pais chamavam de “toró”.
Eis que a história se repete. Com algumas diferenças: o guarda-chuva, aquele mesmo, estava tão ruinzinho, com umas emendas de arame que eu, bom obsessivo, fiz nele, que preferi deixá-lo em casa, com vergonha de exibi-lo na rua. Comprei um novo, é verdade, mas esqueci no táxi, também num dia de chuva.
Andando tranquilamente debaixo da chuva, com o boné protegendo as lentes dos óculos, penso que andar na chuva, afinal de contas, é uma coisa bem natural. No caminho, vou cruzando com pessoas com sombrinhas quebradas, estudantes com aquelas enormes pastas sobre as cabeças e ônibus lotados jogando água pra todo lado.
Fossem quinhentos e doze anos antes, possivelmente eu estaria caminhando sob a chuva, do mesmo jeito, talvez sem boné e sem óculos, porém junto a uma multidão de pelados, sem lenço nem documento, ou, como diria meu pai, sem lenço e mostrando os documentos. Mas, todos vivendo uma vida natural e bem menos estressados.
Quando eu falo em vida natural, não quero dizer, como se pensa hoje, comer granola e quinua, praticar rapel e fazer ecoturismo. Parece que até o ato de “ser natural” vem perdendo a naturalidade. Ao sentir-me natural, não me refiro ao fato de caminhar com umas gotas de água caindo sobre a cabeça. Se assim fosse, bastaria contratar um cara mais alto pra andar do lado, com um regador na mão, jogando água na gente: um personal rainer!
Não. Como cria dos anos 60, sou essencialmente “paz e amor” e acredito que natural é ser como o criador, seja qual for, nos criou: felizes, sociáveis e pacíficos. Por mais que insistam que, para sobreviver, temos que ser competitivos, acredito que a nossa essência, aquela centelha que nos anima, ou seja, aquilo que somos de verdade, é plena. A coisa só complica quando começamos a comparar isso QUE É com o que pensamos que seja, ou, pior, com o que queremos que os outros pensem que seja. Aí, já era...
Fica aí, então, o conselho: não me ouçam!
A chuva parou, mas o sol não veio. E a vida, ainda mais agora sem o Chico e o Millôr, está definitivamente um pouco mais triste...

(Crônica: Jorge Marin)

Um comentário:

  1. Que a chuva continue regando momentos como esse, que frutificam boas ideias e terminam numa saborosa postagem.

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