sexta-feira, 24 de junho de 2011
TIRO DE GUERRA 04-151
Capítulo 7 - Seis homens e uma sandália (duas, na verdade)
Na semana passada, como devem estar lembrados era dia 1º de maio de 1976, e muita coisa estava acontecendo: Aldo Moro renunciava na Itália, o Brasil comemorava a inauguração do terceiro alto forno da CSN em Volta Redonda, mas, mais importante do que tudo isto, em São João Nepomuceno, na sede do Tiro de Guerra 04-151, quatro atiradores aguardavam a visita importante do Dr. José de Castro de Azevedo: 18, 12 e 15, fardados, e o 39, de farda e sandálias Havaianas, as legítimas (fique de olho na marca, lembram?).
O Sargento, como sempre fazia, levou primeiramente a visita até sua sala e ficou mostrando alguma coisa, fazendo algum comentário. Depois, convidou o ilustre juiz a ir até a sala de instrução. E surpreendeu-se com o que encontrou: os quatro atiradores fardados, porém, descalços; os quatro, de pé no chão! Eu conhecia o Dr. José de Azevedo, do meu trabalho no Banco Nacional, e o cumprimentei, explicando:
- Desculpe, doutor, mas, como o sol está bom hoje, resolvemos lavar todo o salão, e já estamos terminando.
O Sargento ainda olhou, desconfiado, para aquele tantinho de água com sabão jogado às pressas no chão, mas, como não queria nenhum vexame com a visita, falou:
- Tudo bem, 18, mas não se esqueçam que temos que baixar a bandeira mais tarde! – e retirou-se com o magistrado.
O 15 falou:
- Esta foi por pouco, 18. Que brilhante ideia esta de fingir que estávamos lavando a sala de instrução!
Sem prestar muita atenção, falei pro 39:
- Corre lá na sua casa, agora, e volta com seu coturno. E engraxado!
O 12 pediu para dar um pulinho em casa também, para assistir “Os Waltons”, mas era pura brincadeira. O 15 veio correndo, com a garrafinha do 39 na mão, e pediu para que ele trouxesse mais “café” porque tinha acabado, mas eu sabia bem do que era feito aquele café.
Estranhamente, daí para a tarde, a coisa transcorreu normal: o 39 voltou com o coturno, e com mais “café”, desta vez numa garrafona maior. O 24 veio por volta das 6 horas, com a corneta, recolhemos o Pavilhão Nacional e guardamos naquela caixinha com porta de vidro. Depois foram, o 24 e o Sargento, embora. E ficamos só nós, e a garrafa de café. Não precisa nem dizer que foi uma risaiada só. O 12 e o 15 já eram dois palhaços natos e, a cada bicada no “café” do 39, a coisa ficava mais engraçada.
Foi chegando a hora de dormir e fiz a escala do pessoal que ia ficar na guarita lá fora. Colocamos o 39, que estava bem pior do que todo mundo, na primeira escala porque, se ele dormisse, a gente ainda estaria acordado, e também porque sabíamos que, se ele apagasse, não ia ter força que o fizesse levantar.
Peguei as três colchas que não poderiam ser usadas EM HIPÓTESE ALGUMA, e coloquei, com todo carinho, em cima da mesinha do quarto, guardando-as com a minha própria vida. Luzes apagadas, fomos dormir.
Já era mais de uma da manhã, quando a tragédia aconteceu: uma briga, que teria começado no baile dos trabalhadores, na ESACA, veio descendo pela rua abaixo, com muita pancadaria e xingamentos, e veio parar... onde, onde, onde? Exatamente: em frente ao portão do nosso TG. O 12, que estava se preparando para render o 39, perguntou:
- Ô 18, os caras tão aprontando a maior confusão aí em frente. O que é que a gente faz?
- Gente, a bagunça é na rua. Acho que a Polícia é que tem que resolver porque, até agora, não é problema nosso. Vamos só ficar atentos!
Mal acabei de falar, PÁÁÁ, jogam um pedra na porta de entrada. Volta o 12, dizendo:
-Acho que acertaram o 39, porque ele está deitado lá no chão. O 15 pergunta:
- O que é que a gente faz,18?
Vejam, na próxima semana, “Feito nas colcha” (desse jeito, como o 13 falava). Não percam!
(Crônica: Jorge Marin / Ideia original: Serjão Missiaggia)
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