Arte digital por Kadri Umbleja
Feliz, vou buscar o meu filho na escola, e me perguntam: por que esta cara ótima? Se estivesse triste, perguntariam: por que esta cara feia? Mas, como estou feliz, não vou complicar as coisas, e vou dizendo logo que é porque, aos 53 anos, consegui a “proeza” de nadar sem a pranchinha. A mãe de uma aluna comenta: é, tem algumas coisas que a gente deve fazer quando novo. E lascou uma pergunta impertinente: por que é que você resolveu nadar só agora? “Só agora” deve significar “depois de velho”. Respondo, na lata: é porque resolvi mudar meu destino. Uai, mas eu pensei que destino a gente não muda, diz a horrível.
A esta altura, eu já havia colocado a tal mulher entre parênteses, e comecei a viajar nessa história de destino. Não sei bem porque foi que eu disse aquilo, mas pode ser que ela tenha razão, que a gente não possa mesmo mudar o destino. Mas, afinal, existe a tal coisa chamada destino?
Na Grécia antiga, as Moiras, três barangas de um olho só (um olho só para as três) determinavam o destino, tanto dos homens, quanto dos deuses: giravam um tear chamado Roda da Fortuna, para tecer o fio da vida de cada ser. Cloto tecia o fio, Láquesis determinava o tamanho e, finalmente, Átropos, crau... cortava o fio, e mandava o sujeito para o mundo dos mortos.
Aí, começo a acreditar nessa coisa de destino. Vamos raciocinar: como seres humanos, estamos destinados a morrer. Isto é certo, não dá para mudar. A boa notícia, que também não dá para mudar, é que estávamos destinados a nascer, porque estamos aqui. E aí muitos vão me questionar: nada disso, o que eu quero saber é se eu estou destinado a ganhar na mega-sena. Só que, neste caso específico, não se trata de destino, mas sim consequência de uma ação, porque, primeiramente, para ganhar você precisa jogar. Se estivesse escrevendo em inglês, diria que essa coisa de ficar milionário é fate, enquanto nascer e morrer são destiny. Talvez pudéssemos traduzir fate como “fado”.
Na psicanálise, falamos muito no mitológico Complexo de Édipo, e todo mundo comenta: ah, aquele cara que matou o pai e transou com a mãe? Mas a coisa é bem mais profunda do que esta supersimplificação: se formos pensar bem, Édipo é um exemplo claro de que, quanto mais tentamos mudar nosso destino, mais enrolados ficamos. Talvez a maioria não se lembre, ou se lembre só da novela Mandala, mas, quando Édipo nasceu, o pai dele, o rei de Tebas, Laio, consultou o oráculo de Delfos e ficou sabendo que a criança tinha um destino terrível: matar o pai e se casar com a mãe. Cruz credo, disse o rei, e mandou pendurar o bebê numa estaca para que morresse. No entanto, ele foi salvo por um pastor que o levou para Corinto, onde o pequeno foi adotado pelo rei Políbio. Por aí se vê que o garoto possuía mesmo um destino terrível, mas tinha um bom fado: nasceu filho de um rei e, condenado à morte, foi adotado por outro rei. Ali pelos dezoito anos, resolveu, ele mesmo, consultar seu destino no tal oráculo, e não deu outra: matar o pai e casar com a mãe. Assustado, e pensando que era filho de Políbio, resolveu, para proteger o pai, viajar. O resto todo mundo já sabe: sem saber, pois não o conhecia, acabou matando Laio no caminho, derrotando o monstro chamado Esfinge, na entrada de Tebas, e casando-se com quem? Com a rainha Jocasta que havia ficado viúva há pouco.
Sou obrigado a concordar com os psicanalistas, e entendo que, assim como o herói Édipo, carregamos traços estruturais, que vão determinar, com um alto grau de acerto, o nosso destino.
Será que eu deveria voltar a usar a pranchinha? Vejam na próxima semana.
(Crônica: Jorge Marin)
Claro que deve continuar a tentar nadar sem a pranchinha!... Vá em frente!
ResponderExcluirEu ganho de você em idade e estou com a cabeça fervilhando de sonhos ou planos. Não sei se conseguirei realizá-los, apesar de se tratar de coisas simples.Estou tentando. Mas, olhando para trás, pergunto-me: as coisas que agora desejo fazer fazem parte da minha estrutura e por motivos que, não sei ao certo explicar, em outras ocasiões não os deixei aflorar ou são sonhos novos que vão surgindo com o passar do tempo ? A referência mitologia das três fiandeiras tenta dar respostas a estas questões. Desde seu surgimento, essa representação ternária fascinou poetas e filósofos. AS Fiandeiras, ao longo dos tempos, serviram como musas para a literatura, para a pintura, a música e continuam a servir para o cinema. Freud rememora-nos os estreitos laços que unem Moiras, Graças e Horas, fundamentando-se aí para uma interpretação das escolhas que achamos difíceis de fazer.
Você deve conhecer o"Dicionário Literário de Mitos" - organização de Pierre Brunel. É muito bom.
Abraço,
Mika
Com certeza "SE FOR SEU DESTINO APRENDER A NADAR" continuará na tentativa de nadar sem a pranchinha.
ResponderExcluirMAASSSSSSSSS... " SE SEU DESTINO NÃO FOR APRENDER A NADAR " com certeza "alguma coisa"... (tchan! tchan! tchan! tchan! o que será ?)fará com que desista. Porém, Jorge, SE DEIXAR A PREGUIÇA DE LADO E PEGAR A PRANCHINHA, não foi o que despertou em você agora. Então !!! kkkkkkkkkkk
Um abraço . MAZOLA